Friday, 15 September 2017

Antigo coreto da Avenida da Liberdade

D. Felicidade quis então saber as horas. Começava a enfastiar-se. Tinha esperado encontrar o Conselheiro; por ele, para lhe parecer bem, fizera o sacrifício de se apertar!
Acácio não vinha, os gases começavam a afrontá-la; e o despeito daquela ausência aumentava-lhe a tortura da digestão. Na sua cadeira, o corpo mole, ia seguindo a multidão que girava incessantemente, numa névoa empoeirada. 

Mas a música, no coreto, bateu de repente, alto, a grande ruído de cobres, os primeiros compassos impulsivos da marcha do Fausto. Aquilo reanimou-a.
Era pot-pourri da ópera — e não havia música de que gostasse mais. (Queiroz, 1878)


No projecto da Avenida da Liberdade (após demolição do Passeio Público) estavam contemplados novos equipamentos para o jardim, incluindo um novo coreto, criado por José Luís Monteiro e cuja construção foi iniciada no lado oriental da Avenida, no talhão situado entre a Rua dos Condes e o Largo da Anunciada, mas uma petição de Dezembro de 1885, de vários moradores da zona pediu a suspensão da sua construção naquele local, o que foi aceite em Comissão Executiva, a 13 de Fevereiro de 1886, que decidiu suspender os trabalhos, remover os materiais e guardá-los até ser designado novo local para o coreto. Apesar de não haver coreto na Avenida, existem referências de bandas tocarem entre a Praça dos Restauradores e a Rua das Pretas.
Mais tarde, possivelmente no lugar onde actuavam as bandas foi construído um (primeiro) coreto fixo de materiais pouco duráveis a pedido da Sociedade Promotora das Creches para a realização de uma quermesse em Setembro de 1886, coreto esse que a pedido dos moradores, foi mantido nesse local até 1894, ano de inauguração do coreto fixo (segundo).
A necessidade de um novo coreto na Avenida da Liberdade, devido ao estado de degradação do coreto provisório e o pedido dos moradores lisboetas tendo em vista a necessidade de manter a música neste local, fez com que a 19 de Maio de 1892 fosse retomado o projecto de coreto de José Luís Monteiro, mas agora noutro local, para a parte mais alta da Avenida, no talhão em frente à Rua Rosa Araújo.
O coreto fixo, inaugurado a 15 de Agosto de 1894, foi aí mantido até 1935, quando foi desmanchado para ser novamente reconstruido noutro local, o Jardim da Estrela, onde se mantêm até aos dias de hoje. A decisão de mudar este coreto de local deveu-se ao aumento da quantidade de tráfego, comércio e escritórios na Avenida da Liberdade, factores pouco convidativos para o ambiente musical e para atrair pessoas até ao coreto.

Avenida da Liberdade, coreto [c. 1894]
Este coreto situava-se defronte ao nº 232 no lado nascente da avenida, no quarteirão entre as ruas Barata Salgueiro e Alexandre Herculano. Foi transferido em 1935-36 para o Jardim da Estrela.
Chaves Cruz, in Lisboa de Antigamente

Inaugurado em 15 de Agosto de 1894, tocando, à noite, das oito às dez horas a banda de Infantaria 2, e sendo todo iluminado a luz eléctrica. Porém, não deu o melhor resultado porque se apagou muitas vezes, o que fez com que a música desse algumas fifias, por estar às escuras.
É um coreto em mármore e ferro, do risco de José Luís Monteiro, com sugestões indianas no desenho dos arcos e na cobertura. O interior desta apresenta um invulgar trabalho decorativo em madeira com liras, folhagem e monograma camarário. É o único coreto com duas escadas de acesso, em ferradura, que pela simetria da planta lhe conferem um maior equilíbrio no desenho.

Avenida da Liberdade, coreto [c. 1900]
Coreto da autoria de José Luís Monteiro, foi transferido em 1935 para o Jardim da Estrela.
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Na edição de 1831, do Dicionário da Língua Portuguesa de António de Morais Silva, a palavra coreto surge com o significado de «pequeno coro feito para alguma função». Enquanto em 1890 surge uma outra versão, emendada e acrescentada, que define o coreto da seguinte forma:
«Corèto», s. m. Côro pequeno. Especie de palanque, vistosamente ornamentado, destinado à música, e que se arma geralmente por occasião de festa publica, em arraiaes, etc..»

Antigo coreto da Avenida da Liberdade [1960-06-11]
Coreto da autoria de José Luís Monteiro, foi transferido para este Jardim da Estrela em 1935. 
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
QUEIROZ, Eça de, O Primo Basílio, 1878.

NUNES, Joana, O coreto na cidade de Lisboa, Faculdade de Belas Artes (FBA), Dissertações de Mestrado, 2012.
RELVAS, Eunice; BRAGA, Pedro Bebiano, Coretos em Lisboa: 1790-1990, p. 129, 1991.

2 comments:

  1. I feel like I’m continuously searching for fascinating things to find out about
    a variety of subjects, however I have the ability to include your
    blog amongst what i read each day since you have powerful entries that I look forward to.
    Hoping there are far more incredible material coming!

    ReplyDelete
  2. Thanks for the good blog. It was extremely helpful for me.
    Keep sharing such tips in the future as well.
    This was truly what I was looking for, and I'm glad to came here!
    Thanks for sharing the such information with us.

    ReplyDelete

Web Analytics