Pela Carta de Lei de 10 Agosto de 1845 foi o governo autorizado a expropriar por utilidade publica o respectivo terreno, que estava compreendido entre o Largo das Duas Igrejas, Rua do Loreto, Travessa dos Gatos [que se foi com os Casebres do Loreto] e Rua da Horta Seca, e a entregá-lo à Câmara Municipal, para nele se formar uma grande praça, que se pensou aproveitar para a construção do futuro Teatro Nacional.
Por ocasião do 3º centenário de Camões (1880) resolveu-se colocar no Largo do Loreto a estátua do Épico, dando ao largo, devidamente disposto, nivelado e gradeado, o nome de Praça Luiz de Camões.
Pensando-se então em erguer uma estátua em honra do imortal autor de Os Lusíadas, para a qual se indicara o Passeio Público, foi decidido, pela respectiva Comissão, presidida pelo duque de Saldanha, solicitar, para o efeito, a nova praça em construção, e que à mesma fosse dado o nome do grande épico. Procedeu-se à colocação da primeira pedra, em 29 de Junho de 1862, com a presença de Sua Majestade.
Monumento a Luiz de Camões [c. 1870] Observe-se o gradeamento em volta do monumento e que tanta celeuma causou à época Praça de Luís de Camões. Francesco Rocchini, in Lisboa de Antigamente |
Não cessavam os comentários, enquanto durou a construção da praça, como este que aqui damos:
«Parece que um mau fado persegue a Praça de Luís de Camões. Que gradaria que hoje ali começaram a colocar! Não se pode imaginar coisa de mais mau gosto. São uns grossos varões de ferro atravessados e com flores amarelas.
«Dir-se-ia que o gradeamento fora feito para uma jaula de animais ferozes, tão possante é.
«Na verdade, custa a crer como a Câmara não concebeu que aquele gradeamento é impróprio da praça. O desenho não é elegante; porém, se ao menos fosse de mais ligeira fábrica, se não tivesse tão grossos varões, poderia passar com menos reparo; como fizeram o tal gradeamento, era objecto das censuras de toda a gente e censuras justificadas, pois que ali fica um padrão do mau gosto no governo da cidade.»¹
«Parece que um mau fado persegue a Praça de Luís de Camões. Que gradaria que hoje ali começaram a colocar! Não se pode imaginar coisa de mais mau gosto. São uns grossos varões de ferro atravessados e com flores amarelas.
«Dir-se-ia que o gradeamento fora feito para uma jaula de animais ferozes, tão possante é.
«Na verdade, custa a crer como a Câmara não concebeu que aquele gradeamento é impróprio da praça. O desenho não é elegante; porém, se ao menos fosse de mais ligeira fábrica, se não tivesse tão grossos varões, poderia passar com menos reparo; como fizeram o tal gradeamento, era objecto das censuras de toda a gente e censuras justificadas, pois que ali fica um padrão do mau gosto no governo da cidade.»¹
Praça Luís de Camões [c. 1900] Assistência à passagem do cortejo das festas de homenagem a Luís de Camões Fotógrafo não identificado, in LdA |
Monumento a Luiz de Camões [Início séc. XX] Estátuas em pedra lioz Praça Luís de Camões Fotógrafo não identificado, in LdA |
A inauguração da estátua, no meio de delirante entusiasmo, teve lugar em 9 de Outubro de 1867, muito antes da data em que se completou o tricentenário do passamento do cantor das nossas glórias². O custo da obra, paga ao escultor Vítor Bastos, foi de trinta e oito contos. A figura principal é de bronze, tem quatro metros de altura e está assente num pedestal octogonal de sete metros e quarenta e oito centímetros de altura, rodeado de oito estátuas em pedra lioz, de dois metros e quarenta, representando Fernão Lopes, Pedro Nunes, Gomes Eannes de Azurara, João de Barros, Fernão Lopes de Castanheda, Vasco Mouzinho de Quevedo, Jerónimo Corte Real e Francisco Sá de Miranda.
Em
10 de Junho de 1880, uma grande multidão, entusiasmada, formada em
cortejo, desfilou perante o monumento, irmanando-se com a massa compacta
de portugueses, que enchia os passeios do Chiado, na ânsia de vitoriar a
memória do poeta.
Por ocasião do Ultimatum inglês (1890), quando o
monumento foi coberto de crepes pelos estudantes universitários, ainda o
rodeava o gradeamento que a crítica alfacinha não perdoou.
¹ Jornal do Comércio, de 30 de Setembro de 1862
² Nessa noite, por iniciativa do rei D. Luís, efectuou-se um «baile
campestre» nos jardins do palácio de Belém (A Dança no Estrangeiro e em
Portugal, de Eduardo de Noronha, pág. 333)
______________________________________Bibliografia
COSTA, Mário, O Chiado pitoresco e elegante, pp. 68-70, 1987.
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