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Friday, 30 March 2018

Avenida Fontes Pereira de Melo: solar Mayer e Palácio Sotto Mayor

A Avenida Fontes Pereira de Melo integra-se no projecto de crescimento da Cidade para Norte, aprovado em 1888, plano intitulado: "Avenida das Picoas ao Campo Grande" da autoria do Engenheiro Ressano Garcia. As terraplanagens nas ruas Fontes Pereira de Melo e António Augusto de Aguiar, iniciam-se cerca de 1897. Em 1900, a canalização de água para esta zona da Cidade, está praticamente concluída. A partir de 1902 começaram a circular os primeiros carros eléctricos — aqui descendo a avenida pela direita. Refira-se que o sentido da circulação em Portugal passou a fazer-se pela direita em 1 de Junho de 1928.

Avenida Fontes Pereira de Melo [entre 1902 e 1905]
Junto ao viaduto sobre a Rua de S. Sebastião da Pedreira/Largo Andaluz. O viaduto da Avenida Fontes Pereira de Melo começou a construir-se em 1898 e concluiu-se em 1900. À direita, o solar oitocentista da família Mayer que ali existia, até c. 1900, altura em que começou a demolir-se, para construção do Palácio Sotto Mayor.
Alberto Carlos Lima, 
in Lisboa de Antigamente

O topónimo foi atribuído como Rua Fontes, por deliberação camarária de 31/12/1887 e Edital de 10/01/1888. Mais tarde, o Edital municipal de 11/12/1902 mudou-lhe a categoria para Avenida, já como Fontes Pereira de Melo.  Tributo a um dos principais políticos portugueses e várias vezes primeiro-ministro António Maria Fontes Pereira de Melo (1819-1887) — cuja dinâmica de desenvolvimento e políticas públicas ficou conhecida como «Fontismo». — deu um grande impulso à criação de estradas e caminhos de ferro e montou a primeira linha telegráfica do País, tendo criado então pela primeira vez o Ministério das Obras Públicas que ele próprio assumiu.

Avenida Fontes Pereira de Melo [1912]
O edifício, à esquerda, no gaveto com a Avenida António Augusto de Aguiar já não existe, assim com, a moradia do lado nascente da avenida. Os dois prédios de rendimento, ao fundo, na esquina com Rua Martens Ferrão, foram recentemente reabilitados. O que ainda vai conferindo alguma elegância à avenida desenhada pelo eng.º Ressano Garcia é o
imponente e sumptuoso Palácio Sotto Mayor, edificado em 1902/06, segundo o risco inicial do arq. Ezequiel Bandeira, com a colaboração do arq. Carlos Alberto Correia Monção. Já nem o eléctricoque ali se vê a descer avenida pela mão esquerdalá passa.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 29 December 2024

Avenida Fontes com a Rua Camilo

Como estes dois últimos nomes são enormes! Mas parece que em certa época presidiu à denominação das ruas esse critério dos nomes grandes: Avenida de Fontes Pereira de Melo, Rua de Camilo Castelo Branco, etc. Pois não poderia dizer-se Avenida de Fontes e Rua de Camilo? Ou teme alguém que se confundem os nomes do estadista e do escritor com o de qualquer merceeiro?! [A.P. 1914]

A Avenida Fontes Pereira de Melo integra-se no projecto de crescimento da Cidade para Norte, aprovado em 1888, plano intitulado: "Avenida das Picoas ao Campo Grande" da autoria do Engenheiro Ressano Garcia. As terraplanagens iniciam-se cerca de 1897. 

Avenida Fontes Pereira de Melo com a Rua Camilo Castelo Branco |ant. 1940|
Palacete Sabrosa; Praça Marquês de Pombal
Kurt Pinto in Lisboa de Antigamente

O Palacete Sabrosa impressionava pela área da sua implantação distribuída por um quarteirão inteiro: Rotunda do Marquês, Avenida Fontes Pereira de Melo, Rua Camilo Castelo Branco e Avenida Duque de Loulé. Perfilava-se a residência no gaveto do Marquês com a Fontes Pereira de Melo com duas fachadas extensas, mas a principal projectava-se nesta avenida ou, como se dizia na altura, gozava de vista para o Parque. Foi demolido por volta de 1940. [Monterroso: 2002]

 

Rua Camilo Castelo Branco no sentido Avenida Fontes Pereira de Melo |195-|
Perspectiva tomada da Av. Duque de Loulé onde existe, desde 1950, o Monumento a Camilo Castelo Branco [vd. imagem abaixo].
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

O topónimo «Rua Camilo Castelo Branco» presta tributo ao insigne Romancista (1825-1890) e foi atribuído por deliberação camarária de 24 Julho de 1890 — logo no mês seguinte ao seu falecimento — , ao arruamento que ligava a Rua Alexandre Herculano à então Rua Fontes (a partir de 1902, Avenida Fontes Pereira de Melo).

