Chegámos ao sitio que foi do Palácio dos Condes de Soure, com sua Ermida da invocação de N. Senhora do Monte Agudo, há poucos anos desaparecida.
Neste sitio exacto existiam no tempo de D. Sebastião umas casas e uma Capela, ou Ermida (esta mais antiga do que a Casa) e que eram pertença de uns Carvalhos, gente boa e de haveres. A propriedade foi aumentada no século XVII, alargada com terrenos que até quási ao Bairro Andrade de hoje. Pelo casamento de uma dama desta família com o 3.º Conde de Soure, os bens dos Carvalhos. no Monte Agudo à Penha de França, passaram àqueles titulares. No meado do século passado [séc. XX] a Casa Soure precisou desfazer-se das suas propriedades, as daqui, as do Bairro Alto e de outras, e o Palácio e a Ermida transitaram a mãos alheias; em 1873 uma filha do directo comprador aos Soures, e casada com Jacinto Augusto de Paiva Andrade, herdou estas propriedades, já desfiguradas, reduzidas a habitações decrépitas de gente pobre. Paiva de Andrade legou muitos dos seus bens à Misericórdia de Lisboa, e o que se chamou a herança Picaluga, as casas velhas e a antiga Ermida do Monte Agudo passaram àquela instituição, com a condição de a Misericórdia ali levantar casas de habitação gratuita para umas tantas famílias pobres. (No pardieiro, que fora Palácio Soure, moravam mais de cem famílias).Em 1916-17, após um entendimento com a Câmara Municipal, e que se estudava desde 1883, a Misericórdia fez demolir os restos do solar, e a Ermida desapareceu também.
[Foto 1] Estr. (Rua) da Penha de França (Sul) |ant. 1916| Ao fundo a Ermida do Conde de Soure José Artur Leitão Bárcia, in Lisboa de Antigamente Nota(s): Imagem catalogada no abandalhado AML como |
Aí tens esse renque de casas [Foto 2], de tipo similar, de um único pavimento, a começar no n.º 173, e que se ergueram para satisfazer a vontade dos doadores. Onde está a carvoaria, n.ºˢ 173-175, era precisamente o local da Ermida.
Ao lado deste conjunto do que foi o Palácio Soure abriu há vinte anos [c. 1918] a Rua Heliodoro Salgado [antiga Calçada do Monte Agudo, vd. Foto 3], com uma pequena rectificação da rua, ao alto, na qual foi construída uma cortina.
A Rua da Penha de França, antiga Estrada [Foto 4], mantém ainda a linha levemente sinuosa do século XVII; sua rectificação, aqui e ali iniciada, não se fará demorar. Também por aqui alguns prédios modernos acotovelam outros, nobres de tipo de casa do campo, de há trezentos anos. (...) Há oitenta anos [c. 1880], nem talvez tanto, as edificações por esta Estrada eram poucas; foi depois de 1875 que se começaram a erguer esses prédios pelos quais vamos passando, indiferentemente. Olha: aqui temos um pedaço de Estrada antiga, com uma série de de casebres simpáticos, que já saem fora do alinhamento rectificado. Diz-lhes adeus...
Excelente artigo. Parabéns pelo incansável trabalho. Verdadeiro serviço público.
ReplyDeleteM. Seufert
Desconhecia por completo a existência desta antiga capela e palácio. Mais um excelente artigo sobre a nossa Lisboa antiga no blogue que já considero imprescindível.
ReplyDeleteMaria José Castel-Branco
Onde se lê 1983 deve ler-se, creio eu, 1883, visto que o entendimento com a câmara foi em 1916-17. Mais um óptimo artigo!
ReplyDeleteTem raxão, premi a tecla ao lado. Já corrigi. Grato pelo alerta e pelo apreço,
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