Sunday, 12 December 2021

Palácio Lançada e jornal O Século

Conseguimos, enfim, chegar à Rua do Século, a antiga bairrista Rua Formosa, designação já do século XVIII, mas só legalizada pelo edital de 1 de Setembro de 1859.

Encontramos nela, à direita, — diz Norberto de Araújo a Ermida das Mercês [entretanto demolida], e logo o edifício do jornal O Século. A área ocupada por este importante órgão da imprensa é, como daqui podes ver, relativamente extensa.

O «casco» da propriedade é o do palácio que em 1755 pertencia a Manuel de Sampaio de Pina e Brederode, avô do Visconde da Lançada, antepassado dos Duques de Palmela, também um dos donos do solar primitivo.
O Palácio possuía uma capela, da invocação de N. S. do Monte do Carmo, cujos vestígios nítidos durante anos se viam numa das oficinas do jornal, e hoje ainda se descortinam, mas muito reduzidos.
Palácio Lançada e jornal O Século [190-]
Rua de O Século, n.º 41-63; à esq. a Rua João Pereira da Rosa
Fachada principal setecentista.
 Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Os salões do Palácio Lançada tiveram renome intelectual, durante um largo período do século passado; no palácio habitou D. Maria Krus, esposa de D. Pedro de Menezes de Brito do Rio.
Dezenas de figuras ilustres do século passado desfilaram pelos salões de D. Maria Krus, políticos, parlamentares, historiadores, poetas, diplomatas, desde Garrett e José Estevão a Feliciano de Castilho e Bulhão Pato, e daria uma crónica bem alfacinha esse quadro brilhante de espíritos reunidos, nada afectado, nada académico na pretensão.
Esse salão literário precedeu o de D. Maria Amália Vaz de Carvalho, a Santa Catarina, aqui bem perto e que foi igualmente um cenáculo de espírito e de distinção do final de novecentos. 
O Século assenta neste prédio — hoje irreconhecível do seu passado de há cinquenta anos — desde 1881, ano da fundação por Magalhães Lima, primeiro director, ardente paladino republicano que com vários propagandistas e escritores — entre eles Latino Coelho, já na época um alto e nobre espírito — lançaram o jornal no favor do público.
Mais tarde O Século passou à propriedade de José Joaquim da Silva Graça, que começou a figurar como director em 12 de Dezembro de 1896. Havia quatro anos, desde 14 de Novembro de 1892, que o edifício fora comprado aos herdeiros do Visconde da Lançada. Foi ainda no tempo de Silva Graça, proprietário e director, que a Empresa adquiriu (7 de Maio de 1921) o imóvel, desanexado do corpo lateral do Palácio Pombal, para acrescentamento do seu edifício, e instalações desenvolvidas de escritórios e oficinas.

Palácio Lançada e jornal O Século [ 1929-03-17]
Rua de O Século, n.º 41-63
Ao fundo observa-se o edifício novo (1922-1923), situado na ponta S. do antigo
Palácio do Pombal (ou dos Carvalhos).

 Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Integrado no edifício, existiu o Bairro [Operário] do Século, criado por Silva Graça no começo do actual século [em 1905] para moradia do pessoal, mas pouco a pouco absorvido por oficinas e anexos, consequência lógica do progresso material deste órgão da imprensa. Imediatamente a este corpo, e apenas separado por um estreito pátio, levanta-se o edifício novo (1922-1923), desintegrado. como disse, do Palácio dos Carvalhos (Pombal).

O Século ostenta instalações amplas de jornal industrial moderno, e possui, na sua parte antiga, salas, escadarias e dependências caracterizadas ainda por certa nobreza de linhas, ao tipo setecentista, e entre elas uma Sala de visitas, de tecto apainelado, com silhares recortados com muito bons azulejos do século XVIII, de motivos ingénuos palacianos. Na escadaria principal encontram-se panos de azulejos que querem reproduzir o aspecto do prédio no século passado [XIX].==

Palácio Lançada e jornal O Século [1933-06-29]
Rua de O Século, n.º 41-63
Na fachada do edifício novo (1922-1923) ressalta a ampla utilização do ferro forjado
e do vidro, em janelões com guardas de ferro policromado (em vermelhão) típicas
da arquitectura da época e que vazam por inteiro os dois andares intermédios.
 Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

N.B. Para além do valor patrimonial, como interessante exemplar da arquitectura do ferro e do eclectismo, parte da relevância deste imóvel prende-se com a própria história da imprensa em Portugal, razão pela qual as antigas instalações do jornal “O Século” estão classificadas como imóvel de interesse público. O Palácio Lançada alberga, actualmente, o Ministério do Ambiente e da Transição Energética paredes meias com o Palácio dos Carvalhos. 
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. V, pp. 51-53, 1939.
workflow.sgambiente.gov.pt

2 comments:

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