Ah! Dilecto companheiro: qualquer cidadezita ou vilória por esse país além estremece mais o seu Castelo do que nós, alfacinhas.
Veremos se agora o toque de rebate, e os prenúncios de bom senso — recompõem «isto» de uma maneira decente. O Castelo, o grande e natural miradouro de Lisboa...¹
A nossos pés espreguiça-se o burgo velho. Há — observa ! — tons de pérola por aí abaixo e o casario parece de presépio. Uma gama infinita de azuis, de verdes, de rosas ténues, confunde-se nesta paleta que perturba até à inconsciência da realidade.
Percorre, Dilecto companheiro, com teus olhos extasiados este circuito completo, sem interrupção, que em redor de nós se desdobra. No primeiro plano, em declive acentuado, o cenário que circunda o morro alto do Castelo, onde o vento geme, dando-nos a visão das sucessivas transformações e acrescentamentos da Cidade [...]
Lisboa Vista do Cimo dos Montes: colina do Castelo [post. 1875] Panorama do Castelo de S. Jorge visto de S. Pedro de Alcântara; à esq. nota-se a Igreja de São Vicente de Fora e o Convento da Graça. Fotografia anónima, in Lisboa de Antigamente |
O Castelo de S. Jorge — tal como o conhecemos hoje — tem pouco mais de 80 anos. Não acredita? Passamos a explicar, resumidamente, através da pena brilhante do ilustre Norberto de Araújo:
Esta Fortaleza, que é o padrão militar arqueológico, por excelência, do Castelo de S. Jorge (denominação do século XIV, tempo de D. João I) recebeu, durante oito séculos os insultos do tempo. dos sismos, dos próprios homens.
Em 1938, Outubro, e por efeito de uma portaria de 29 de Agosto, começaram as grandes e penosas obras de reintegração de todo o monumento — considerado «nacional» desde 16 de Junho de 1910 — , obras que abrangeram não só o «Castelejo» ou fortaleza-reduto, como as áreas da primitiva Cidadela e Alcáçova (Praça de Armas, Parada, Praça Nova e casario envolvente), recompondo-se, quanto possível, a estrutura primitiva, tomando-se por base os elementos existentes, os revelados pelas escavações, demolições e apeamentos, e os estabelecidos pela ciência poliorcética.
Fotografia aérea sobre a colina do Castelo de São Jorge |c. 1934| Castelo de S. Jorge e antes das obras de reinvenção. Corrêa, José Pedro Pinheiro, in Lisboa de Antigamente |
Os estudos e obras de reintegração, levados a cabo de Outubro de 1938 a Junho de 1940, e continuados em 1941, puseram a descoberto elementos do primitivo Paço da Alcáçova e de outras construções, e de arquitectura militar da Fortaleza, cuja existência, aliás, se presumia. Foram rebaixados o nível adjacente do Castelejo, e os terraplenos interiores do mesmo. E demolidas as construções dos séculos XVII, XVII e XIX nos dois recintos chamados até há pouco dos «Quartéis Velhos» e dos «Quartéis dos Mouros», ambos denominados agora «Praças de Armas do Castelejo», revelaram-se alguns elementos primitivos, que o restauro valorizou.
O monumento foi entregue à Câmara Municipal de Lisboa pelo Ministério das Obras Públicas, em 31 de Maio de 1942, sendo a sua guarda confiada à Legião Portuguesa.
Lisboa Vista do Cimo dos Montes: Castelo de S. Jorge |post. 1942| Panorama de Lisboa visto do Miradouro da Graça. Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, 1944.idem, Peregrinações em Lisboa, vol. II, p. 41, 1938.
Adoro este blog! Obrigada
ReplyDeleteSou morador no alto da eira (perto de sapadores, freguesia da Penha) e procuro imagens antigas desta zona. Entretanto vou fazendo o scroll down neste seu blog.
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