A celebridade do Palácio adveio da circunstância de o seu proprietário e morador, em 1640, ser D. Antão Vaz de Almada, um dos conjurados a favor da Restauração. É tradição mantida, e sustentada, que foi nestas nobres casas, em certo pavilhão que durante muito tempo foi respeitado e hoje ainda identificado nos seus vestígios, que os conspiradores reuniam, e que foi daqui que saíram para o Terreiro do Paço.
O facto histórico de este Palácio haver sido o «quartel general» exclusivo da conjura, está hoje muito abalado, mas parece incontroverso, com apoio na verosimilhança, que nele se realizaram conciliábulos, sendo o principal em 12 de Outubro.
O Palácio dos Condes de Almada, no Largo de S. Domingos, é um dos mais representativos espécimes seiscentistas da área urbana de Lisboa, ainda que de linhas simples, e com tradições que justificam a classificação de «monumento nacional».
Os Almadas remontam pelo menos ao século XIV; nesta família entrou o condado de Avranches, na Normandia, com honras e título concedidos pelo Rei Henrique VI de Inglaterra ao famoso e lealíssimo D. Álvaro Vaz de Almada, que sucumbiu com o Infante D. Pedro cm Alfarrobeira (12 de Maio de 1449). Não tem fundamento a versão de que no final do século XIV ou princípios do século XV havia no «Rossio de Valverde» um solar dos Almadas. (Uns Paços de Valverde», da família Almada, leriam existido, mas perto do Mosteiro de Alcobaça).
O fulcro da história do palácio é a conspiração de 1640. Não é apenas tradição, mas facto comprovado, que os conjurados se reuniram «também» na casa de D. Antão Vaz de Almada (num pavilhão dos jardins, que não nas salas), embora não fosse ali, por precaução, o centro conspiratório, sendo positivo, porém, que no palácio se realizou a última e decisiva reunião na madrugada do l.º de Dezembro.
Palácio Almada (ou da Independência) [1939] Largo de S. Domingos A fachada lateral com sete janelas de sacada, sobre a Rua das Portas de Santo Antão (antiga de Eugénio dos Santos), apoiada numa baixa e sólida arcaria (1940) de sete arcos de volta redonda. Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
Quanto aos dois chamados «torreões históricos» (e que não passam de chaminés de cozinha), muito decorativos. situados na ala Nascente sobre as Escadinhas da Barroca, eles remontam, pelo menos, ao terceiro quartel do século XVI, pois já aparecem na planta «Olissippo quae mmc Lisboa...», de Georgio Braunio, de 1572.
No palácio, no qual durante vários períodos da sua história não residiram os Almadas (em principio de Julho de 1883 abandonaram-no definitivamente como moradia de família), instalou-se o Depósito Público em 1756, o Senado Municipal em fins de 1757 ou princípios de 1758 (até 1766), e o Tribunal da Relação em 1758, este hóspede durante bastantes anos, chegando mesmo o actual Largo de S. Domingos a ser denominado «Largo da Relação» (1775). No final da primeira década do século que decorre [XX] ocupava o edifício o Quartel General da l.ª Divisão. que ali estava já desde,
pelo menos, 1896, e pouco depois de 1911 o palácio começou a ser distribuído por inquilinato comercial, da mesma maneira que, na segunda metade do século passado [XIX], e mesmo antes, recebera vários inquilinos particulares. A Comissão Central 1.º de Dezembro, fundada em 1861, logo nesse ano ali se instalou. Nos baixos do palácio, na Rua Eugénio dos Santos [hoje das Portas de Santo Antão], existiu, de 1924 até 1938, um «Café Comercial» [vd. 3ª imagem].
Palácio Almada [c. 1900] Largo de S. Domingos Antigos jardins com tanque e panos de azulejos - um deles descrito abaixo. José Leitão Bárcia, in Lisboa de Antigamente |
O edifício, já património nacional (comprado por 2.800 contos), foi entregue à Sociedade Histórica em cerimónia pública, que se efectuou na Praça do Comércio em 24 de Novembro de 1940, e nessa mesma tarde aquela Sociedade Histórica e o Comissariado da Mocidade Portuguesa — aos quais o palácio se destinou — receberam no Salão Nobre as chaves das salas. Oficialmente a posse realizou-se no dia 1 de Dezembro daquele ano dos Centenários.==
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 82, 1939.
idem, Inventário de Lisboa: Monumentos histórico, 1946.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 82, 1939.
idem, Inventário de Lisboa: Monumentos histórico, 1946.
Excelente trabalho.
ReplyDeleteAntónio Valente