ALMANJARRA
Almanjarra, s. f. "Pau, a que se
atrela o animal que faz andar a atafona ou a nora. M. espécie de grande
rodo, com que se tira a lama das marinhas". Almanjarrar, v. t.
"Tirar com almanjarra"
(NIMER, Miguel, Influências orientais na língua portuguesa: os vocábulos árabes, arabizados, Persas e Turcos)
Foi com o percurso da carreira entre o Cais do Sodré e Ribamar (Algés) que a Carris (C.C.F.L.) inaugurou o seu serviço público de carros eléctricos às 6 da manhã do dia 31 de Agosto de 1901 e, depois, entre a Praça dos Restauradores e o Dafundo. Em 1902, já circulavam os primeiros carros grandes abertos fabricados pela J.G.Brill (EUA). Pela sua dimensão, logo são alcunhados pelos lisboetas de almanjarras ou aventesmas.
Avenida 24 de Julho [1912] Carros eléctricos Brill abertos de 8 bancos. Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Avenida 24 de Julho [190-] Carro eléctrico Brill aberto de 8 bancos. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Ultrapassados os receios da electricidade, uma multidão movida pela curiosidade acorreu ao evento disputando um lugar num dos 16 carros que até a meia-noite circularam naquele trajecto inaugural.
O que mais impressionou os alfacinhas, naqueles imponentes veículos de carroçaria aberta com tejadilho apoiado em colunas e cortinas de lona as riscas, foi o sistema de mudança dos letreiros do destino, que permitia desenrolar uma tela comprida numa pequena caixa. Causava admiração os veículos serem bidireccionais: a frente era igual à retaguarda com motores em cada extremo e comandos, também a dobrar, nas plataformas. Os bancos que acomodavam os passageiros eram revertíveis para virarem conforme o sentido da marcha.
No fim de 1901 as linhas electrificadas atingiam a extensão de 24 Km.
Praça do Comércio com a Rua da Prata [190-] Os «almanjarras» ou «aventesmas», carros eléctricos abertos de 12 bancos, saíram de circulação até 1955. Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente |
Praça Dom João da Câmara [ant. 1955] Os «almanjarras» ou «aventesmas», carros eléctricos abertos de 12 bancos, saíram de circulação até 1955. Estúdio Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente |
Em 1 de Abril de 1945, a título experimental e com o fim de melhorar o aproveitamento dos veículos existentes, permitiu-se que nos bancos dos carros grandes abertos se acomodassem como pudessem 5 passageiros acrescidos de mais 10 ou 12 pessoas de pé nos estribos. Os outrora tão admirados gigantes — almanjarras ou aventesmas — acabaram por sair de circulação até 1955.
Cais do Sodré [1901] Carros eléctricos abertos de 8 bancos. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Praça do Comércio [ant. 1955] Carros eléctricos abertos de 12 bancos. Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
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