A Feira do Lumiar — recorda-nos Ferreira de Andrade—, decerto a mais antiga, pois remonta ao longínquo ano de 1276, foi durante séculos considerada a feira de Lisboa com seu aspecto profano e religioso. Era a feira saloia com sua característica de uma fauna natural de gente do campo, suas carroças e burricos; uma aguarela que o rodar do tempo esfumou.
Feira do Lumiar |c. 192-| Também denominada de Santa Brígida ou de São João Largo e Igreja de São João Baptista; o Chafariz do Boneco que alindava o sítio foi transferido para o Largo Júlio Castilho em 1909. Artur Bárcia, in Lisboa de Antigamente |
Feira do Lumiar |c. 1900| Também denominada de Santa Brígida ou de São João Largo (da Igreja, à dir.) de São João Baptista; à esq. o Chafariz do Boneco e o Palácio Angeja-Palmela, actual Museu Nacional do Traje. Artur Bárcia, in Lisboa de Antigamente |
A Feira do Lumiar — lê-se por sua vez no Povo de Lisboa — desenvolveu-se paralelamente à Procissão das «Candeias» dedicada, no dia 2 de Fevereiro, a Santa Brígida, a mártir irlandesa com altar na paroquial do Lumiar. Era parte importante desta procissão, a cerimónia de consagração dos gados a Santa Brígida: os romeiros traziam gado enfeitado e levavam-no a dar três voltas em redor do santuário. A esta feira acorria muito povo de Lisboa e do termo e nela tinham grande representação os hortaliceiros, leiteiros e lavadeiras que chegavam a pé, de burro ou, aos solavancos, em carroças ou galeras.
Feira do Lumiar |c. 190-| Também denominada de Santa Brígida ou de São João Estr. do Lumiar e Largo de São João Baptista Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente |
Era um feira mista, de gado e artigos diversos, com barracas modestas, onde se vendiam objectos e produtos essenciais: panos, roupas feitas, calçado, louças de barro, artigos caseiros, cereais, legumes, frutas da época, a laranja de Setúbal e pêros doces, cortados às rodelas, com os quais formavam grandes enfiadas. A par das barracas de hortícolas e dos frutos, havia barracas de comidas onde aparecia o leitão assado, espalmado, tão apreciado em toda a região saloia. Havia também barracas para venda de quinquilharias e apareciam ourives ambulantes oferecendo arrecadas e outros objectos de adorno aos quais o povo chamava «lateiros».
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