Mas olha-me esta Praça, Dilecto, e o enfiamento do Chiado: tem a sua graça ingénua alfacinha, e uma ponta de beleza. (...) Hoje ainda possue uma certa harmonia de conjunto nos edifícios sóbrios e nas árvores que a rodeiam — uma das quais um exemplar de tília, por ventura o mais interessante da Cidade, onde se aninham às tardes os «pardais do Camões», que em revoadas chegam dos campos, num espectáculo bem curioso, de uma ternura de cidade romântica .
Praça de Luís de Camões [c. 1950] Poda da tílias Judah Benoliel,in Lisboa de Antigamente |
Praça de Camões?, sabe? — explicava à irmã uma filhinha do Jaime Cortesão — é um grande largo onde está Camões, no meio, a ler versos e à volta os pardais a aplaudi-lo. Sim, à volta nas árvores, e principalmente naquelas duas tílias da esquina do Alecrim, que deviam ser consideradas monumento nacional, árvores na última hora da tarde tão carregadas de vida inocente que fazem parar e sonhar o lisboeta calcinado pela luta e pelo amargor de todos os dias. Árvores que aplaudem Camões e tornam os homens melhores.
Finalmente, em Outubro de 1963, a «formosa Praça recebeu importantes modificações» — recorda-nos Mário Costa — desapareceram os antigos quiosques com o seu capilé e foram acrescentados novos bancos em pedra lioz da autoria de mestre José Luís Monteiro, «coincidindo esse embelezamento, com o forçoso derrubamento da bela e vetusta tília — a « velha tília do Camões» — , que os muitos anos e a doença fizeram tombar. Uma guarnição de pinheiros mansos, em pleno crescimento, substitui o perdido exemplar botânico e as suas desventurosas irmãs».
Praça de Luís de Camões [c. 1950]
Poda da tílias
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente
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Bibliografia:
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. V, 1938.
BRANDÃO, Raul, ANGELINA, Maria, Os pardais de Lisboa. Portugal Pequenino, 1930.
COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante, 1987.
Very interesting subject, thanks for posting.
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