Sunday, 24 April 2022

Palácio Almada (ou da Independência)

A celebridade do Palácio adveio da circunstância de o seu proprietário e morador, em 1640, ser D. Antão Vaz de Almada, um dos conjurados a favor da Restauração. É tradição mantida, e sustentada, que foi nestas nobres casas, em certo pavilhão que durante muito tempo foi respeitado e hoje ainda identificado nos seus vestígios, que os conspiradores reuniam, e que foi daqui que saíram para o Terreiro do Paço. 
O facto histórico de este Palácio haver sido o «quartel general» exclusivo da conjura, está hoje muito abalado, mas parece incontroverso, com apoio na verosimilhança, que nele se realizaram conciliábulos, sendo o principal em 12 de Outubro.


O Palácio dos Condes de Almada, no Largo de S. Domingos, é um dos mais representativos espécimes seiscentistas da área urbana de Lisboa, ainda que de linhas simples, e com tradições que justificam a classificação de «monumento nacional»

Palácio Almada (ou da Independência) [1939]
Largo de S. Domingos
A Frontaria Principal, voltada a Sul, precedida de um terreiro guarnecido de cortina de gradeamento, e nela o portal seiscentista emoldurado, sobreposto de varanda de balaústres a guarnecer a janela central, das onze de sacada do andar nobre que a fachada apresenta, engrinaldada de renques e sobrepujada de brasão (armas dos Almadas e Avranches, abertas e floretadas, com duas águias na contrabanda).
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente 
Palácio Almada (ou da Independência) [1939]
Largo de S. Domingos
No Palácio dos Condes de Almada, apenas com o andar nobre acima do andar inferior, há a considerar, designadamente, a frontaria principal. No canto superior direito notam-se as chaminés oitavadas — torreões — que davam tiragem às cozinhas.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente 

Os Almadas remontam pelo menos ao século XIV; nesta família entrou o condado de Avranches, na Normandia, com honras e título concedidos pelo Rei Henrique VI de Inglaterra ao famoso e lealíssimo D. Álvaro Vaz de Almada, que sucumbiu com o Infante D. Pedro cm Alfarrobeira (12 de Maio de 1449). Não tem fundamento a versão de que no final do século XIV ou princípios do século XV havia no «Rossio de Valverde» um solar dos Almadas. (Uns Paços de Valverde», da família Almada, leriam existido, mas perto do Mosteiro de Alcobaça).
O fulcro da história do palácio é a conspiração de 1640. Não é apenas tradição, mas facto comprovado, que os conjurados se reuniram «também» na casa de D. Antão Vaz de Almada (num pavilhão dos jardins, que não nas salas), embora não fosse ali, por precaução, o centro conspiratório, sendo positivo, porém, que no palácio se realizou a última e decisiva reunião na madrugada do l.º de Dezembro.

Palácio Almada (ou da Independência) [1939]
Largo de S. Domingos
A fachada lateral com sete janelas de sacada, sobre a Rua das Portas de Santo Antão (antiga de Eugénio dos Santos), apoiada numa baixa e sólida arcaria (1940) de sete arcos de volta redonda. 
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente 

Quanto aos dois chamados «torreões históricos» (e que não passam de chaminés de cozinha), muito decorativos. situados na ala Nascente sobre as Escadinhas da Barroca, eles remontam, pelo menos, ao terceiro quartel do século XVI, pois já aparecem na planta «Olissippo quae mmc Lisboa...», de Georgio Braunio, de 1572.

Palácio Almada (ou da Independência) [c. 1946]
Largo de S. Domingos
As Duas Chaminés do palácio (século XVI), que davam tiragem às cozinhas
(até 1940 habitação de famílias pobres com entrada pelas Escadinhas da Barroca, n.º 1,
hoje dependências nuas e limpas, com acesso por um dos corredores da Sociedade
Histórica); nelas, e desiguais, há a considerar os remates ameados dos cones oitavados,
e, acima deles, um coroamento canudado, circundado de cimalha decorativa.
Horácio Novaisin Lisboa de Antigamente 

No palácio, no qual durante vários períodos da sua história não residiram os Almadas (em principio de Julho de 1883 abandonaram-no definitivamente como moradia de família), instalou-se o Depósito Público em 1756, o Senado Municipal em fins de 1757 ou princípios de 1758 (até 1766), e o Tribunal da Relação em 1758, este hóspede durante bastantes anos, chegando mesmo o actual Largo de S. Domingos a ser denominado «Largo da Relação» (1775). No final da primeira década do século que decorre [XX] ocupava o edifício o Quartel General da l.ª Divisão. que ali estava já desde,
pelo menos, 1896, e pouco depois de 1911 o palácio começou a ser distribuído por inquilinato comercial, da mesma maneira que, na segunda metade do século passado [XIX], e mesmo antes, recebera vários inquilinos particulares. A Comissão Central 1.º de Dezembro, fundada em 1861, logo nesse ano ali se instalou. Nos baixos do palácio, na Rua Eugénio dos Santos [hoje das Portas de Santo Antão], existiu, de 1924 até 1938, um «Café Comercial» [vd. 3ª imagem].

Palácio Almada (ou da Independência) [ant. 1944]
Largo de S. Domingos
O Pátio Nobre, antecedido de uma passagem sob três arcos de volta abatida, sucessivamente desenvolvidos no sentido da largura.
Fotografia Alvão,  in Lisboa de Antigamente 
Palácio Almada [c. 1900]
Largo de S. Domingos
Antigos jardins com tanque e panos de azulejos - um deles descrito abaixo.
José Leitão Bárcia, in Lisboa de Antigamente 
Palácio Almada (ou da Independência), jardim [1960]
Largo de S. Domingos
Recanto Histórico, no qual se reuniram pela última vez os conjurados de 1640, guarnecido pela frente por duas pequenas colunas e grade de ferro, tendo ao fundo um lindo tanque de jardim; e nele três painéis de azulejos, representando cenas da Restauração, que sumariamente se descreve o do centro: A cena do assalto ao Paço da Ribeira; D. Miguei de Almeida solta de uma janela do palácio real o grito (legenda em fita) «Liberdade, Liberdade, Viva El-Rei D. João IV »; em baixo numa legenda lê-se: «Redempsão de Portugal, A Fidelidade e o Amor triunfão».
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente 

O edifício, já património nacional (comprado por 2.800 contos), foi entregue à Sociedade Histórica em cerimónia pública, que se efectuou na Praça do Comércio em 24 de Novembro de 1940, e nessa mesma tarde aquela Sociedade Histórica e o Comissariado da Mocidade Portuguesa — aos quais o palácio se destinou — receberam no Salão Nobre as chaves das salas. Oficialmente a posse realizou-se no dia 1 de Dezembro daquele ano dos Centenários.==

Palácio Almada [190-]
Fundado em 1467, por D. Fernando de Almada, a sua traça medieval primitiva foi conhecendo ampliações em 1509, alterações nos séculos XVII e XVIII e restauros em 1940. 
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente 

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 82, 1939.
idem, Inventário de Lisboa: Monumentos histórico, 1946.

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