Camilo Castelo Branco (1825-1890) foi um dos maiores escritores portugueses do século XIX. "Amor de Perdição" foi sua novela mais importante. Suas novelas passionais fazem do escritor o representante típico do Ultra Romantismo em Portugal. Foi um dos primeiros escritores portugueses a viver exclusivamente do que escrevia. Recebeu o título de Visconde concedido pelo rei de Portugal, D. Luís I. [+ info]

Monumento a Camilo Castelo Branco |196-|
Perspectiva tomada da Av. Duque de Loulé com a Rua Camilo Castelo Branco (esq.) onde existe desde 25 de Outubro de 1950 a estátua do escritor — obra do escultor António Duarte.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Friday, 19 August 2016

Palacete da Avenida Fontes Pereira de Melo, 28

Esta Avenida Fontes Pereira de Melojá o tens notadoostenta propriedades de certo sentido aristocrático de arquitectura; lembro-te o palacete do capitalista José Maria Marques, n.° 28, arquitecto Norte Júnior (Prémio Valmor de 1925 1914) (...) ¹


Este palacetena Avenida Fontes Pereira de Melo, formando gaveto com a Rua Andrade Corvo foi construído no início do século XX, para residência de José Maria Marques, com projecto do arqº Norte Júnior. Congrega elementos barrocos, neo-românicos, neo-árabes e Arte Nova num estilo ecléctico característico da época. Congrega elementos barrocos, neo-românicos, neo-árabes e Arte Nova num estilo ecléctico característico da época. A escolha deste prémio impôs-se pela «originalidade e disposição engenhosa da fachada principal e pela exuberância da decoração».

Palacete da Avenida Fontes Pereira de Melo, 28, gaveto com a Rua Andrade Corvo [c. 1914]
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

No ano de 1911 José Maria Moreira Marques, capitalista com negócios no Brasil, apresentou à Câmara de Lisboa um pedido para a construção de uma casa no seu terreno na Avenida Fontes Pereira de Melo, apresentando um projecto assinado pelo arq.º Manuel Joaquim Norte Júnior. O conjunto, que incluía sala de ginástica na cave, casa para capoeira e casa de tanques, foi construído entre 1911 e 1915, data da última licença para a edificação da marquise de ferro do jardim. O projecto foi vencedor do Prémio Valmor no ano de 1914 (erradamente esculpido na fachada com a data 1915).
Não sendo o maior palacete projectado por Norte Júnior, é seguramente o que apresenta o programa decorativo mais exuberante, embora a profusão de motivos ornamentais em nada altere o equilíbrio do projecto. A inserção num gaveto rectangular, no qual a casa ocupa apenas metade da área, denota a perícia do arquitecto como projectista, apresentando uma planimetria distinta das que nos anos imediatamente anteriores criara para edifícios congéneres nas Avenidas Novas.

Palacete da Avenida Fontes Pereira de Melo, 28, gaveto com a Rua Andrade Corvo [1967]
Actual Sede do Metropolitano de Lisboa; contíguo ao palacete vê-se o prédio que alberga o Teatro Villaret

Augusto de Jesus Fernandes, in Lisboa de Antigamente

No interior, os espaços dispõem-se de forma simétrica em torno da escada e do vestíbulo, elementos centrais da casa que conferem monumentalidade ao edifício. Inclui um sumptuoso programa decorativo, com madeiras exóticas, estuques pintados e dourados, frescos, e um elevador, à época um elemento funcional de luxo. 
Em 1950 a Câmara de Lisboa comprou aos herdeiros de José Marques o edifício, e quatro anos depois alugava o espaço ao Metropolitano de Lisboa, que o ocupa até hoje. ²

Palacete da Avenida Fontes Pereira de Melo, 28, gaveto com a Rua Andrade Corvo [1971]
Sede do Metropolitano de Lisboa

