Atentemos no que o olisipógrafo Norberto Araújo tem para nos dizer sobre o historial deste edifício sito na Rua das Portas de Santo Antão, antiga corredoura medieval:
Vejamos, já agora, nesta Rua Eugénio dos Santos [actual Rua das Portas de Santo Antão], a Associação
Comercial de Lisboa, instalada num pequeno prédio n.° 89, de fachada
moderna, a destoar, pela novidade relativa, do semblante urbano da
artéria.
É esta a transformação de um prédio antigo de dois andares, pertencente a Carlos Ribeiro Ferreira, e que, arrendado em 1917 por João Rosado, negociante alentejano para um clube de recreio e de jogo, beneficiou de obras interiores, havendo sido então construida a fachada; foi este o Palace Clube, que durou apenas até fins de 1919 [1920?].
No ano seguinte instalou-se aqui a Associação Comercial de Lisboa, (Câmara de Comércio), poucos meses depois do incêndio da parte da ala do Terreiro do Paço, e que atingiu o torreão da Bolsa, onde a Associação tinha sua sede. A Associação Comercial de Lisboa data de 12 de Junho de 1834, intitulando-se Associação Mercantil Lisbonense, nome que persistiu até 1855, passando depois a denominar-se como ainda hoje [o autor escreve em 1939]. Desde 1903 que exerce funções de Câmara do Comércio.»1
Associação Comercial de Lisboa (antes Club Palace) [1929] Rua das Portas de Santo Antão, 89 Antiga Rua Eugénio dos Santos; perspectiva tirada do Beco de São Luís da Pena. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
O Club Palace — ou Palace Clube, como é acima referido por Norberto Araújo — abriu no local onde se pensara fazer um cinema, num lote que era propriedade do capitalista do Banco Lisboa & Açores, Carlos Francisco Ribeiro Ferreira, e onde havia um prédio em ruínas. O projecto para o cinema, Salão Animatográfico, fora desenhado pelo arq.º Álvaro Machado (1874-1944).
Em 1916, Machado procedeu a algumas alterações
da fachada e o projecto foi aprovado em 1917. Desistindo-se da ideia de
edifício comercial, fizeram-se nesse ano obras no interior, ficando o
primeiro andar totalmente ocupado por um salão para festas e jogo de um
night-club: o Palace. O salão foi então profusamente decorado com
estuques formando grinaldas. No vestíbulo, cupidos alados encimaram as
portas laterais de mármore vermelho, acompanhadas por oito
baixos-relevos esculpidos por Simões de Almeida sobrinho (1880-1950), professor da Escola de Belas Artes. O clube durou três anos, até 1920.
Segundo Reinaldo Ferreira (Repórter X) foi no Palace que apareceu a
primeira retalhista de cocaína de Lisboa, uma francesa. Tango, jogo e
cocaína deram o tom característico a este novo espaço concebido para
lisboetas privilegiados. Em 1921, a Associação Comercial de Lisboa
ocupou o edifício, instalando-se num lugar que a orgia construíra,
como então foi dito.2
1 ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 101, 1939.
2 VILLAVERDE, Manuel, RUA DAS PORTAS DE SANTO ANTÃO e a singular modernidade lisboeta (1890–1925): arquitectura e práticas urbanas, 2006.
Aqui está a página perfeita para quem quer conecer a história da cidade. Maravilhosas!
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