Sunday 5 December 2021

Palácio Pombal, à Rua de O Século

O antigo Palácio Pombal, na Rua do «Século», 65 a 93 [vd. nota], mantém ainda uma configuração uniforme exterior, mesmo depois de alienada e reedificada (1921) a ala Sul, que constitui o edifício moderno do jornal «O Século», cujo título deu, em 1911, nova denominação à antiga Rua Formosa.


O Palácio Pombal, da Rua de «O Século» — e melhor será dizer o Palácio dos Carvalhos, da Rua Formosa  — é uma construção que já existia no segundo quartel do século XVII, recebendo ampliação e reedificação no meado do século XVIII.
Era este o solar de Sebastião de Carvalho e Melo, 3.º senhor do morgado de Sernancelhe, capitão dos familiares do Santo Oficio. falecido em 1719, e de cujo casamento com D. Maria Leonor de Ataíde nasceu Manuel de Carvalho e Ataíde, humanista e académico, casado com D. Teresa Luísa de Mendonça e Melo, pai de Sebastião José de Carvalho e Melo. neste palácio seiscentista nascido a 18 de Maio de 1699, e de cujo baptismo foi padrinho seu avô, senhor da casa.

Palácio Pombal (ou dos Carvalhos) [194-]
Rua de O Século, 65-93 (antiga Rua Formosa); Rua da Academia das Ciências, 1-5
Os Portais Nobres (talvez segundo risco de Carlos Mardel), idênticos, ladeados por candeeiros de gás, de braço, oitocentistas, com escudetes de ferro fundido com o brasão dos Carvalhos e Albuquerques, os quais  portais com ombreiras e portais de cantaria, dão  passagem, além  de  um  passadiço, com abertura de arco de volta abatida, para  o Pátio e para os antigos jardins.
Horácio Novais, in Lisboa de Antigamente

No período áureo do seu poderio, o descendente dos Carvalhos, da Rua Formosa, já Conde de Oeiras, beneficiou e transformou, por acrescentamento, o solar dos seus maiores, no qual viveu antes e depois de entrar na carreira politica, e cuja parte rústica se prolongava para Poente e Norte, constituindo o que se chamava «as Hortas», também com prédios de habitação. Um arco aberto, ainda existente na antiga Rua do Arco [do Marquês, actual da Academia das Ciências], comunicava com dependências do palácio do outro lado da rua e um outro arco-aqueduto servia as antigas hortas. Quase toda a área deste troço da então Rua Formosa, a Poente e a Nascente, era da casa Pombal, da qual o palácio formava a cabeça, como núcleo primitivo.
As reedificações e restauros ordenados pelo Marquês de Pombal podem datar-se além dos meados do século XVIII, cerca de 1770; o Marquês de Pombal aproveitou o merecimento do escultor e estucador italiano João Grossi, que já em 1748 exercia a sua actividade em Lisboa, e foi este artista quem deu a característica decorativa do interior das solar do palácio renovado, embora em quase todas elas subsistisse, como ainda hoje, a decoração cerâmica das paredes, em parte seiscentista. [...]

Palácio Pombal (ou dos Carvalhos) [1918-09]
Rua de O Século, 65-93 (antiga Rua Formosa); Rua da Academia das Ciências, 1-5
Perspectiva tomada do Palácio dos Viscondes de Lançada (antigas instalações do Jornal "O Século").
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

As cinco janelas do andar nobre do corpo onde se rasgam os portais, e as duas contiguas pelo Sul, correspondem a um terraço, sobre o qual no começo do actual século [XX] foram construídos uns anexos de moradia, cujo telhado é inferior ao do frontispício do edifício, e não se vê da rua.
O Palácio Pombal, onde no tempo dos Carvalhos se realizaram sessões da Academia dos Ilustrados (1716), e depois tantas cenas políticas e palacianas se desenrolaram, está hoje de aluguer; na parte nobre instalou-se em 1927 a Casa da Madeira, que sucedeu, como inquilina, a uma Casa de Espanha como esta sucedera à Legação da Alemanha, e à Confederação Geral do Trabalho (1913). O pátio e troços de jardim estão ocupados por barracões de oficinas de Alfredo Alves & Filhos, firma proprietária também do edifício e terrenos «das Hortas». na Rua da Academia das Ciências.
Nenhum outro prédio da vasta zona que pertenceu à Casa Pombal está hoje na posse de qualquer membro da família.

Palácio Pombal (ou dos Carvalhos) [1912-01]
Rua de O Século, 65-93 (antiga Rua Formosa); Rua da Academia das Ciências, 1-5
Esta frontaria adorna-se de duas ordens de janelas: vinte no andar nobre, de sacada com varões seiscentistas, e dezanove de peitoril no andar superior (o lugar onde devia existir uma janela é ocupado pela pedra  de  armas).
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

N.B. Em  paralelo,  talvez  segundo  risco  de Carlos Mardel,  desenvolveu uma cenográfica operação urbanística fronteira ao palácio, com o fim de engrandecer a envolvente. Um jogo barroco de linhas curvas e rectas permitiu o alargamento de parte da estreita Rua Formosa com a criação de duas meias-laranjas, tendencialmente simétricas. Numa, frente  à entrada nobre do palácio, foi erguido o delicado chafariz, enquanto na outra se rasgavam elaborados portais de acesso  a cavalariças (?).

Palácio Pombal (ou dos Carvalhos) [1930]
Rua de O Século, 65-93 (antiga Rua Formosa); Rua da Academia das Ciências, 1-5
Meia-laranja e portais de acesso  a cavalariças (?).
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Nota(s): O edifício n.º 89-103 da Rua de O Século, tornejando para a Rua da Academia das Ciências, 1-5, actualmente uma propriedade separada, fazia parte do conjunto designado Palácio Pombal.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa: Paços e  palácios nacionais, 1949.

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