Uma das mais belas curiosidades arqueológicas do sitio — desapareceu há três anos [c. 1935]. Já cá não está, e é pena. Mas vale um meio minuto de descrição.
Na velha Estr. das Amoreiras, antes da Charneca, havia voltada a Leste, uma graciosa bica ou chafariz — modesta é certo, mas histórica. Viam-se nela esculpidas as armas da cidade com seu navio, e as do Reino, com seu castelo e quinas. Tinha uma legenda que testemunhava ser a obra de 1624, mandada fazer pela «cidade à custa do Real d'Água». E por cima da vêrga que levava a mina viam-se duas inscrições, uma em letra gótica e outra em tipo corrente de inscrição, mas afirmando ambas que «na era de 1398 teve princípio esta fonte no campo de Lourenço Afonso Costas [thesoureiro do Concelho, sendo escrivão d'elle, Lourenço Duraens e mestre pedreiro do mesmo Concelho João Gialdi]».
Bica ou Chafariz de Arroios [c. 1900] Largo de Arroios, antiga Estrada das Amoreiras hoje Rua Carlos José Barreiros Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Até 1848 esse chafariz, n.º 1, estava colocado na frente do prédio referido atrás que foi Palácio do Conde Guarda [vd. gravura]; depois mudaram-no para outro local, a poucos metros, onde a pobre bica acabou (1935) os seus dias: exactamente o sítio da porta 3-A do prédio novo da Rua Carlos José Barreiros.
E podia ter lá ficado, encravada no edifício, e a valorizá-lo, a Bica de Arroios. Era das mais velhas fontes de Lisboa. Foi pena, repito-te. Talvez que agora nos matasse a sede, numa evocação gótica como a legenda de Arroios de há 550 anos.1
Largo de Arroios, gravura [c. 1813] No último plano, a Calçada de Arroios e a antiga Estrada das Amoreiras (Rua Carlos José Barreiros) e o antigo Palácio do Conde da Guarda; ao lado deste a Bica nº 1 ou Chafariz de Arroios; defronte ao palácio vê-se o célebre Cruzeiro de Arroios resguardado por um pavilhão envidraçado, cujo telhado piramidal descansava em pilares de cantaria. Este Cruzeiro foi erigido no reinado de D. João III, para comemorar a beatificação da Rainha Isabel de Portugal; no primeiro plano, à direita, o Palácio dos Senhores de Pancas hoje demolido. [Sopa de Arroios] Desenho de SEQUEIRA, Domingos (1768-1837). Gravura em buril e água forte por QUEIROZ, Gregório, in Biblioteca Nacional Digital |
Por determinação camarária, de 9 de Março de 1848, passou a Bica de Arroios para o princípio da Estrada das Amoreiras (hoje Rua Carlos José Barreiros), a pedido do proprietário do Palácio do Conde da Guarda, Desembargador João Lopes Calheiros de Meneses, que contribuiu com a quantia de 48$000 réis. A primeira água veio a correr em 6 de Dezembro de 1848, sendo os sobejos concedidos ao Palácio dos Senhores de Pancas, mediante o foro anual de 50 réis. Possuía duas torneiras onde o povo e os aguadeiros se abasteciam e, da parte de baixo, uma bica [de água salobra] corria continuamente para um grande tanque, que servia de bebedouro para o gado.
Crê-se que as pedras de maior valor, tanto as inscrições como o escudo e a caravela, recolheram ao Museu das Galveias. 2 3
Crê-se que as pedras de maior valor, tanto as inscrições como o escudo e a caravela, recolheram ao Museu das Galveias. 2 3
Bibliografia:
1 ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, p. 85)
2 Revista Municipal, nº 50 de 1951, p. 10, in Hemeroteca Digital)
3 idem nº 85 de 1968, p. 20)
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