Às vezes, ainda a manhã vinha longe, já se ouvia pela rua o passar do leiteiro e das vacas [e cabras]. Avisava a freguesia batendo-lhe às portas e anunciando-se;
— Leitii ... leiti ... i
Ao mugir dos animais tinha sempre uma fala amiga e paciente:
— Eh ! ... "Linda" ... Vá, "Galante" ...
E na manhã que despontava, quando o sol começava doirando os topos das torres das igrejas, o leiteiro e as vacas, com o seu pregão, os seus gritos e o chocalhar das campainhas, emprestavam às ruas e aos largos a nota pitoresca com a qual o progresso da Lisboa de hoje há muito se não conforma.
Leiteiros na Rua Alexandre Herculano |1956| Distribuição do leite aos leiteiros junto à Garagem Auto-Palace (esq.), construída para a Sociedade Portuguesa de Automóveis, segundo projecto de Vieillard & Touzet, datado de 1906. Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente Nota(s): o local da foto não está identificado no arquivo |
Também mulheres ou homens vendiam leite, de porta em porta, carregando as bilhas e medidas que deixavam nos passeios para não ter de as levar até aos andares. Se passava canito rafeiro, vira-latas, era certo e sabido que não deixaria de assinar o ponto com uma mijinha...
Pelo que se vê, a higiene da venda do leite não seria a mais própria, e quando vieram as disposições camarárias regulamentando a sua venda muita gente protestou, como é hábito entre nós...
Bibliografia
CÂNCIO, Francisco, Arquivo alfacinha, 1953DINIS, Calderon, Tipos e factos da Lisboa do meu tempo: 1970-1974, 1986.
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