Sunday, 28 June 2020

Tragédia no Cais do Sodré

Uma das maiores tragédias vividas no Cais do Sodré: o abatimento da cobertura de betão da estação dos comboios, a 28 de Maio de 1963. Por entre os escombros. bombeiros e voluntários da Cruz Vermelha tentar ajudar as vitimas. Muitas delas receberam ali mesmo, dos padres entretanto chamados, a extrema-unção.


Os relógios pararam quando, a 28 de Maio de 1963, a cobertura da gare do Cais do Sodré desaba. Por isso, a hora do colapso é a primeira certeza sobre a tragédia: passavam sete minutos das quatro da tarde. Ao final do dia já é conhecido o número de vítimas. Entre homens, mulheres e crianças, contam-se 49 mortos e 61 feridos. São empregados de escritório, domésticas, enfermeiros, reformados, funcionários da companhia que explora a linha, a Sociedade Estoril, e muitos outros, todos apanhados de surpresa. A ajuda não tarda. Entre bombeiros, equipas médicas, militares, a Cruz Vermelha e civis, mais de 400 pessoas acorrem à estação. Cerca de um quarto são operários que trabalham na construção da ponte sobre o Tejo, enviados por ordem do ministro das Obras Públicas. Levam gruas, martelos pneumáticos, apoios decisivos na remoção dos escombros. Sacerdotes consolam os feridos e ministram a extrema-unção aos que não vão conseguir sobreviver.

Estação do Cais do Sodré, 28 de Maio de 1963
Fotógrafo não identificado,
in Lisboa de Antigamente

Pela cidade multiplicam-se as teorias especulativas. Uns apontam a falha às fundações. Outros falam num comboio que chocara contra a plataforma. Os mais imaginativos apostam num atentado à bomba. A comissão de inquérito nomeada pelo ministro das Obras Públicas. Arantes de Oliveira começa a trabalhar nessa noite. Recolhe depoimentos e envia fragmentos da placa e das vigas para o Laboratório Nacional de Engenharia Civil. Os jornais fazem as suas próprias inquirições. Trabalhadores da estação e passageiros frequentes contam ao Diário de Noticias que as fendas e os ruídos suspeitos eram frequentes. Por isso é que ninguém ligou quando se ouviu o som de vidro estilhaçado momentos antes da derrocada.
A 3 de Junho, a Policia Judiciária divulga os resultados preliminares da investigação. "O ruído ou som ouvido minutos antes da catástrofe, semelhante ao estampido de impacto de uma lâmpada eléctrica" — cita o Diário de Noticias — "terá resultado do movimento de fractura do sistema de cobertura." Dois inspectores da Sociedade Estoril ainda avançaram para vedar a zona na altura em que a pala desabou. Nenhum sobreviveu.

Estação do Cais do Sodré, 28 de Maio de 1963
Fotógrafo não identificado,
in Lisboa de Antigamente

No fim, a comissão de inquérito responsabiliza a construtora MANIL pelo acidente. Acusa a empresa de negligencia e incompetência. Falhara na construção das juntas previstas no projecto e na obra de ampliação da cobertura das gares. Como punição ficará sem os alvarás de empreiteiro de obras publicas. Quanto à Estação do Cais do Sodré, já está em pleno funcionamento. O serviço ferroviário recomeçará cinco dias apenas depois da tragédia.
____________________________________
Bibliografia
Marina T. Dias, Lisboa Desaparecida, vol. 6, 2000.
Joana Stichini Vilela e Nick Mrozowski, LX60: A Vida em Lisboa Nunca Mais Foi a Mesma, 2012.

14 comments:

  1. Tinha 9 anos, mas lembro-me um pouco desta tragédia !

    ReplyDelete
  2. Peço desculpa, mas tenho a impressão que a referida tragédia foi em 1967 ou 1968?

    ReplyDelete
  3. Peço desculpa ao Blogue. Acho,que fui atraiçoado pela minha memoria.Foi mesmo 1963.

    Desculpem

    Manuel Paula

    ReplyDelete
  4. Tinha treze anos, a
    ndava na escola Francisco de Arruda e nesse desastre morreu o filho da minha professora de português, creio que o nome era a professora Manuela.

    ReplyDelete
    Replies
    1. Maria Manuel Miguel

      Delete
    2. Maria Manuel Duarte Mouzinho de Albuquerque Montenegro Miguel. O filho, Carlos Manuel, de 17 anos, era aluno do Liceu Francês.

      Delete
  5. e sabem quantas pessoas que ficaram debaixo da placa ainda estão vivas ???? eu digo só uma que tem 92 anos

    ReplyDelete
  6. Eu lembro perfeitamente desta tragédia em 1963 . Tinha eu13 anos e meio.

    ReplyDelete
  7. Na altura se constou que foi um atentado à bomba pelos comunistas no exílio, conforme os mesmos faziam nos postes que sustentam os cabos de alta tensão, que leva a electricidade pelas cidades.

    ReplyDelete
    Replies
    1. Um ror de disparates, portanto. E da sintaxe é melhor nem falar.

      Delete
  8. tinha 12 anos recordo-me perfeitamente,tinha vindo de alcantara onde trabalhava meu pai,no gabinete da ponte salazar.escapei por pouco.

    ReplyDelete
  9. alfandega de lisboa

    ReplyDelete

Web Analytics