Lisboa engraçava com estes modestos profissionais, de boina vasca e tipicamente vestidos de calça e blusa de ganga azul, chamando a atenção com o característico toque de gaita de beiços e lançando ao vento o seu cantante pregão: «Deita gatos em bacias e alguidares, amola tisoiras e navalhas, conserta chapéus de sol...»
Significado da expresão deita-gatos segundo a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira:
DEITA-GATOS,
s. m. Pop. Humilde artífice que conserta, por meio da apostura de gatos
de arame, a louça de barro, chapéus de chuva, etc. São os deita-gatos,
pelo geral, oriundos da Galiza e exercem a sua arte ambulantemente:
«Havia, entre os maltezes, alguns que exerciam um pequeno comércio — os
tendeiros — e outros que praticavam uma pequena indústria — os
deita-gatos. Todos pediam esmola; mas os tendeiros formavam, por assim
dizer, a aristocracia da classe, e os deita-gatos constituíam urna
espécie de burguesia média nessa sociedade mal diferenciada, Brito
Camacho, Gente Rústica, p. 140 (1921). Relegado para os meios rurais ou
subúrbios das cidades, o deita-gatos acumula, multas vezes, com a sua, a
profissão de amolador. Nalgumas regiões do Alentejo (v. g. Portel)
anunciam a sua presença por um tilintar de ferrinhos e o povo liga a
éste anuncio a superstição de que ele indica que vai chover ou fazer mau
tempo.
Deita-gatos/amolador, junto ao Palácio do Marquês de Alegrete [s.d.] Antiga Rua da Mouraria Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
A este propósito ouçamos o magnífico eco do maior poeta da língua portuguesa e um dos maiores da literatura universal — Fernando Pessoa, em “Ó rapaz que deita gatos”:,
Ó rapaz que deita gatos
Deitas gatos só em pratos,
Só em tachos e tigelas,Ou deitas gatos também
Nas almas e no que há nelas
Que as quebra em mal e em bem?
Ah, se, por qualquer magia,
As tuas artes subissem
Àquela melhor mestria
De pôr gatos que se vissem
Nesta alma que se quebrou
No que sonho e no que sou!
Então... Qual então! Que tratos
Dei a um poema que surgiu!
Só consertas, só pões gatosNo inteiro que se partiu.
O que partido nasceuNem tu consertas nem eu.
(Fernando Pessoa, 1933)
Um deita-gatos de Lisboa "Typos das ruas". Edição A.Martins, postal circulado em 1904 |
Um Deita-gatos de Lisboa [s.d.] in Olisipo: boletim do Grupo "Amigos de Lisboa" |
Bibliografia
O que sao gatos de arame?
ReplyDeleteSão pequenos grampos de metal.
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