Ora se os Portalegre e Gouveia foram sepultados na igreja
do Convento de Santo Elói, é natural perguntar-se: onde seria, em Lisboa,
o seu palácio?
O palácio já não existe, mas os vestígios e as referências são numerosos e com bastante interesse.
O palácio já não existe, mas os vestígios e as referências são numerosos e com bastante interesse.
Comecemos pela obra de Norberto de Araújo — Peregrinações em Lisboa:
Este outro prédio [vd. 1ª imagem], que antecede o que vai fazer esquina ao Arco de Jesus — recorda o ilustre olisipógrafo — , foi o famoso Palácio, à Ribeira, dos Duques de Aveiro. Não vale a pena perdermo-nos em genealogias. Duas palavras só.
Pertenceu este Palácio aos Marqueses de Gouveia, Condes de Portalegre, que foram também Condes de Santa Cruz e de Sandomil (século XVII) e depois ao Duque de Aveiro (Mascarenhas), o último dos quais, D. José, supliciado em Belém, era filho do 3.° Conde de Gouveia. Pela extinção da Casa de Aveiro é que este Palácio entrou, por herança, na Casa Lavradio (Mascarenhas, por linha feminina, pois o 1.º Marquês e Conde do Lavradio casara com uma filha do 3.º Marquês de Gouveia).
O Terramoto desfigurou inteiramente o Palácio e o sítio. Na porta n.º 17 do prédio [por trás do camião na imagem abaixo], no Campo das Cebolas, se abrem as Escadinhas do Pátio do Lavradio, que conduzem ao Largo do Marquês do Lavradio a S. João da Praça, aonde iremos dentro de poucos minutos.
O palácio Lavradio desintegrou-se desta família no século passado, e era uma ruína transitou a novos proprietários.
Cá estamos Largo do Marquês do Lavradio. Aqui, como te disse, assentava a frente do Palácio dos Duques de Aveiro, depois dos Lavradios. O Terramoto destruiu tudo quási inteiramente. Este aspecto do sítio é do século passado [XIX].==
Diz Pastor de Macedo («Lisboa de lés-a-lés», IV, 47) falando deste Largo:— Fora antes do Terremoto de 1755 o pátio do palácio dos Marqueses de Gouveia, Condes de Portalegre e de Santa Cruz, palácio, que ali, desde a Ribeira até à Rua de S. João da Praça se erguia há muitíssimo tempo. A primeira vez que o vimos citado é em 1654 [...] para depois passar a ser «ao Pátio do Marquês...» para depois passar a ser o Pátio do Conde de Santa Cruz, pelo menos desde 1702 a 1740 e o Pátio do Marquês de Gouveia ou do Marquês Mordomo-mor que era o mesmo titular tratado pelo seu cargo, desde 1744 até ao Terremoto. Desde então até à quarta década do século seguinte foi simplesmente, duma maneira geral, Pátio do Marquês e fugitivamente, desde 1789 a 1792, Pátio do Duque em lembrança do último Marquês de Gouveia ter sido o último Duque de Aveiro.Passando de pois o palácio, por herança, para a casa dos Marqueses do Lavradio, o pátio passou a ser designado, em 1844, por Pátio do Marquês do Lavradio, até que por edital de 7 de Agosto de 1911 teve a categoria de Largo, ... »
As Escadinhas são do século XVIII, anteriores ao Terramoto; oferecem uma certa curiosidade, nos seus dois aconchegados lanços guarnecidos de corrimãos de ferro, e com seu candeeiro de braço, no centro da serventia, a apontar um desenho, entre aguarela e água forte. Pertencem à Câmara Municipal, e sobre o arco da entrada lá estão as três iniciais: C. M.L..¹¹ [em 1901 só se vial duas iniciais "CM" como confirma a imagem acima]
Segundo as informações de Júlio de Castilho, foi a vereação de 1867 quem mandou terraplanar e limpar o sítio, fazendo o largo e também a passagem para quem vinha das Cruzes da Sé e de S. João da Praça para o Campo das Cebolas, na Ribeira Velha.
O portal que tem o n.º 13 pertenceu ao palácio dos Marqueses de Gouveia e talvez seja o que foi mandado fazer pelo 3.º Marquês daquele título, D. Martinho Mascarenhas, 6.° Conde de Sandomil, ao qual alude Tomás Pinto Brandão nuns versos do Pinto Renascido («A Ribeira de Lisboa»):
Como todo Portugal
o vosso portal fui ver,
eu, senhor meu, lá fui ter,
porque o não tinha por tal.
Graças ao louvor tal qual,
que lhe dei com pouco alinho!
porque isso me abriu caminho
a tirar-vos de cortez,
o chapéu como a «Marquês»
e a capa como a «Martinho».
Faleceu o Marquês D. Maninho em Março de 1723; a ser pois, como é possível, o portal que ainda lá está de pé o que ele edificou, deve atribuir-se-lhe como data o primeiro ou segundo decénio do século XVIII. A verdade, porém, sabe-a o portal.==
Bibliografia
CASTILHO, Júlio de, A Ribeira de Lisboa, 1893.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X, pp. 25-39, 1939.
CASTILHO, Júlio de, A Ribeira de Lisboa, 1893.
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X, pp. 25-39, 1939.
Excelente peça. Obrigada.
ReplyDeleteI'm in awe of your skill and commitment. Congrats.
ReplyDeleteMuito obrigada por esta preciosidade!
ReplyDeleteGrande trabalho, muito bom e didáctico.
ReplyDeleteCheers to you for a job well done! No one can compare to your creativity and passion, and it's no surprise that you've become so successful
ReplyDeleteThis is brilliant work!
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