Paralelo a este Beco da Galharda «corre o estreito Beco da Galheta (ou da Calheta) — quem dá por ele? — no qual se rasgam, para norte, umas escadinhas, sob passadiços, deixando uma nota pobre de pitoresco. Na segunda metade do século passado, tudo isto por aqui fora eram «tercenas», e que talvez, em rigor, não valessem aquela designação. Não admira, pois, que neste Beco da Galheta [e no da Galharda] se continuem, em série, armazéns encerrados, gradeados, negros — disto que já ninguém lembra o que foi um dia». [...]
É tudo a orla «marginal «velha» do começo do século passado, muito antes do aterramento do areal, quando o mar batia no paredão das tercenas, e por aqui cheirava a maresia, e a cereais quentes pelo repouso nos porões». [Araujo: 1939]
As ovarinas (peixeiras) formam com seus pais, maridos e irmãos a mais curiosa população desta cidade, repara Maria Rattazzi (c. 179); população inteiramente à parte e com carácter e feição própria. São esses rudes operários do mar que fornecem peixe à capital do país; os homens embarcam para ir pescá-lo, as mulheres percorrem para vendê-lo as ruas da cidade, levando à cabeça uma canastra de fundo chato, equilibrada com graça e habilidade.
É original a sua maneira de trajar: na cabeça usam um chapéu redondo de feltro preto, de grandes abas reviradas; no peito um lenço de cor; acima da cintura uma larga faixa de lã, que dá várias voltas à roda do corpo; saias curtas só até ao meio da perna; pernas e pés descalços.
[Maria Rattazzi ( 1833-1902 ) . Portugal de Relance . [c . 1879)]
Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.{Cesário Verde (1855-1886, O sentimento dum ocidental, 1880]
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