A igreja católica celebra nos dois primeiros dias de Novembro do as festas principais. A primeira em honra de todos os Santos, e a segunda em comemoração dos defuntos. A origem da festa de Todos os Santos remonta ao principio do século VII — No ano de 607 o papa Bonifácio IV, havendo obtido do imperador Phocas o celebre templo chamado o Pantheon, o purificou e dedicou à Virgem e aos mártires. Ora como o nome de Pantheon significa templo de todos os deuses,
e que efectivamente naquele soberbo edifício se viam os simulacros de
todos os falsos nomes do paganismo, que foram substituídos por outras
tantas imagens de diversos santos, o povo conservando a memória do
antigo título, lhe ficou sempre chamando o templo de todos os santos.
Ora como não era possível festejar separadamente todos os santos, cujas
imagens ali se veneravam, o papa lembrou--se de instituir uma festa só
para todos os santos, que desde então se ficou celebrando em Roma,
porém, foi somente nos primeiros anos do século IX (835 d.C.) que o papa Gregório IV. mandou que esta festa fosse recebida em toda a cristandade, e celebrada no 1.º de Novembro.
A comemoração dos defuntos foi pela primeira vez celebrada, no décimo século, por Santo Odillon, abade de Cluny (998 d.C.), e brevemente se espalhou por toda a França, mas só foi mais de um século depois que a igreja universal a adoptou [foi, porém, no século XIII que esse dia ganhou uma data definitiva: 2 de Novembro]. ¹
A comemoração dos defuntos foi pela primeira vez celebrada, no décimo século, por Santo Odillon, abade de Cluny (998 d.C.), e brevemente se espalhou por toda a França, mas só foi mais de um século depois que a igreja universal a adoptou [foi, porém, no século XIII que esse dia ganhou uma data definitiva: 2 de Novembro]. ¹
Tomando emprestado ao texto do clássico Diccionario da Lingua Portugueza de António de Morais Silva — a mais importante referência na história da lexicografia portuguesa dos últimos 200 anos — a definição para o termo morto encontramos o seguinte:
§, Morto, Defuncto, Finado, empregão-se estes tres vocabulos para significar o homem, que cessou de viver: esta é a sua synonymia: mas cada um delles exprime por diferente modo a mesma idéa. Morto é o termo proprio, com que significamos precisamente o estado de um ser, que deixou de ter vida; e por isso se diz genericamente não só do homem, mas tambem dos animaes, e ainda de outros seres em que consideramos vida: assim dizemos homem morto, animal morto, planta morta, fogo morto, etc. Defuncto e finado são termos figurados, que empregamos, por eufemismo, em lugar de morto, mas sómente fallando do homem.
[Vd. Synonymos por D. Fr. Francisco de S. Luiz, t. 2. pag. 127.] ²
Praça São João Bosco [909] Funeral de Maria Luísa de Sousa Holstein, 3ª duquesa de Palmela, dirigindo-se para o cemitério dos Prazeres. Alberto Carlos Lima, in Lisboa de Antigamente |
Para aligeirar o tema lançamos mão de um antigo conto — Os Mortos na Crendice Popular por Adelino Reis de Sousa — cuja história reza assim:
Amanhã, tia Micaela, é dia dos Fieis Defuntos. Os sinos: tlin... tlão... tlin... tlão... enchem-me a alma de tristeza.
—
E a mim, também, tia Brígida; mas que lhe havemos de fazer? Dizem que
neste dia, os mortos se levantam das sepulturas e vêm, à hora da
meia-noite, visitar a família.
— O ano passado, tia Micaela, pareceu-me ouvir uns passos na cozinha.
—
Talvez fosse o seu defunto homem. — Se fosse, ele, vinha ter comigo e
contava-me se a sua alminha está em bom ou mau lugar. Amanhã, tenciono
ir ao cemitério pôr-lhe um ramo de flores na campa. Vou de dia, porque o
ar da noite é muito perigoso.
—
A tia Zefa do Cantinho morreu, há três anos, com um ar que lhe deu, ao
passar à meia-noite, pelo cemitério. Tinha ido, já bastante tarde, ao
moinho das Pedras Brancas, buscar uma saca de farinha para cozer o pão,
no dia seguinte, de madrugada. No moinho demorou-se muito a tagarelar
com a mulher do moleiro. Quando voltava, para casa, passou junto do adro
da igreja, que dá para o cemitério. Vinha fatigada, porque a saca era
de dois alqueires. Pousou-a no chão, para descansar um pouco. No relógio
da Torre dava meia-noite. De repente, olhou para o adro e viu, uma
grande procissão: muitos homens vestidos de branco, com uma tocha acesa.
— «Ora, esta! cochichou, consigo, a tia Zefa; — uma procissão, a estas
horas da noite?!» — Lembrou-se, então, que era dia dos Fiéis Defuntos. —
«E se eu pedisse, a algum deles, que me ajudasse a levantar a saca?»
Dito e feito. Aproximou-se, e disse para um: — «Ó tiosinho, ajuda-me a
pôr esta saca à cabeça ? — «Não posso, respondeu o defunto; estou muito
fraco, morri de maleitas.» A tia Zefa reconheceu, entre os defuntos, um
compadre, que tinha morrido havia três anos. Dirigiu-se a ele: — «Ó
compadre, ajuda-me a pôr a saca à cabeça?» O compadre saiu da procissão e
foi ajudar a comadre a erguer a saca, e disse-lhe:
—
«Ó comadre, não lhe torne a suceder outra. Vocemecê não sabe que é um
grande perigo passar pelo cemitério, a estas horas, e principalmente, na
noite d'hoje? Adeus, não me posso demorar. As sepulturas ainda estão
abertas, mas vão fechar-se. Dê muitas recomendações a minha mulher, e
diga-lhe que a minha alminha está em bom lugar.»
— «Adeus, compadre, e obrigadinho...».³
Rua Alexandre Herculano, carro funerário [entre 1908 e 1914] Casa Ventura Terra Charles Chusseau-Flaviens, in Lisboa de Antigamente (*) local não identificado no arquivo |
Bibliografia
¹ Archivo Popular, Vol. 2, p. 376, 1838.
² Diccionario da Lingua Portugueza de António de Morais Silva, t. II, 183.
³ REIS de SOUSA, Adelino, Contos prosápias e facécias, p. 12, 1960.
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