Sunday 21 June 2020

Fábrica de Cerveja Germânia e depois Portugália

 — Isto é o que tu chamas o melhor restaurante de Lisboa? — perguntou Filipa, divertida, parando à porta da cervejaria Portugália, para onde Tomás a conduzira.
Ele encolheu os ombros, a rir-se.
 — Hum... talvez não seja o melhor restaurante de Lisboa, mas é, de certeza, um dos melhores que estão abertos a esta hora da noite.


A história da Portugália é indissociável da história da Cerveja em Portugal, e, para a contar, temos de recuar aos primeiros anos do século XX. Nessa altura, e sob o comando do Dr. Barral Filipe, a Fábrica de Cerveja Leão e a Companhia Portuguesa de Cervejas deram origem a uma sociedade denominada Fábrica de Cerveja Germania que nasceu com o propósito de produzir cerveja ao nível das melhores do mundo. Para isso, foi comprado, em 1912, um enorme terreno na Av. Almirante Reis, construída uma fábrica com 15.000 m2, importado o mais moderno equipamento e convidados os melhores técnicos estrangeiros como consultores.

Cervejaria Portugália [c. 1925]
Avenida Almirante Reis, esquina com a Rua Pascoal de Melo
Fotógrafo não identificado, in DN

Com a 1ª Guerra Mundial, onde Portugal alinhou pelos Aliados, o sentimento anti-germânico levou a uma inteligente medida de marketing e, em 1916, a fábrica passou a chamar-se Portugália, Lda. Em 1921, novos investimentos em técnicos e equipamentos foram feitos e o produto, sob a orientação do mestre cervejeiro alemão Richard Eisen, atingiu uma qualidade absolutamente revolucionária para o mercado e para a época. O nome foi mais uma vez modificado para Companhia Produtora de Malte e Cerveja Portugália, S.A. 

Fábrica de Cerveja Germânia e depois Portugália [1914]
Avenida Almirante Reis
Fachada principal, busto em cantaria representando a marca da fábrica, da autoria do escultor Simões de Almeida
in A Architectura Portugueza
Fábrica de Cerveja Germânia e depois Portugália [1914]
Avenida Almirante Reis,
fachada principiai        
in A Architectura Portugueza

O nascimento, em 10 de Junho de 1925, da Cervejaria anexa à Fábrica de Cerveja, tem uma razão peculiar: uma vez que a distribuição da cerveja produzida era feita em carroças e relativamente precária, era comum os clientes dirigirem-se à Fábrica para encherem os seus próprios barris. A ideia da abertura de um espaço para servir cerveja avulso enquanto os clientes aguardavam o enchimento, teve um êxito imediato. E assim nasceu uma nova forma de consumir Cerveja em Portugal. 

Fábrica de Cerveja Germânia e depois Portugália [1914]
Cavalariças viradas à Rua António Pedro. Edíficio com 3 pisos ligados por rampa, com capacidade para 80 cavalos
in A Architectura Portugueza
Fábrica de Cerveja Germânia e depois Portugália [1914]
Interior da fábrica. Ao fundo vê-se a Rua Pascoal de Melo
in A Architectura Portugueza
Fábrica de Cerveja Germânia e depois Portugália [1914]
Planta da fábrica, delimitada pela Av. Almirantes Reis, e pelas rua António Pedro e Pascoal de Melo. Em baixo à direita, espaço onde virá a ser construído o balcão da Cervejaria Portugália
in A Architectura Portugueza

 
Com ela vieram os mariscos e os famosos bifes, que rapidamente se tornaram o ex-líbris da casa. Nomes como Amália Rodrigues, Vasco Santana e Raul Solnado, por exemplo, eram presença assídua. O seu prestígio era tão grande que a sua esplanada foi escolhida em 1933 para a cena final do filme de Continelli Telmo “A Canção de Lisboa”. Nos anos 50, a fábrica e a cervejaria passaram por uma formidável reestruturação, a sala de refeições foi alargada, criou-se no primeiro andar uma sala de Bilhar e no terceiro piso um terraço onde funcionou, durante as noites de Verão, um cinema ao ar livre.

Cervejaria Portugália [c. 1960]
Avenida Almirante Reis, esquina com a Rua Pascoal de Melo
Estúdio Horácio Novaisv, in FCG

Bibliografia
REBELO, Tiago, És o Meu Segredo, 2005
cm-lisboa.pt  

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