Sunday, 12 November 2023

Igreja do Santo Condestável

A igreja paroquial do Santo Condestável, moderna mas com reminiscências de ogival, situa-se na encruzilhada das ruas Saraiva de Carvalho e Francisco Metrass, nos limites de Campo de Ourique, e é orientada sensivelmente a Nascente.


A Igreja do Santo Condestável, com traça em forma de cruz latina, cuja construção se concluiu em 1951 em terrenos vizinhos das ruas Saraiva de Carvalho e Francisco Metrass, inspira-se nos templos portugueses da fase final do gótico, o flamejante no seu período embrionário, expressivamente representados em Lisboa pela Igreja do Carmo e em Santarém pela da Graça. Mas à parte o fundamental e típico, a Igreja do Santo Condestável afasta-se nos pormenores mínimos dos seus modelos, de que conserva porém, e inteiramente, a espiritualidade. Todo o edifício se assinala pela simplicidade e pela alvura, onde sobressai num contraste feliz o granito de Sintra. Há um misto de nobreza e de humildade na aliança dos paramentos de simples reboco branco com as cantarias cinzentas, trabalhadas a pico fino. Templo erguido a um dos maiores de Portugal, recorreu-se para a execução da estrutura ao processo tão português da alvenaria de pedra e cal.

Igreja do Santo Condestável |1953|
Ruas Saraiva de Carvalho e Francisco Metrass; ao fundo nota-se o Mercado de Campo de Ourique erguido em 1933.
A Fachada, com um corpo central no qual se rasga o grande p6rtico de arco em ogiva, e duas torres simétricas.
António Passaportein Lisboa de Antigamente
Igreja do Santo Condestável |195-|
Ruas Saraiva de Carvalho e Francisco Metrass
O pórtico com adro sobrelevado ao nível da praça, ao qual se acede por quatro degraus, dando serventia à galilé. Gradeamento de ferro forjado em ponta de lança. Sobre o pórtico o brasão das Armas Reais de Portugal, tal como se usava no começo da 2ª Dinastia.
Salvador de Almeida Fernandesin Lisboa de Antigamente

A autoria da igreja pertence ao arq-º Vasco de Morais Palmeiro (Regaleira) que teve como colaboradores na parte ornamental os escultores Leopoldo de Almeida, Veloso da Costa e Soares Branco, e os pintores José de Almada Negreiros, Portela Júnior e Joaquim Rebocho, e na construção o eng.º Santos Fernandes e Mestre Cipriano. Os trabalhos de serralharia artística foram executados pela Serralharia Artística do Corvo.
Dirigiu administrativamente a erecção do edifício uma comissão designada pelo Patriarca de Lisboa e de que fizeram parte o falecido Prior P.• Francisco Maria da Silva, o Marquês de Abrantes, o arquitecto Regaleira e Alberto Portugal da Silveira. A Comissão de Honra pertenceram, entre outros, S. A. a Infanta D. Felipa de Bragança, e o Ministro da Defesa, coronel Santos Costa.
 
Campo de Ourique e a Igreja do Santo Condestável, fotografia aérea |1956|
Ruas Saraiva de Carvalho e Francisco Metrass
A Fachada posterior, tendo no centro da parede (onde se unem o Presbitério e Patronato) um apoio ou mísula, destinado à estátua de Nossa Senhora de Fátima. Aqueles anexos, nos topos exteriores, estão ligados por muro com janelões com grelhagem de tijolo à meia esquadria, e cancelo de ferro forjado, de acesso a pequeno pátio.
Mário de Oliveirain Lisboa de Antigamente

A inauguração do templo teve lugar em 14 de Agosto de 1951, aniversário de Aljubarrota, com a presença do Chefe do Estado, do Cardeal-Patriarca. A urna, com as relíquias de Nun'Alvares, foi então trazida num ·armão de artilharia, com escolta de honra, da capela da Venerável Ordem Terceira do Carmo (0onde se guardava desde 1834) para o novo templo, em aparatoso cortejo.

Igreja do Santo Condestável, inauguração  |1951-08-14|
Rua Saraiva de Carvalho; Rua Francisco Metrass
Duas torres de secção quadrada com encostos de granito de Sintra e silhares
que prolongadas verticalmente em forma de pilastras terminam fazendo
moldura às ventanas; cantoneiras nas esquinas, terminadas por coruchéus,
igualmente de granito; a cobertura em grimpa acoruchada, que assenta em sobre-beira
dupla de telha portuguesa, rematada airosamente por pára-raios decorativos (Cruz dos Pereiras).
Só a torre Norte (a da direita) tem ventanas sineiras.
Firmino M. Costain Lisboa de Antigamente


Por decreto patriarcal de 21 de Maio de 1984 foi criada a freguesia eclesiástica do Santo Condestável, começando as funções paroquiais em 8 de Junho imediato. A área da nova freguesia foi constituída à custa das de Alcântara e Santa Isabel. Até 1951 serviu de igreja paroquial a capela setecentista da Senhora das Dores (mais exactamente «do Amor da Virgem Senhora Nossa das Dores»)
na Rua do Patrocínio, construída com material sobejado da edificação da Basílica do Coração de Jesus (Estrela). 

Igreja do Santo Condestável, pórtico  |1956|
Rua Saraiva de Carvalho; Rua Francisco Metrass
O portal em ogiva chanfrada aberta em frontal de pedra, no estilo gótico flamejante
com o escudo de armas dos Pereiras a fazer remate. Cornija com legenda camoneana
sobre ela um grupo escultórico ornamental representando o beato frei Nuno de Santa
Maria entre dois Anjos orantes (S. Miguel e o («Anjo de Portugal») (Leopoldo de Almeida).
Mário de Oliveirain Lisboa de Antigamente

No Interior, assinala-se o Corpo da igreja, de três naves (a central sobrelevada) e transepto, e nele:
O tecto de dois tramos, de falsa abóbada de aresta estucada de branco.
As naves separadas por quatro grupos de pilares formando arcada em ogiva, a nave central ocupando toda a1tura, as laterais correndo por baixo do trifório. A iluminação das naves laterais é feita por duas frestas de cada lado, com caixilhos de chumbo e vidros de cor. A meio das naves portas laterais, cada qual com sobreporta, nicho e nele imagem de pedra.

 

Igreja do Santo Condestável, perspectiva, Altar-mor  |1956|
Rua Saraiva de Carvalho; Rua Francisco Metrass
A Capela-mor, prolongamento da nave central e cujo acesso se faz por um arco chanfrado
de ogiva deprimida, iluminada lateralmente por dois pares de janelas de arco de dupla curva,
com vidros de cor montados em armadura de chumbo. Todo o fundo é ocupado por grande
retábulo de pintura a fresco (Portela e Rebocho) representando a glorificação de Nun'Alvares).
Mário de Oliveirain Lisboa de Antigamente

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Monumentos histórico, 1956.

2 comments:

  1. I appreciate your commitment to fostering meaningful conversations. Thank you!

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  2. Muito obrigado. Aprendi muito!

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