O antigo Palácio Alarcão não oferece interesse descritivo, pois é hoje uma sombra do passado, como tantos em Lisboa. O edifício mostra cinco janelas de sacada, e outras tantas de peito, sobre a Rua da Boa Vista, e seis de sacada sobre a Rua das Gaivotas, todas elas da época de restauro no século passado [XIX].
As casas de D. João de Alarcão, à Boa Vista — e que em tempos poderiam ter merecido a qualificação de palácio — remontam, no núcleo primitivo, pelo menos ao segundo quartel do século XVII. Situam-se ao Conde-Barão na esquina das Ruas da Boa Vista e das Gaivotas. Em 1641 eram essas casas de D. João Soares de Alarcão e Melo, 8.º Alcaide-mor de Torres Vedras, filho de D. João Soares de Alarcão, mestre sala da corte, e poeta, que foi 2.° Conde de Torres Vedras e 7.º Alcaide-mor. Não se sabe quem mandou erguer o primitivo palácio.
Aquele D. João Soares de Alarcão e Melo, depois da Restauração, tomou o
partido de Espanha, combateu contra Portugal, recebeu os títulos de
8.º Conde de Torres Vedras e 1.º Marquês de Turcifal; as casas da Boa Vista foram-lhe confiscadas e arrendadas a Francisco de Brito Freire,
mas em 1668 — assinada a paz — voltaram à posse de D. João, de quem em
1669 se transmitiram ao filho, D. Francisco, que fora também
partidário de Filipe IV. Após um demanda, em 1677 o palácio dos
Alarcões passou ao 2.º Conde de Avintes, D. António de Almeida,
cuja mulher era neta de D. João de Alarcão, sendo então o prédio
sub-rogado ao inquilino Brito Freire, morgado de Santo Estêvão e
genealogista. Teve depois o palácio vários possuidores; quando das
invasões francesas era de Francisco José Pereira e no final do século
passado [XIX] de D. Paulina Benevides. Hoje [1952] pertence à viúva de António Duarte Oliveira, e está, em parte arrendado à Câmara Municipal, que ali mantém a escola primária n.º 2,
na parte nobre antiga, ocupando também dependências a Liga 28 de
Maio e um serviço da Caixa Geral de Depósitos, além de dois
estabelecimentos.
Largo do Conde Barão e Rua da Boavista [séc. XIX] Observa-se o Palácio Alarcão — 2.º edifício à esq. — na esquina com a Rua das Gaivotas. Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
No tempo da primeira invasão francesa o palácio foi muito frequentado pelos generais Laborde, Foy e outros, e por parentes de Junot.
Um dos grandes salões ostentava pinturas atribuídas a Volkmar Machado.
_____________________________________________________________Um dos grandes salões ostentava pinturas atribuídas a Volkmar Machado.
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, Fasc. IV, Lisboa, 1952.
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