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 81, 1939.
² DGPC

Wednesday, 25 May 2016

Avenida Fontes Pereira de Melo: obras do Metropolitano de Lisboa

O primeiro projecto de um sistema de caminhos-de-ferro subterrâneo para Lisboa data de 1888, é da autoria do engenheiro militar Henrique de Lima e Cunha. Publicado na revista Obras Públicas e Minas, previa a um traçado que ligasse Santa Apolónia a Algés, com passagem pelo Rossio, São Bento, Janelas Verdes e Alcântara. O custo do empreendimento estava orçado em 500$000 réis por metro corrente de túnel. A proposta não avançou. 
Mais tarde, nos anos 20 do século XX, dão entrada na Câmara Municipal de Lisboa dois projectos, respectivamente, de Lanoel d’Aussenac e Abel Coelho (1923) e de José Manteca Roger e Juan Luque Argenti (1924), que não tiveram seguimento.

Avenida Fontes Pereira de Melo [entre 1955 e 1959]
Obras do Metropolitano de Lisboa; Palácio Sotto-Mayor
Judah Benoliel,in Lisboa de Antigamente

Somente a partir da 2ª Guerra Mundial com a retoma da economia e no seguimento das políticas de electrificação e aproveitamento dos fundos do Plano Marshall, surge com plena vitalidade a decisão de se construir um Metropolitano para Lisboa. A sociedade é constituída a 26 de Janeiro de 1948 e tinha como objectivo o estudo técnico e económico, em regime de exclusivo, de um sistema de transportes colectivos fundado no aproveitamento do subsolo da cidade. A concessão para a instalação e exploração do respectivo Serviço Público veio a ser outorgada em 1 de Julho de 1949.

Avenida Fontes Pereira de Melo [entre 1955 e 1959]
Obras do Metropolitano de Lisboa
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

 Em Setembro de 1954, o Eng.º Francisco de Mello e Castro é nomeado presidente do Metro (cargo que desempenhou até ao final de Agosto de 1972). E no dia 18 é aberto o concurso para adjudicação das obras, material circulante e instalações fixas. As propostas são abertas em Dezembro e conduzem a um encargo total de 196 mil contos. 

Avenida Fontes Pereira de Melo [entre 1955 e 1959]
Obras do Metropolitano de Lisboa
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Os trabalhos de construção iniciaram-se em 7 de Agosto de 1955 e, quatro anos depois, em 29 de Dezembro de 1959, o novo sistema de transporte foi inaugurado. No dia seguinte, por volta das três horas da manhã, existiam filas intermináveis à porta das estações para utilizar o novo meio de transporte. A afluência foi tanta que algumas estações foram obrigadas, por motivos de segurança, a cancelar temporariamente a venda de bilhetes de forma a que os passageiros não invadissem o cais. Entre as principais atracções estavam as escadas rolantes da estação do Parque
A rede aberta ao público consistia numa linha em Y, com uma extensão de 6,5 quilómetros, percorridos por 24 comboios, e 11 estações, com dois troços distintos, Sete Rios (actualmente, Jardim Zoológico) – Rotunda (actualmente, Marquês de Pombal) e Entrecampos – Rotunda (Marquês de Pombal), confluindo num troço comum, Rotunda (Marquês de Pombal) – Restauradores.

Avenida Fontes Pereira de Melo [c. 1959]
Obras do Metropolitano de Lisboa; Praça do Duque de Saldanha
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

A estação Rotunda (Marquês de Pombal) permitia a correspondência entre os dois primeiros troços. Foi um importante acontecimento para a cidade e constituiu um enorme êxito, tendo-se elevado a 15,3 milhões o número de passageiros transportados no primeiro ano de exploração. O Metropolitano de Lisboa era, ao tempo da sua inauguração, o 14.º da Europa e o 25.º no mundo. O pioneiro fora o Metropolitano de Londres, em 1863, a partir da ideia de Charles Pearson, o inventor deste meio de transporte.

Avenida Fontes Pereira de Melo [c. 1959]
Obras do Metropolitano de Lisboa; Palacete  Gabriel José Ramires; Rotunda  Praça Marquês de Pombal
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 24 April 2016

Panorâmica sobre a Avenida Fontes Pereira de Melo

A Avenida Fontes Pereira de Melo integra-se no projecto de crescimento da Cidade para Norte, aprovado em 1888, plano intitulado: Avenida das Picoas ao Campo Grande da autoria do Engenheiro Ressano Garcia. As terraplanagens nas ruas Fontes Pereira de Melo e António Augusto de Aguiar, iniciam-se cerca de 1897.

