Sunday 23 August 2020

Palácio Alarcão

O antigo Palácio Alarcão não oferece interesse descritivo, pois é  hoje uma sombra do passado, como tantos em Lisboa. O  edifício mostra cinco janelas de sacada, e outras tantas de peito, sobre a  Rua da  Boa Vista, e  seis de  sacada sobre a Rua das  Gaivotas, todas elas da época de restauro no  século passado [XIX].


As casas de D. João de Alarcão, à Boa Vista — e que em tempos poderiam ter  merecido  a qualificação de  palácio — remontam, no  núcleo primitivo, pelo  menos ao  segundo quartel do  século  XVII. Situam-se ao Conde-Barão na esquina das Ruas da  Boa  Vista  e  das  Gaivotas. Em 1641 eram essas casas  de  D. João Soares de Alarcão e  Melo, 8.º Alcaide-mor de  Torres Vedras, filho  de D. João  Soares de  Alarcão, mestre sala da corte, e poeta, que foi 2.° Conde de  Torres Vedras e 7.º Alcaide-mor. Não se sabe quem  mandou erguer o  primitivo palácio.

Palácio  Alarcão  [c. 1952]
Portão seiscentista — na esquina da  Rua das Gaivotas, n.º 2,  para a  Rua Fernandes Tomás — de  grossas colunas e  verga abauladas e cunhais de cantaria, sólidos.
Salvador de Almeida Fernandes, in AML

Aquele D.  João Soares de Alarcão e Melo, depois da Restauração, tomou o partido de Espanha, combateu contra Portugal, recebeu os títulos de  8.º Conde de Torres Vedras e 1.º Marquês de  Turcifal;  as casas da Boa Vista foram-lhe confiscadas e arrendadas a Francisco de Brito Freire, mas em 1668 — assinada a paz — voltaram à posse de D. João,  de quem em 1669 se transmitiram ao filho, D. Francisco, que fora  também partidário de Filipe IV.  Após  um demanda, em 1677 o  palácio dos Alarcões passou ao 2.º  Conde de Avintes, D.  António de Almeida, cuja mulher era neta de  D.  João de Alarcão, sendo então o prédio sub-rogado ao inquilino Brito Freire, morgado de Santo  Estêvão e genealogista. Teve depois o  palácio vários possuidores; quando das invasões francesas era de  Francisco José Pereira e no final do  século passado [XIX] de D. Paulina Benevides. Hoje [1952] pertence à viúva de  António Duarte Oliveira, e está,  em  parte  arrendado à Câmara Municipal, que  ali  mantém a  escola primária n.º 2,  na  parte  nobre antiga, ocupando também dependências a  Liga  28  de  Maio  e um  serviço da Caixa  Geral de Depósitos, além  de  dois  estabelecimentos.

Largo do Conde Barão e Rua da Boavista [séc. XIX]
Observa-se o  Palácio Alarcão — 2.º edifício à esq. — na esquina com a Rua das Gaivotas.
Fotógrafo não identificado, in AML

No  tempo da primeira invasão francesa o palácio foi muito frequentado pelos  generais Laborde, Foy e  outros, e por parentes de Junot.
Um  dos grandes salões ostentava pinturas atribuídas a Volkmar Machado.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, Fasc. IV, Lisboa, 1952.

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