Os duelos em defesa da honra aparecem abundantemente mencionados na obra literária de Eça de Queiroz. Em Os Maias, por exemplo, a páginas tantas, Ega informa Carlos da Maia de que Dâmaso Salcede anda a difamá-lo a ele e a Maria Eduarda. Carlos fica furioso, querendo matá-lo e desafia-o para um duelo. O duelo — escreve Eça — devia ser à espada ou ao florete, um desses ferros cujo lampejo, na sala de armas do Ramalhete, fazia empalidecer o Dâmaso. Se contra toda a verosimilhança ele se batesse, Carlos fazia-lhe algures, entre a bochecha e o ventre, um furo que o cravasse meses na cama.1
O duelo de honra ainda era, em 1915, uma instituição social e política em Portugal. Não era legal, pois desde l852 que o código penal estipulava penas correccionais para os duelistas e suas testemunhas, mas as autoridades fechavam os olhos ou transigiam muito na aplicação da lei. Apesar da proibição do duelo e da sua condenação pela igreja, por volta de 1900 um oficial ainda podia ser expulso das fileiras militares caso recusasse bater-se pela sua honra. com a República, a instituição do duelo começaria a declinar, mas não de imediato. No passado, vários políticos republicanos, como Afonso Costa [2º foto], tinham-se batido em duelos famosos. os duelistas eram principalmente políticos, militares, advogados e jornalistas, de qualquer quadrante político. Batiam-se de florete ou sabre e, mais raramente, à pistola.
Duelo entre Cristóvão Aires de Magalhães (de costas) e Óscar Monteiro Torres [16 de Junho de 1915] Estr. da Ameixoeira (junto à Calçada de Carriche)
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
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A Ilustração Portugueza, que não falhava o relato desses combates, noticiou a 28 de Junho de 1915 dois duelos ocorridos pouco antes. O mais documentado era um duelo de sabre que teve lugar na Estrada da Ameixoeira entre Cristóvão Aires, ex-capitão de infantaria, de 34 anos, e Óscar Monteiro Torres,
tenente de cavalaria, de 26 anos, à data chefe de gabinete do Ministro
da Guerra. Os duelistas tinham posições contrárias quanto à participação
de Portugal na guerra europeia: o republicano Monteiro Torres, era a
favor dessa participação, o monárquico Cristóvão Aires era partidário da
neutralidade. Ao sétimo assalto, Cristóvão Aires foi ferido no braço
(Portela, s.d.). Monteiro Torres seria pouco depois o primeiro português
a obter um brevet de aviador e veio a morrer num combate aéreo
em França, em 19 de Novembro de 1917, depois de abater dois aviões
alemães. Foi o primeiro e até hoje único piloto aviador português a
morrer num combate aéreo. Além de professor do Colégio Militar,
Cristóvão Aires foi também jornalista e historiador, continuando a obra História Orgânica e Política do Exército Português, do homónimo general seu Pai.2
Bibliografia
1 QUEIROZ, Eça de, Os Maias, 1888.
2 BARRETO, José (2015). O ano do Orpheu em Portugal. In Steffen Dix (Org.) 1915: o ano do Orpheu, pp. 78-79.
Fazem falta estes duelos. O Ventura com uma retórica tão musculada, declinaria todos.
ReplyDeleteCertamente...
Deleteou aceitaria....
DeleteO meu amigo come, dorme e respira Ventura. Mas está com pouca sorte, pois ele é heterossexual.
DeleteEntão e o chamussa ?
ReplyDelete"Chamuça" com "ç" cedilhado. Já que quer ser engraçadinha faça-o em português correcto.
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