Avenida Fontes Pereira de Melo, junto ao Marquês de Pombal [c. 1934]
Os dois edifícios à direita são, respectivamente, o Palácio Condes de Sabrosa e o Palacete Gabriel José Ramires. Para tirar a foto o fotógrafo ter-se-á encarrapitado no monumento ao Marquês de Pombal. Também são visíveis do lado dir. o Palácio Sotto-Mayor. ao fundo o monumento ao Duque de Saldanha e o "prédio do anjo"; do lado esq. o Parque Eduardo VII.
Ferreira da Cunha, in Lisboa de Antigamente

Arruamento de 1900 que homenageia o chefe do partido Regenerador, António Maria Fontes Pereira de Melo (1819-1887), que presidiu ao Conselho de Ministros na década de 1876 e 1886, período que ficou conhecido como Fontismo

Avenida Fontes Pereira de Melo [1929]
Perspectiva tomada do estaleiro do monumento ao Marquês de Pombal.
Cortejo dos Combatentes

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente 

Friday, 21 September 2018

Palacete Ramires

No final do século XIX ainda o troço de arranque da que viria a ser a Avenida Fontes Pereira de Melo se designava de Rua do Abarracamento de Vale Pereiro. As terraplanagens nas ruas (depois avenidas) Fontes Pereira de Melo e António Augusto de Aguiar, iniciam-se cerca de 1897. Em 1900, a canalização de água para esta zona da Cidade, está praticamente concluída. A partir de 1902 começaram a circular os primeiros carros eléctricos — aqui descendo a avenida pela direita. (Refira-se que o sentido da circulação em Portugal passou a fazer-se pela direita em 1 de Junho de 1928).

Palacete Ramires [190-]
Avenida Fontes Pereira de Melo, 6-6-A; Rua Actor Tasso, 16-38
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Palacete mandado construir por volta de 1891 (Processo de Obra nº: 5903, 1891, CML) para o industrial Gabriel José Ramires — proprietário e gerente da Fábrica de tecidos de sedas Ramires & Ramires, conhecida por Fábrica das Amoreiras sita na Travessa das Bruxas — naquela que viria a ser a nova Avenida Fontes Pereira de Melo.
Perfilava-se a residência com duas fachadas, uma sobre a Rua Actor Tasso (antiga Tv. do Lázaro Verde) e outra, a principal, projectando-se na nova avenida — gozava de vista para o Parque — , como se dizia na altura.
Demolido no final da década de 1960.

Palacete Ramires [191-]
Avenida Fontes Pereira de Melo, 6-6-A; Rua Actor Tasso, 16-38
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Sunday, 13 August 2017

Palacete Sabrosa

Estamos na Praça Marquês de Pombal, vulgarmente denominada «Rotunda», que constitui o eixo de irradiação de avenidas e grandes artérias, projectadas já em 1882, mas cuja execução muito se fêz demorar. (...) Quando em 1898 se celebrou o Centenário da Índia, (...) já então a Praça estava desenhada em rotunda, mas erguiam-se então apenas dois prédios-palacetes: aquele da esquina poente da Avenida, onde começa, para acabar na esquina da Rua Braamcamp [Palacete Lara e futuro Clube Militar], o arco de circulo da «Rotunda», e o que, com área de jardins, pertenceu ao Conde de Sabrosa, à esquina da Avenida Fontes Pereira de Melo (que não existia, é claro), demolido o ano passado [em 1938] pela Companhia do Gaz [actual EDP]. (...)


Em 1910, (...) a Praça Marquês de Pombal estava edificada como hoje. É entre a década de 1899-1909 que se pode colocar a data da edificação formal da Praça.

