Nas hortas, havia sempre cães famintos, pedintes, hortelões e cavadores, e o indispensável cego da guitarra, acompanhado pela mulher da viola e outros músicos, que entoavam canções de guitarredo fácil e dedilhavam e esganiçavam o fado com um estilo especial e inconfundível, indo de mesa para mesa, onde o peixe fumegava e os canjirões do roxo ferviam.
Nos arrabaldes de Lisboa, pelo Arieiro, Campo Grande, Campolide, Xabregas e muitos outros sítios, eram inúmeros os retiros campestres, onde se comia, bebia, cantava e jogava o chinquilho em mangas de camisa.
Desapareceram já quási todos, uns porque a urbanização da cidade os sacrificou, outros porque passou de moda ir ás hortas, o cego da guitarra eclipsou-se por ordem das autoridades e foi-se o ambiente alfacinha daquelas diversões. (...)
Havia, ainda, o José dos Caracois, no Arieiro; o Faustino e o Guerra, em Cabo Ruivo, donde se viam passar, lá em baixo, os tramways de Vila Franca e se comia um delicioso pudim fabricado pelas recolhidas de Cheias; o Ferro de Engomar, na estrada de Bemfica, bem como Bacalhau, o Charquinho, que foi do Paco, da rua das Gáveas; as Pedralvas; o Caliça, todos em azinhagas próximas;» [1]
O Cemitério de Benfica foi mandado construir no ano de 1869, na sequência da extinção dos antigos cemitérios paroquiais de Benfica e Carnide.
No seu espaço, perto da capela, no lado direito de quem sobe a alameda de entrada, localiza-se o jazigo mais visitado de Lisboa, onde estão depositados os restos mortais do Padre Cruz, objecto da devoção lisboeta e nacional.
O Retiro do Caliça [c. 1904] Estrada dos Salgados a Benfica Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia:
[1] FERNANDES, Eduardo (Esculápio), in Olisipo: boletim do Grupo «Amigos de Lisboa», 1942, n-º 17, pp. 40-41.
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