«EDIFICADA, 1730, ARQUITECTO LUDOVICE QUE O FOI DO PALACIO DE MAFRA. RESTAURADA E ACCRESCENTADA SOB A DIRECÇÃO DE J. A. SANTOS CARDOSO E MOREIRA RATO — 1867»
De acordo com a inscrição existente na placa sobre uma porta do primeiro andar deste edifício, o palácio terá sido construído em 1730 sob a direcção do arqª João Frederico Ludovice, «que o foi do Palácio de Mafra», sendo restaurado em 1867. Foram encontradas referências a esta propriedade nos antepassados da família Sanches de Brito desde finais do século XVI, estando a mesma na posse de Álvaro Sanches de Brito já nos inícios do século XVII. Este facto poderia corroborar a informação contida na placa, datando o edifício de 1730 e indicando o nome de J. F. Ludovice. No entanto, esta informação, que não revela a fonte primordial em que se baseou, é contraditada por um documento de 1748, constante de um Livro de Cordeamentos. [...]
Palácio Sanches de Brito |ant. 1910| Campo dos Mártires da Pátria, vulgo Campo de Sant'Ana, antigo Campo do Curral Embaixada da Alemanha e instituto Alemão, despis Palácio Patriarcal. Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Aquilo que se pode afirmar com segurança documental é que no início do século XVIII havia umas casas onde habitava Álvaro Sanches de Brito, casas essas que seu filho, João da Costa de Brito, fez demolir e substituir por outras com uma fachada com um corpo central saliente. Aliás, as características arquitectónicas do edificado apontam para data mais tardia de 1730, como se dirá adiante, levando outros autores a atribuírem o edifício ao arq.º Mateus Vicente de Oliveira (1706-1785), discípulo de Ludovice. [...]
Seria que as casas de residência de Álvaro Sanches de Brito foram objecto de uma intervenção de Ludovice, em 1730? É pouco provável que uma obra realizada sob a orientação de Ludovice, por certo de monta, fosse demolida dezoito anos depois, em 1748, para dar lugar a novo edifício, aliás bem aparentado com o gosto introduzido e difundido em Lisboa pelo mesmo mestre alemão. Aliás, Ludovice ainda estava vivo em 1748, pelo que poderá ter indicado o seu discípulo Mateus Vicente para dirigir o projecto. Esta afinidade poderá ter induzido em erro os autores dos restauros datados de 1867, afixando na placa a informação da autoria de Ludovice e a data de 1730. [...]
Palácio Sanches de Brito |1907-03| Campo dos Mártires da Pátria, vulgo Campo de Sant'Ana, antigo Campo do Curral Embaixada da Alemanha, visita do Rei de Saxe a Lisboa. Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Pelo menos até 1833, a propriedade manteve-se na família, sendo mais tarde vendida à família Costa Lobo, responsável pela campanha de obras de 1867, como parece indicar a existência do seu brasão de armas em ferro sobre a porta de entrada. Nestas obras ter-se-ão provavelmente acrescentado alguns elementos decorativos em pedra, sobretudo em torno da mesma porta axial, bem como a balaustrada sobre a cornija e as estátuas que a coroam. [...]
No princípio do século XX esteve instalada no palácio a embaixada da Alemanha, ao tempo que era embaixador o Conde de Tattenbach, que aqui deu grandes festas, sobretudo aquando da visita a Lisboa do Kaiser Guilherme II. Depois, um dos membros da família Costa Lobo doou a sua parte do edifício à Misericórdia de Lisboa, vindo este a ser arrendado para instalação da residência do patriarca de Lisboa, em 1913. A outra parte acabou por ser adquirida pelo cónego Manuel Anaquim e pelo padre António Joaquim Alberto que depois arremataram a parte da Misericórdia (1923/24), mantendo-se o Patriarcado na sua posse até tempos recentes.
Palácio Sanches de Brito [1907-07] Campo dos Mártires da Pátria, vulgo Campo de Sant'Ana, antigo Campo do Curral Embaixada da Alemanha Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente |
Nota(s): Os mencionados membros desta família Sanches de Brito, nos finais do século XVII e ao longo do século XVIII, destacaram-se nas lides marítimas, como oficiais de marinha de guerra, como coronéis de mar e capitães de mar e guerra. O primeiro, Álvaro, chegou a ser governador da fortaleza de São Lourenço da Barra (Cabeça Seca), o filho, João da Costa de Brito chegou a capitão de mar e guerra, com uma carreira militar que ultrapassou os 40 anos ao serviço da armada.
Por fim, José Sanches de Brito, fidalgo da Casa Real e comendador da Ordem de Cristo, chegou a almirante da Armada Real.
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BibliografiaMATOS, José Sarmento de; PAULO, Jorge Ferreira, «Da relevância dos Livros de Cordeamentos no estudo da arquitectura de Lisboa – O caso do Palácio Sanches de Brito», MATOS, José Sarmento de; PAULO, Jorge Ferreira, 2014.
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