Sunday 28 January 2018

Profissões de antanho: o deita-gatos

Lisboa engraçava com estes modestos profissionais, de boina vasca e tipicamente vestidos de calça e blusa de ganga azul, chamando a atenção com o característico toque de gaita de beiços e lançando ao vento o seu cantante pregão: «Deita gatos em bacias e alguidares, amola tisoiras e navalhas, conserta chapéus de sol...» 


Significado da expresão deita-gatos segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira:
DEITA-GATOS, s. m. Pop. Humilde artífice que conserta, por meio da apostura de gatos de arame, a louça de barro, chapéus de chuva, etc. São os deita-gatos, pelo geral, oriundos da Galiza e exercem a sua arte ambulantemente: «Havia, entre os maltezes, alguns que exerciam um pequeno comércio — os tendeiros — e outros que praticavam uma pequena indústria — os deita-gatos. Todos pediam esmola; mas os  tendeiros formavam, por assim dizer, a aristocracia da classe, e os deita-gatos constituíam urna espécie de burguesia média nessa sociedade mal diferenciada, Brito Camacho, Gente Rústica, p. 140 (1921). Relegado para os meios rurais ou subúrbios das cidades, o deita-gatos acumula, multas vezes, com a sua, a profissão de amolador. Nalgumas regiões do Alentejo (v. g. Portel) anunciam a sua presença por um tilintar de ferrinhos e o povo liga a éste anuncio a superstição de que ele indica que vai chover ou fazer mau tempo.

 Deita-gatos/amolador, junto ao Palácio do Marquês de Alegrete [s.d.]
Antiga Rua da Mouraria
Fotógrafo  não identificado, in AML

A este propósito ouçamos o magnífico eco do maior poeta da língua portuguesa e um dos maiores da literatura universal — Fernando Pessoa, em “Ó rapaz que deita gatos”:,

Ó rapaz que deita gatos
Deitas gatos só em pratos,
Só em tachos e tigelas, 
Ou deitas gatos também
Nas almas e no que há nelas
Que as quebra em mal e em bem?

Ah, se, por qualquer magia,
As tuas artes subissem
Àquela melhor mestria
De pôr gatos que se vissem
Nesta alma que se quebrou
No que sonho e no que sou!

Então... Qual então! Que tratos
Dei a um poema que surgiu!
Só consertas, só pões gatos
No inteiro que se partiu.
O que partido nasceu
Nem tu consertas nem eu.
(Fernando Pessoa, 1933)

Um deita-gatos de Lisboa
"Typos das ruas". Edição A.Martins, postal circulado em 1904

Um Deita-gatos de Lisboa [s.d.]
in Olisipo: boletim do Grupo "Amigos de Lisboa"
 
Bibliografia
Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol 8, p. 499, 1959.

3 comments:

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