Sunday 26 February 2023

Colégio dos Meninos Órfãos, à Mouraria

O Colégio dos Meninos Órfãos, da Mouraria, ou Colégio de «Jesus», teve como primeiro reitor o cónego Doménech, que em pouco tempo lhe imprimiu invulgar incremento, a ponto de, em 1551, contar com cerca de cento e sessenta alunos. Pedro Doménech teve de regressar à sua pátria em 1553. [Serrão: 1987]


Ora aqui temos este velho edifício de curiosa fachada — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , onde está instalada desde há cerca de 25 anos [c. 1913], uma esquadra da polícia. Observa-me o portal de feitio quinhentista: oferece a particularidade de ter as colunas invertidas, fazendo os capitéis de base [terá sido um lapso de pedreiro?]. Isto pode significar uma reedificação desordenada após o Terramoto. Estamos diante do antigo Colégio dos Meninos Órfãos, chamado depois, impropriamente, a Ermida da Guia.

Colégio dos Meninos Órfãos |c. 1900|
Rua da Mouraria, 64-66A
Observa-me o portal de feitio quinhentista: oferece a particularidade de ter as colunas invertidas. [Araújo: 1938]
Leitão Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Em 1273 a Rainha D. Brites, mulher de D. Afonso III, mãe de D. Diniz, fundou um Colégio dos Meninos Órfãos da invocação de N. S. do Monserrate, que depois arrastou vida precária. Em 1549 outra Rainha, D. Catarina, mulher de D. João III, a instâncias do padre catalão Domence Doménech reformou — e outros dizem fundou — neste lugar o Colégio, que ficou com o título e a invocação antiga, e cuja administração competia à Mesa da Consciência. Os meninos órfãos eram trinta, e eles próprios esmolavam o seu sustento; recebiam instrução que os preparava para as missões religiosas em África e no Brasil. Chamou-se também no século XVII Colégio de Jesus, porque aqui existia uma confraria do Menino Jesus.
Em 1754, porque o edifício estava decrépito, o Rei D. José o reedificou de alto abaixo, mas no ano seguinte deu-se o Terramoto e a casa padeceu estragos, sendo reedificada. Em 1814 os Meninos Órfãos ligaram-se à «Casa Pia da Correcção da Côrte», fundada anos antes no Castelo. [...] 
Depois da República no velho Colégio instalaram-se associações e a Comissão Central das Juntas de Freguesia, assim como repartições várias de serviço público, além da esquadra de polícia, que provocou obras nos baixos do edifício, e modificou o aspecto do pátio interior.

Colégio dos Meninos Órfãos em 1911 e 1963, respectivamente
Rua da Mouraria
Depois da República no velho Colégio instalaram-se associações e a Comissão Central das Juntas de Freguesia, assim como repartições várias de serviço público, além da esquadra de polícia[Araujo: 1938]
Joshua Benoliel e Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

No interior do pátio do velho Colégio de Jesus, no qual se ingressa pela porta contígua à do pórtico manuelino, hoje entrada da esquadra da polícia [vd. foto acima], eleva-se a frontaria principal do edifício, com um elegante pórtico, encimado pelo escudo real, tudo, no conjunto, com expressão arquitectónica. Este escudo foi mutilado, na coroa, em 1910. O pórtico abre para um átrio revestido de azulejos leves, do tipo dos de S. Vicente. A escadaria e as salas têm todo o aspecto do século XVIII, no período que seguiu ao sismo. No pátio existe ainda a boca de uma cisterna antiga, hoje entaipada.==

Colégio dos Meninos Órfãos |c. 1900|
Rua da Mouraria, 64-66A
Pórtico encimado pelo escudo real e coroa removida em 1910.
Leitão Bárcia, in Lisboa de Antigamente

Nota(s): Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 1/86, DR, 1.ª série, n.º 2 de 03 Janeiro 1986. Incluído na Zona de Protecção da Ermida de N. S. da Saúde.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. III, pp. 74-75, 1938.

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