Sunday 10 March 2019

Lojas de antanho: Armazéns de Eduardo Martins

Com as suas montras de larga projecção —  diz Mário Costa —  metem-se-nos pelos olhos os Armazéns de Eduardo Martins (fazendas e modas), que do lado da Rua Nova do Almada abrangem os números 103 a 115.


Estes armazéns, fundados em 1889, por Eduardo David Martins, e que hoje ocupam todo o prédio, foram de evolução lenta, tendo por norma seguir a espécie de negócio dos estabelecimentos que tomavam. Começaram pelos números 111 a 115, e, em 1894, mudavam-se para os números 103 a 107 (rouparia de senhora). Anos depois, voltaram-se para a Rua Garrett, e tomaram conta dos números 1 a 11 (Grande armazém de fazendas, modas, confecções e encovais para noivas e crianças). E foi em 1907 que, devido às grandes e profundas remodelações introduzidas,  se estabeleceu a ligação entre os vários compartimentos.

Armazéns de Eduardo Martins [post. 1907]
Rua Garrett, 1-11 com a Rua Nova do Almada, 103-115
No canto inferior esquerdo pode ver-se o letreiro indicando a entrada para o  Elevador do Chiado que funcionou de 1892 a 1913. O movimento do público fazia-se entre  o n.º 4 da Rua do Carmo e os n.ºˢ 115 e 117 da Rua do Crucifixo. «Por dez réis, está-se no Chiado», informavam a Aquilino Ribeiro, quando se instalou num quarto na Rua do Crucifixo e teve de se habituar ao «petardear constante, como uma máquina de percussão a furar a placa de aço» (Ribeiro: 1974).
Alberto Carlos Lima, in A.M.L.

Este armazém tem a representação do popular Botequim do Lourenço, de Lourenço Manuel Fernandes, que acabou em 1837, e dera sucessão a uma casa das mais importantes do Chiado, pertencendo a José Gregório da Silva Barbosa, depois Barbosa & Barbosa, em notória rivalidade coma Loja do Magalhães, situada do outro lado da rua. Beneficiara bastante da presença de Herculano, ao qual se juntavam o escritor Gomes de Amorim, grande admirador de Garrett, os pintores Anunciação e Thomazini, e os escultores Simões de Almeida e Soares dos Reis.

Armazéns de Eduardo Martins [ant. 1907]
Rua Nova do Almada, 103-115 com a 
Rua Garrett, 1-11
Alberto Carlos Lima, in A.M.L.

N.B. O gaveto  onde se encontravam os Armazéns de Eduardo Martins teve que ser demolido após o grande incêndio de Agosto de 1988. Como que por milagre — referia o "DL" —  «permaneceram intactos alguns dos vidros negros e dourados com a publicidade quase centenária da casa,  assim como adornos de cantaria do edifício». Um destes adornos de cantaria ainda hoje pode ser admirado entre os n.ºˢ 11 e 13 da Rua Garrett, preservado após a reconstrução que se seguiu segundo risco do arq.º Siza Vieira.

Armazéns de Eduardo Martins [ant. 1907]
Rua Garrett, 1-11 com a Rua Nova do Almada, 103-115
Frente sobre a Rua Nova do Almada
Alberto Carlos Lima, in A.M.L.

Bibliografia
COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante, pp. 279-280, 1987.

4 comments:

  1. O gaveto do Eduardo Martins, era o local de encontro entre mim e a minha mãe, visto que cada vez queíamos a Baixa, perdiamos-nos uma da outra......que saudades !

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  2. E o elevador dos armazéns do chiado??? Uma obra de arte!!!

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  3. Na foto da Rua Nova do Almada um ou dois metros abaixo dos armazéns, encontrava-se a bonita "pastelaria Ferrari".

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  4. A seguir ao Eduardo Martins e antes de chegar à Pastelaria Ferrari (era também restaurante à hora do almoço) havia a porta de entrada para o fotógrafo L. Lourenço (Rua Nova do Almada, n°95, 1° esq.). Dizem-me que o fotógrafo Lourenço foi o herdeiro do estabelecimento e do arquivo do célebre fotógrafo de Lisboa, Marc Le Noir.

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