Palacete do Conde de Sabrosa, entrada principal [1930]
Avenida Fostes Pereira de Melo tornejando com a
Praça do Marquês de Pombal
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

O Palacete Sabrosa impressionava pela área da sua implantação distribuída por um quarteirão inteiro: Rotunda do Marquês, Avenida Fontes Pereira de Melo, Rua Camilo Castelo Branco e Avenida Duque de Loulé.
Perfilava-se a residência no gaveto do Marquês com a Fontes Pereira de Melo com duas fachadas extensas, mas a principal projectava-se nesta avenida ou, como se dizia na altura, gozava de vista para o Parque. Na esquina com a Duque de Loulé via-se uma grande construção de apoio à habitação e que serviu durante a revolta republicana do 5 de Outubro de 1910, como hospital de sangue [vd. 3ª foto]. Escala que denota a grande dimensão da residência, onde o arvoredo dos seus jardins se destacava dos restantes parques dos palacetes da cidade de Lisboa, que veio a ser semeado de pequenas construções.
Confirma-se que no final do século XIX a residência principal estava construída e isso poderá explicar a opção por colocar a fachada principal na Fontes Pereira de Melo, que no fundo constituía como que a primeira pedra neste novo eixo, o arrastamento da definição urbana da praça era assim pragmaticamente ultrapassado. Assim, já em 1889, o proprietário Frederico Davidson apresenta um projecto para a reedificação da moradia, o que faz pressupor um imóvel pré-existente.

Fotografia aérea da Praça Marquês de Pombal [1934]
Implantação urbana do Palacete Sabrosa, parque e cavalariças (vermelho)

Pinheiro Correia, in Lisboa de Antigamente

Logo em 1903 a Construção Moderna (26.06.2003, n.º 99) publica o que designa de construções rústicas, executadas pelo arquitecto Norte Júnior. Tratava-se de uma cavalariça e aposentos para pessoal, um galinheiro e um pombal [vd. foto acima], em versão cottage popularizada e alguma robustez neo-românica. Constituíam adições pontuais a uma habitação de edificação já consolidada de anos. Reportando a alguns traços estilísticos, terá sido este arquitecto o autor do risco da residência principal ou pelo menos das adaptações promovidas pelo Conde de Sabrosa em 1901. A instalação provisória do já referido hospital de sangue no palácio durante o 5 de Outubro mereceu um louvor do Ministro da Guerra do governo provisório ao seu proprietário, o 1º Conde de Sabrosa (1855-1937), que é quem o mandou reconstruir no final do século XX.

Palacete do Conde de Sabrosa, cavalariças [1910] 
Praça do Marquês de Pombal com a Avenida Duque de Loulé
 As cavalariças funcionaram como hospital de sangue durante o 5 de Outubro
Alberto Carlos Limain Lisboa de Antigamente

A fachada denota uma influência de gramática neo-maneirista com os seus cunhais, pseudo-pilastras, embasamento rusticado e o friso na cirnalha muito pronunciado, que é produto desta adaptação. No interior, socorrendo-nos da magnífica descrição de Santos Tavares e do conjunto de fotografias publicadas na Ilustração Portuguesa (25 de Janeiro de 1904), confirma-se aquela opção de linguagem artística. Vêem-se arcos de volta abatida, colunas jónicas e tectos de caixotões rectangulares na casa de jantar e no escritório do proprietário. Uma das salas, designada de Luís XVI, era toda mobilada com as aquisições obtidas pelo senhor Conde de Sabrosa, considerado um grande coleccionador na época, no leilão do Marquês da Foz oriunda do Palácio dos Restauradores. Pintura e objectos da colecção Daupiás, outros da colecção Fernando Palha recheavam a grande diversidade de salas, num ecletismo fim de século, que tipificava o ambiente das grandes moradas deste período, por influência do gosto que as colecções Foz e outras espalhavam no meio alfacinha.

Palacete Sabrosa [c. 1910]
Perspectiva tirada do Parque Eduardo VII, vendo-se, ao centro, o Palácio Sabrosa; à esquerda, um esboço da Rua Camilo Castelo Branco; atrás a Av. Duque de Loulé; à direita a «Rotunda», hoje «do Marquês» e a Av. da Liberdade

Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Em 1929 o prédio viria a ser alienado «ao activo e confiado industrial hoteleiro», Alexandre Almeida, dono da Companhia dos Grandes Hotéis de Portugal, que já possuía nos Restauradores, o superlativo Hotel Avenida Palace (1890-92) projectado pelo arquitecto José Luís Monteiro (1849--1942). O Concelho de Arte e Arquitectura deu mesmo um parecer positivo e incentivou a construção de um Palace Hotel. Esta ideia não veio a ser concretizada e, em 1937, o hoteleiro vendeu--a com todos os seus terrenos à Companhia do Gás (Araújo, 1939).
E vai iniciar-se um novo ciclo na vida deste espaço com a abertura da sua demolição dois anos depois que se concretiza em 1940.2

Palacete Sabrosa [ant. 1940]
Avenida Duque de Loulé com a Rua Camilo Castelo Branco; Praça do Marquês de Pombal

Kurl Pinto, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
1 ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, pp. 43-44, 1939.
2 TEIXEIRA, José de Monterroso, Rotunda do Marquês:«a cidade em si não cabia já» ou a monumentalidade (im)possível).

