Aqui temos à esquina da Travessa das Mercês o prédio, alindado há meia dúzia de meses [1939], feitio prático de oficina e de estabelecimento industrial, e que constitue a Fábrica União, de espelhos e vidros pulidos. Dispõe de três fachadas: Luz Soriano, Travessa das Mercês, Rua dos Caetanos.
Pois é precisamente a área ocupada pelo antigo Cemitério das Mercês. «Vê-te neste espelho» — dizem os mortos aos vivos. E aí temos uma fábrica de espelhos no sítio do antigo Cemitério. Mas não tão recuado que não existissem dêle vestígios ainda há quarenta anos — ante ontem...
Travessa Mercês com a Rua dos Caetanos [1932] Fábrica União, local do antigo Cemitério das Mercês Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Como particularidade — e só por isso o evoco — digo-te que aqui foi enterrado Manuel Maria Barbosa du Bocage, que morreu a dois passos na Travessa André Valente a 21 de Dezembro de 1805. Foi seu companheiro, vizinho de tumba, o que fôra também um pouco seu par na vida: Nicolau Tolentino.
(...) Os vestígios do cemitério — que findara sua missão em 1834 — desapareceram então de todo, e as ossadas - eram sessenta e nove as lousas, sendo a do Poeta a n.° 36 - levaram-nas para a vala comum do Alto de S. João ou dos Prazeres.
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