Wednesday, 9 January 2019

Travessa da Trabuqueta

Nesta Rua do Arco [a Alcântara] que leva à Rua Vieira da Silva, —  recorda-nos o ilustre olisipógrafo Norberto de Araújo —  nasce, logo à direita, a Trabuqueta.  
Trabuqueta! Vê tu que bizarra designação. Deve ser antiga, talvez desde o princípio deste dédalo arruado e insignificante. Aí tens uns casebres côr de rosa, ao lado de uns prédios de há meia dúzia de anos, mais senhores de si. 
A Trabuqueta e o Baluarte [Tv.] são vizinhos, cada um deles com a sua travessa e com o seu ar compungido de quem suplica —  que não reparem neles.

Travessa da Trabuqueta |c. 1940|
À esq., a Rua do Arco a Alcântara
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente

Aquele gordíssimo e riquíssimo Jacinto a quem chamavam em Lisboa o «D. Galião», descendo uma tarde pela Travessa da Trabuqueta, rente de um muro de quintal que uma parreira toldava, escorregou numa casca de laranja e desabou no lajedo. Da portinha da horta saía nesse momento um homem moreno, escanhoado, de grosso casaco de baetão verde e botas altas de picador, que, galhofando e com uma força fácil, levantou o enorme Jacinto — até lhe apanhou a bengala de castão de ouro que rolara para o lixo. Depois, demorando nele os olhos pestanudos e pretos:
— Oh Jacinto «Galião», que andas tu aqui, a estas horas, a rebolar pelas pedras? E Jacinto, aturdido e deslumbrado, reconheceu o Senhor Infante D. Miguel! 
(QUEIROZ, Eça de, A Cidade e as Serras, 1901)

Travessa da Trabuqueta |c. 1940|
À esq., a Rua do Arco a Alcântara
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente
 
N.B. A Travessa da Trabuqueta, na freguesia dos Prazeres, foi fixada na memória de Lisboa em data que se desconhece e sobre ela apenas se conhece o que o olisipógrafo Norberto Araújo dela descreve.
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, pp. 23-24, 1939.

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