Sunday, 14 June 2015

Avenida Fontes Pereira de Melo com a Rua Tomás Ribeiro

Arruamento de 1900 que homenageia o chefe do partido Regenerador, António Maria Fontes Pereira de Melo (1819-1887), que presidiu ao Conselho de Ministros na década de 1876 e 1886, período que ficou conhecido como Fontismo.
Esta artéria que faz a ligação da Praça Marquês de Pombal à Praça Duque de Saldanha integra o Plano das Avenidas Novas, do eng.º Ressano Garcia, aprovado em 1888 na Câmara Municipal de Lisboa. Este projecto seguia as ideias urbanísticas do séc. XIX, aplicando os princípios higienistas de combate à insalubridade das densas vilas da industrialização, definindo um traço regular formado por quarteirões uniformes, numa sequência de eixos estruturantes articulados por rotundas.

Avenida Fontes Pereira de Melo com a Rua Tomás Ribeiro,  1960
À direita, o muro do antigo Mercado 31 de Janeiro, antigo Matadouro Municipal.

Filipe Romeiras, in Lisboa de Antigamente
 
Neste plano, a Avenida Fontes Pereira de Melo constituía o elemento de ligação do conjunto das ruas adjacentes ao Parque da Liberdade (hoje Parque Eduardo VII) com o núcleo Picoas - Campo Grande. (cm-lisboa.pt)

Avenida Fontes Pereira de Melo com a Rua Tomás Ribeiro,  1961
Em 29 de Dezembro de 1959 é inaugurado novo sistema de transporte — o Metropolitano.
Augusto de Jesus Fernandes, in Lisboa de Antigamente

Tuesday, 23 February 2016

Avenida Fontes Pereira de Melo, coberta de neve

A Avenida Fontes Pereira de Melo integra-se no projecto de crescimento da Cidade para Norte, aprovado em 1888, plano intitulado: «Avenida das Picoas ao Campo Grande» da autoria do Engenheiro Ressano Garcia. As terraplanagens nas ruas Fontes Pereira de Melo e António Augusto de Aguiar, iniciam-se cerca de 1897.

Avenida Fontes Pereira de Melo, coberta de neve |193-|
À esquerda, o Parque Eduardo VII e a Av. António Augusto de Aguiar; ao fundo, à direita, o Palácio Sotto Mayor (1905)
Ferreira da Cunha, 
in Lisboa de Antigamente

Arruamento de 1900 que homenageia o chefe do partido Regenerador, António Maria Fontes Pereira de Melo (1819-1887), que presidiu ao Conselho de Ministros na década de 1876 e 1886, período que ficou conhecido como Fontismo

Wednesday, 28 March 2018

Palácio Sotto Mayor

Esta Avenida Fontes Pereira de Melo — já o tens notadoostenta propriedades de certo sentido aristocrático de arquitectura; lernbro-te [...] o grande Palácio do Dr. Cândido Sotto Mayor, filho, no n.° 14, construido em 1905, que ocupa um quarteirão entre esta Avenida, e as Ruas Martens Ferrão e Sousa Martins, e o Largo do Andaluz.¹


O Palácio Sotto Mayor foi edificado pelo banqueiro Cândido Sotto Mayor para lhe servir de residência nas Avenidas Novas. As obras iniciaram-se em 1900 com a demolição do solar oitocentista da família Mayer, que até então ocupava o local, e a construção de uma muralha de suporte do terreno sobre o Largo de Andaluz

Palácio Sotto Mayor [1966]
Avenida Fontes Pereira de Melo, 16; Largo de Andaluz, 13-13C; Rua Martens Ferrão, 1
Arnaldo Madureira, in Lisboa de Antigamente

A construção do palácio propriamente dito iniciou-se em 1902 e prolongou-se por quatro anos. Inicialmente projectada pelo arquitecto Ezequiel Bandeira, a obra viria a ser acompanhada pelo capitão de engenharia do exército Rodrigues Nogueira, que contou com a colaboração do arquitecto Correia Monção. Colaboraram ainda na obra vários outros artistas: os arquitectos João António Piloto (concepção da sala de jantar) e Evaristo Gomes (vestíbulo e sala de visitas); os pintores Domingos Pinto, Teixeira Bastos, Ribeiro Júnior e Ordonez; o escultor Jorge Neto e o entalhador António Pucche. 

