Sunday 18 September 2016

O Largo de Arroyos e a sua Sopa

Este Largo era um verdadeiro acampamento, entre dois ou três palácios que assistiam indiferentes à cena. Mas era aqui o Largo do Cruzeiro. O padrão-cruzeiro é uma homenagem de D. João III e do senado da Câmara à memória da Rainha Santa Isabel, medianeira das pazes entre D. Afonso IV e D. Dinis prestes a entrarem em batalha no campo de Alvalade.1


O Largo de Arroios, anteriormente designado por Largo do Cruzeiro ou do Cruzeiro de Arroios, também se tornou célebre no começo do século XIX, pelas cenas populares de que foi teatro, por ocasião da terceira invasão francesa, em 1810. Encheu-se a capital, de gente fugida das diferentes terras do Reino, ao aproximar-se o exército de Massena.
Cinquenta mil pessoas, aproximadamente, entraram, por essa ocasião em Lisboa, sem contar as que ficaram nas vilas e aldeias suburbanas.

[Sopa de Arroios] Largo de Arroios, gravura [c. 1813]
No último plano, a Calçada de Arroios e a antiga Estrada das Amoreiras (Rua Carlos José Barreiros) e o antigo Palácio do Conde da Guarda;  ao lado deste a Bica nº 1 ou Chafariz de Arroios; defronte do palácio vê-se o célebre Cruzeiro de Arroios resguardado por um pavilhão envidraçado, cujo telhado piramidal descansava em pilares de cantaria. Este Cruzeiro foi erigido no reinado de D. João III, para comemorar a beatificação da Rainha Isabel de Portugal; no primeiro plano, à direita, o Palácio dos Senhores de Pancas hoje demolido.
Desenho de SEQUEIRA, Domingos (1768-1837). Gravura em buril e água forte por QUEIROZ, Gregório, in Lisboa de Antigamente

 Era necessário acudir a estes infelizes. Os governadores do Reino, o Senado da Câmara e diversos cidadãos beneméritos, organizaram várias obras sociais, entre as quais, a distribuição diária de sopas económicas, que se serviam em vários locais, onde se estabeleciam acampamentos improvisados.
 
Largo de Arroios [c. 1950]
À esquerda, a Calçada de Arroios e, ao centro, a Rua Carlos José Barreiros (antiga Estr. das Amoreiras) e o antigo Palácio do Conde da Guarda; ao lado deste a antiga Igreja de Arroios (1828-1970) e Rua Alves Torgo (antiga Estr. de Sacavém).
Judah Benoliel,
in Lisboa de Antigamente
 
O Largo de Arroios, pela sua área e também porque ficava perto de uma das entradas da cidade, foi igualmente escolhido por muitos infelizes que se estendiam a descansar em redor das poucas bagagens de que dispunham. Aí se fazia a distribuição da sopa, o que inspirou a Domingos António Sequeira, contemporâneo destes acontecimentos e morador no Largo de Arroios, o seu conhecido e excelente desenho, «Sopa de Arroios», de que, depois, Gregório Fernandes de Queiroz, discípulo do célebre Barrolozzi, fez uma boa gravura, tendo os contornos das figuras, sido abertos pelo próprio Domingos Sequeira.2

Largo de Arroios [1968]
À esquerda, a Calçada de Arroios e, ao centro, o antigo Palácio do Conde da Guarda.
Armando Serôdio,
in Lisboa de Antigamente
 
Bibliografia
1 ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, p. 82, 1938.

2 Revista Municipal, nº 85 de 1968, in Hemeroteca Digital.

11 comments:

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  2. Estimados Senhores,
    Estou neste momento ocupado a estudar o edifício que nas imagens acima, referem ser o Antigo Palácio do Conde da Guarda. Tenho tido muita dificuldade em encontrar informação sobre o mesmo. Seria possível esclarecer a fonte da informação. Muito agradecido
    Aproveito para congratular-vos pelo blog que há muito acompanho.
    Com os melhores cumprimentos
    João Segurado

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    1. Gratos pelo apreço. Infelizmente dispomos de pouca informação sobre este palácio de Arroios, excepto que o seu proprietário terá sido o desembargador João Lopes Calheiros de Meneses. Cumprimentos.

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  3. Muito obrigado pela disponibilidade e pelos esclarecimentos
    Mas ainda assim como teve conhecimento de que o proprietário terá sido o Desembargador João Lopes Calheiros de Menezes?

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    1. Na Revista Municipal, nº 50 de 1951, p. 10, in Hemeroteca Digital.

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    2. Quer dizer nº85, pagina 26 certo?
      Obrigado pela disponibilidade mais uma vez.

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    3. Desculpe, foi lapso meu. Exacto, n.º 85, p. 24.

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  4. Muitíssimo interessante. Vivi (e ainda vive lá a minha familia) muitos anos num dos prédios que ainda resiste frente ao Palácio. Fiquei a saber o nome desse palácio que foi recentemente comprado e preparam-se agora para o recuperar(?) com qualquer finalidade que desconheço.
    Algumas das questões que volta e meia me colocava, e que tentava conhecer, sobre o palácio e os predios circundantes ficaram esclarecidos.
    Parabéns pelo trabalho.
    Uma pergunta: as gravuras foram obtidas onde? Adoraria ter uma copia delas.

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