Sunday, 19 May 2019

Palácio de D. Braz da Silveira ou do Marquês das Minas

Agora vejamos para último elemento dêste passo — escreve Norberto de Araújo —, êsse velho Palácio da esquina da Travessa de D. Braz serventia rectificada há três anos [vd. N.B.], e com frente ao ângulo poente do jardim [9 de Abril]: é representativo da época de seiscentos, e tem ainda qualquer cousa de Lisboa velha.


Foi pertença de D. Brás da Silveira, da casa e família dos Marqueses das Minas; mais tarde, no século passado [XIX], veio à posse dos Viscondes de Tojal, aos quais, após um interregno em que pertenceu ao capitalista Quaresma, voltou à posse, que subsiste.
Estão nele instalados [em 1938] vários serviços públicos, da Direcção Geral dos Impostos, e em parte tem habitado, de há longos anos, o diplomata conselheiro Dr. Arenas de Lima.
Os altos deste palácio e dos prédios vizinhos, numa amálgama de planos, oferecem desde o alto do edifício novo do Museu [de Arte Antiga] curiosas perspectivas.
E agora te digo, Dilecto: e se descançássemos uns momentos?

Palácio de D. Braz da Silveira ou do Marquês das Minas [entre 1902 e 1908]
Rua Presidente Arriaga, 2-6, tornejando para a Travessa de D. Braz, n.º 1-7 e Rua do Olival, 21 
Observe-se a originalidade das chaminés, entretanto 
apeadas, quando foram acrescentadas as trapeiras.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

A cobertura do palácio foi bastante alterada por diversos usos. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de 2 águas, rasgadas por trapeiras. Possui dois corpos distintos: um na Rua Presidente Arriaga [antiga de S. Francisco de Paula (até 1920)], de dois pisos (onde se localiza o piso nobre) evidenciando traços da origem seiscentista, outro na Travessa de D. Braz, de quatro pisos, com características posteriores. Edifício ritmado por 13 janelas de sacada com guardas em ferro forjado, no piso nobre, ao longo da fachada marcada pela sucessão de 13 trapeiras (inicialmente era composto por 6 chaminés). 
O acesso ao interior é feito através de um átrio com tecto em estuque decorativo. No interior encontram-se azulejos de figura avulsa, do 2º quartel do séc. 18, na escadaria principal e azulejaria pombalina nos pisos superiores (antigos estúdios de gravação); sala no piso nobre com tecto setecentista em estuque estilo "rocaille" e azulejaria pombalina do 2º período; tecto brasonado na entrada, com armas dos Sousa do Prado e coroa de Marquês.

Palácio de D. Braz da Silveira ou do Marquês das Minas [1938]
Um aspecto do velho Palácio do Marquês das Minas, do lado da Travessa de D. Braz, às Janelas Verdes.  — Observe-se a originalidade dos telhados e das chaminés
Desenho de Martins Barata, in Peregrinações em Lisboa

N.B. O homenageado Dom Brás, da íngreme ruela, é Dom Brás Baltasar da Silveira, nascido a 3 de Fevereiro de 1674. Foi Senhor de S. Cosmado, na comarca de Lamego, Comendador de Ranhados, e teve as Comendas de seu pai, D. Luís Baltasar da Silveira, casado com Dona Luísa Bernarda de Lima, filha das 2." núpcias do 1.° Marquês das Minas, D. Francisco de Sousa, décimo neto de Afonso III, de Portugal.Dom Brás consorciou-se com Dona Joana Inês Vicência de Meneses, filha de Aleixo de Sousa da Silva, 2.° Conde de Santiago. Os linhagistas tecem loas a Dom Brás, que acompanhou seu avô, o Marquês das Minas, até à Catalunha, ficando prisioneiro em Almanza. Regressado a Portugal, foi Mestre de Campo e General dos Exércitos, e governou as armas da Beira.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VII, pp. 61-62, 1938.
monumentos.pt.
SANTOS,Domingos Maurício Gomes, Brotéria, p. 206, 1952.

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