Palácio Sotto Mayor [c. 1906]
Fachadas viradas ao Largo de Andaluz,
Avenida Fontes Pereira de Melo, 16; Largo de Andaluz, 13-13C; Rua Martens Ferrão, 1
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Em 1967 o edifício ficou devoluto e começou a entrar em ruína. Em 1989 foi adquirido por uma empresa imobiliária que encomendou um projecto de renovação. Passados vários anos de espera, e depois de um incêndio no interior, a Câmara Municipal de Lisboa e o IPPAR autorizaram a execução do projecto. Da autoria do arquitecto Gastão da Cunha Ferreira, o projecto de recuperação, que procurou não descaracterizar o casco exterior do imóvel, visou a sua reutilização como hotel, escritórios e lojas.
O palácio, que incluía anexos (cocheiras, casa de criados, lavadouro), insere-se num parque murado e gradeado onde outrora existia um jardim com um lago, estufa de vidro e gaiolas.²

Palácio Sotto Mayor [1967]
Perspectiva tomada da Rua Luciano Cordeiro
Avenida Fontes Pereira de Melo, 16; Largo de Andaluz, 13-13C; Rua Martens Ferrão, 1
 
Garcia Nunes, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 81, 1939.
² Almeida e Duarte Belo – Portugal Património: Lisboa, Vol. VII, 2007.

Friday, 23 September 2016

Praça do Duque de Saldanha

Com esta bela Praça do Duque de Saldanha, que data da última década do século passado [séc. XIX], se deu testa à grande artéria mãe das Avenidas Novas, em correspondência paisagista com a Praça Mouzinho de Albuquerque [actual Rotunda de Entrecampos]. Na Praça, em rotunda, estrela de cinco pontas, confluem as Avenidas Fontes Pereira de Melo, Casal Ribeiro, Praia da Vitória [dois ramos] — estas duas já deste século — e da República (...) ¹


A Praça do Duque de Saldanha — antigamente chamada Rotunda de Picoas — nasceu do plano das Avenidas Novas concebido, no fim do século XIX, por Frederico Ressano Garcia, engenheiro da Câmara Municipal de Lisboa. A Praça tinha uma fisionomia mais simples do que a que lhe conhecemos na actualidade. Tinha uma tipologia de rotunda; era circular, com acesso radial, trânsito de atravessamento e envolvente. 

Praça do Duque de Saldanha |c. 1940|
Antiga Praça Mouzinho de Albuquerque, antes Rotunda das Picoas
; Avenida da República
Amadeu Ferrari, in Lisboa de Antigamente

Para responder ao crescente aumento do trânsito automóvel nas décadas de 1950-60, é rasgado um novo arruamento na  Praça em 1969. Trata-se de quebrar a forma circular de rotunda da Praça, «o espaço molusco cuja viscosidade, espraiando-se fez perder a clareza da forma geométrica pur2, para dar lugar a um novo desenho. Se se comparar a fotografia dos anos 40 com outra de finais da da década de 60, pode ver-se que a pavimentação concêntrica central foi cortada dos dois lados para favorecer o tráfego automóvel. Ficou uma faixa de betume ou “ilha” em forma de “banana” [vd. 2.ª imagem] que vem separar os dois sentidos de circulação, entre a Avenida da República e a Avenida Fontes Pereira de Melo. 3

Praça do Duque de Saldanha |1969|
Antiga Praça Mouzinho de Albuquerque, antes Rotunda das Picoas; Avenida da República

Artur Bastos, in Lisboa de Antigamente

A Avenida de Fontes Pereira de Melo termina na rotunda da Praça do Duque de Saldanha, cercada de heterogéneas edificações, e a meio da qual se ergue o Monumento ao Duque de Saldanha. A pedra fundamental do monumento, cuja parte escultural é de Tomás Costa e a arquitectónica de Ventura Terra, foi lançada em 1904, tendo-se inaugurado em 1909. A estátua, que representa o marechal de pé, com a mão direita apontando na direcção do S., assenta sobre um pedestal dórico de base quadrangular flanqueado de colunas com capitéis canelados. À frente da estátua, na base, a figura alegórica da Vitória, de bronze, nas outras faces panóplias ornamentais pendem da boca de leões, tudo de bronze. 4

Praça do Duque de Saldanha |c. 1950-60|
Antiga Praça Mouzinho de Albuquerque, antes Rotunda das Picoas; Avenida da República

Fotógrafo não identificado, postal Ed. Lifer [s.d.]

