Wednesday, 9 October 2019

Estação do Cais do Sodré

A Estação do Cais do Sodré — linha de Cascais — que aqui vês, foi inaugurada em 18 de Agosto de 1928, e dela foi arquitecto Pardal Monteiro, que adoptou êste estilo prático e desafogado, decente mas sem cousa alguma de monumental. Substituiu uma estação ferroviária que levava 32 anos [vd. 4ª e 5ª  foto].


A ligação ferroviária do Cais do Sodré a Cascais data de 1896, «antes ia-se a Cascais partindo da estação de Pedrouços, que servia de testa de linha» [Araújo: 1939]. «O comboio abranda» ao chegar ao Cais do Sodré. Nele vem Bernardo Soares. Fora «pagar a Cascais uma contribuição do patrão Vasques, de uma casa que tem no Estoril», gozando «o prazer de ir, uma hora para lá, uma hora para cá, vendo os aspectos sempre vários do grande rio e da sua foz atlântica».

Panorâmica sobre o Cais do Sodré [1944]
Estação do Cais do Sodré, Praça Duque da Terceira e Avenida 24 de Julho
Estátua de António José de Menezes Severin de Noronha, 1792-1860, 1º duque da Terceira; Jardim Roque Gameiro.
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

A Estação de Caminho-de-Ferro do Cais do Sodré é a primeira grande construção do seu autor, o arq. Porfírio Pardal Monteiro. Trata-se de um projecto executado para a Sociedade Estoril, que ambicionava desenvolver turisticamente o território favorecido pela exploração desta linha férrea. A Estação foi desenhada como se de um empreendimento público se tratasse, antevendo por certo esse estatuto posterior, na sua utilização efectiva e importância social.

Estação do Cais do Sodré [1963]
Praça Duque da Terceira
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente
Estação do Cais do Sodré [1928]
Praça Duque da Terceira; Av. 24 de Julho
Porfírio Pardal Monteiro, in Lisboa de Antigamente

Trata-se de uma construção moderna de transição, de acordo com a própria modernização da linha operada em 1926, com a sua electrificação, e com uma proposta estilística assente nos ensinamentos da «Art-Déco». Abre-se ao espaço exterior através de grande superfícies de iluminação em ferro e vidro e de um grande arco envidraçado inserido num corpo que articula as fachadas laterais. Esta relação com a Praça marca efectivamente a modernidade deste edifício, servindo para tal a sua situação privilegiada em esquina. 

Bilheteiras da Estação do Cais do Sodré [195-]
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

A expressão formal decorre das possibilidades do novo material, o betão armado. Os seus motivos decorativos abundam em detrimento dos trabalhos em ferro e avançam para uma ideia de novo progresso (em contraponto ao progresso oitocentista) decorrente do desenvolvimento pretendido, tanto para o país, como também para o território entre Lisboa e Cascais. Simultaneamente, esta obra anuncia a caracterização depurada da arquitectura que Pardal Monteiro viria a projectar e que contribuiu decididamente para uma renovação da linguagem da arquitectura portuguesa.

Panorâmica sobre o Cais do Sodré [c. 1896]
Antiga Estação do Cais do Sodré (esq.), Praça Duque da Terceira. Partindo ainda do Cais do Sodré, junto ao rio e em direcção paralela à deste, estende-se a grande Avenida 24 de Julho, ou, mais vulgarmente o Aterro.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

«Um dia, ao comprar o bilhete do caminho de ferro na estação do Cais de Sodré, colocou em cima do guichet a importância da passagem em terceira classe e, quando o empregado lhe perguntava qual a classe desejada, respondeu irónico: «La que Usted quiera!»

Estação do Cais do Sodré [1908]
Legenda da foto no arquivo:«Eleições legislativas em Lisboa: condução de presos para a estação do Cais do Sodré com destino a Caxias»
António Novais, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIII, pp. 40-41, 1939.
PESSOA, Fernando, O Livro do Desassossego, 1982.
CML-Cadernos do Arquivo Municipal, nº4, pp. 24-25, 2000.
Portucale. Revista ilustrada de cultura literária, scientífica e artística, 1943.

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