Sunday 16 July 2017

Os alfacinhas vão a banhos: praia de Cascais

Quem há cem e picos anos conheceu a praia de Cascais. justificava. certamente, o dito célebre de «uma vez a Cascais e muitas mais».
Era ali. na aristocrática praia de Cascais, que os elegantes e as elegantes de então — a nobreza e a alta burguesia — tinham os seus encontros. se organizavam as partidas. as regatas. as «ginkanas», que depois chamavam à praia e à vila pessoas dos quatro cantos de Portugal e até do estrangeiro.

Praia da Ribeira Cascais [c- 1900]
O edifício da esquerda está identificado como o Casino da Praia.
José A. Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Ali, «onde o mar beijava constantemente as areias», na praia elegante por excelência, passearam as mais lindas mulheres de Portugal do seu tempo. e fidalgos de velhos pergaminhos bateram o fado  — como ele era batido então por fidalgos e boémios.
E não admira que assim fosse. Nesses dias fugitivos em que durava a época da praia, tão breves como um sonho raramente realizado, tudo se fazia na praia. Ela era casino, casa de chá e campo de desportos, e não poucas vezes centro de má língua. Todas as tardes. o rei D. Carlos, por lá dava o seu passeio largo, segredando com este e com aquele dos seus íntimos, tantas vezes falando de política e muitas outras inteirando-se das inofensivas intrigas da côrte. pelas quais era tão guloso ...

Praia de Cascais [1906]
A tarde. na praia. num grupo de elegantes conversa animadamente. discutindo aquelas preciosas futilidades que em todos os tempos e em todas as épocas sempre ocuparam o espírito das senhoras.
Joshua Benoliel,
in Lisboa de Antigamente
Praia de Cascais [1906]
Um grupo de elegantes da época. vendo as provas náuticas que se realizam ao largo.
Joshua Benoliel,
in Lisboa de Antigamente

Correram mundo, nas côrtes mais poderosas. as notícias perturbadoras da vida elegante em Cascais. No enquadramento admirável do mar, tão azul como o céu, da suavidade do clima, das moradias nobres, dos jardins e das matas luxuriantes, a côrte portuguesa cobrava, em três meses quentes, energia, vivacidade, ternura, para o resto do ano. 
Ir a Cascais, à praia. imprimia carácter e dava distinção. Não havia pessoa de sociedade ou que quisesse parecê-lo. homem ou mulher, que não fosse veranear para Cascais e que. estando ali, não fosse passar as tardes para a praia. Todos lá iam. Os que não iam para ver  — iam para se mostrar ...

Praia de Cascais [1906]
Debaixo do toldo.
Joshua Benoliel,
in Lisboa de Antigamente

Vão longe as calças esticadas, os jaquetões compridos, os colarinhos afogadores; e as saias pregueadas, de grandes rodas. os chapéus mal equilibrados em pequeninas cabeças, as sombrinhas de seda. Mas perto fica, sempre, porque é uma tradição de beleza, a saudade do tempo em que a côrte e os dignitários, a aristocracia, a finança. o alto funcionalismo, punham de banda os rigores do protocolo, e folgavam e se praziam em jogos desportivos, em concertos de música. em arraiais luzidos e bizarros.

Praia de Cascais [1906]
Um grupo gentil de senhoras da alta roda. que cm 1906. veraneavam em Cascais. numa daquelas tardes luminosas de Setembro. frente ao oceano. passando uma tarde amena.
Joshua Benoliel,
in Lisboa de Antigamente

Bibliografia

Joshua BenolielArquivo gráfico da vida portuguesa, 1903-1918.

1 comment:

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