Bibliografia
1 ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 79, 1939.
2 BESSA, J. P., Saldanha – Edifício MASP e Helena Rubinstein, Análise urbana da Praça do Saldanha, 1986.
3 FRÉTIGNÉ, Hélène, Uma Praça Adiada: Estudo de Fluxos Pedonais na Praça do Duque de Saldanha, vol. I, pp. 23-29, 2005.
4 PROENÇA, Raul, Guia de Portugal: Generalidades: Lisboa e arredores, vol. I, p. 434, 1924.

Saturday, 18 February 2017

A Feira de Agosto no Parque Eduardo Vll

Noutros tempos, quando havia comício ou festa — a feira d'Agosto, encantos meus! —, as poucas árvores ramalhudas, centenárias (que é feito delas?) ficavam pretas de garotos como pardalada. E havia picnics pelas raras sombras.


Nos terrenos do que seria o Parque Eduardo VII, assim denominado após a visita do monarca inglês em 1903«um belo espaço da natureza, com altos e baixos, velhas árvores, arbustos, ervaçal e mato», realizava-se, em Agosto, uma Feira. Raul Proença mostra-nos o parque, «ainda em construção, já com alguns lindos lagos», que embora «poucas curiosidades» ofereça, constitui «um cantinho de natureza luxuriante e pródiga». 

Vista aérea sobre o Parque Eduardo VII [c. 1934]
Feira de Agosto
Av. da Fontes Pereira de Melo; Praça do Marquês de Pombal: Rua Castilho; Av. António Augusto de Aguiar
Pinheiro Corrêa,in Lisboa de Antigamente

Era, para Aquilino, ainda antes de ser baptizado de Eduardo VII, esse «belo espaço da natureza», para onde ia sempre que lhe apetecia «um mimo rural». Datam de 1887 os primeiros projectos para o parque, então designado por Parque da Liberdade, sendo o Engenheiro Ressano Garcia o responsável pela proposta de abertura do concurso internacional, do qual sai aprovado o projecto do arquitecto paisagista Henri Lusseau.

Feira de Agosto, entrada  [Início séc. XX]
Praça do Marquês de Pombal Avenida da Fontes Pereira de Melo (Palacete Sabrosa)
Alexandre Cunha, in Lisboa de Antigamente
Feira de Agosto  [1911]
Praça do Marquês de Pombal Avenida da Fontes Pereira de Melo (Palacete Sabrosa)
Artur Benarus, in Lisboa de Antigamente
Feira de Agosto  [1911]
Praça do Marquês de Pombal Avenida da Fontes Pereira de Melo (Palacete Sabrosa)
Artur Benarus, in Lisboa de Antigamente

A vida alfacinha — relembra-nos Norberto de Araújo —, ingénua e pitoresca, essa teve no Parque um pouco de desafogo, com a episódica «Feira de Agôsto», que funcionava quando se proclamou a República; nela existiram os teatrinhos «Maria Vitória» e «Júlia Mendes» — nomes de duas actrizes populares, de mal fadado destino —, e se manteve a tradição das barracas das farturas e da Maria Botas, que vinham das velhas feiras de Belém e de Alcântara. Também a «estampa antiga» do sítio do Parque foi Parque foi desfigurada com o desaparecimento da «Torrinha», uma curiosa vivenda octogonal (Quinta da Torrinha, que deu nome à Estrada), situada um pouco acima do actual lago, e demolida em Abril de 1916.

Feira de Agosto, entrada [1910]
Teatro Júlia Mendes
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
Feira de Agosto, entrada  [entre 1901 e 1910]
À esquerda a «vivenda octogonal» da Quinta da Torrinha
Autor desconhecido, in Lisboa de Antigamente

Bibliografia
MIGUÉIS, José Rodrigues. «Da Mania das Grandezas», in As Harmonias do Canelão.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, 1939.
JANEIRO, Maria João, Lisboa: histórias e memórias.
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