Sunday 16 June 2024

Rua do Salitre, ao Rato

Rua do Salitre, artéria que em muitos anos precedeu o Terramoto, a qual como sabes, foi chamada Rua da Palmeira no troço que ainda subsiste, pois já disse que ela chegava a S. José. 


Até ao séc. XIX a Calçada do Salitre ainda guardava muito do seu passado rural — recorda o ilustre Norberto de Araújo — , logo a começar pelo seu topónimo derivado das nitreiras das hortas dos frades Cartuxos e será após a construção da Avenida da Liberdade que, gradualmente, passará a ter antes a categoria de Rua. Este topónimo nasceu das nitreiras ou salitrais que os frades de São Bruno – conhecidos como Cartuxos ou Brunos – tinham nas suas hortas, nos terrenos que detinham nesta artéria, já que salitre é o nome vulgar do nitrato de potássio, um adubo. O Salitre ganhou ao topónimo anterior, do séc. XVI, que era Horta da Palmeira. 

Rua do Salitre, ao Rato |1908-05|
Prédio — já demolido — para abertura do troço final da Rua Alexandre Herculano (c. 1910)
e que fazia gaveto com a Rua São Filipe Neri. A linha do eléctrico seguia para a Rua da Escola Politécnica.
Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente

A Rua do Salitre cujo lado esquerdo constituía a orla exterior do fundo da cerca do Noviciado da Companhia de Jesus, depois Colégio dos Nobres, que vendeu os terrenos para edificações — foi sítio onde habitaram muitos lisboetas de destaque, entre eles Garrett.
Em cima corria o Vale Pereiro, do qual existe, em reminiscência, uma parcela da Rua com aquele dístico, e que leva do Salitre a Alexandre Herculano. No alto da Rua do Salitre, n.º 148 residiu de 1816 para 1817 o general Gomes Freire de Andrade, ali preso em 26 de Maio daquele último ano; uma lápide foi colocada na fachada em 20 de Outubro de 1917.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, 1939)

Largo do Rato e Rua do Salitre |c. 1900|
Salitre (  direita ) principia no Largo do Rato, e termina na Av. da Liberdade.
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

N.B. Durante o séc. XIX, em diversos documentos municipais, plantas, requerimentos ou licenças para construção ou obras em prédios esta artéria tanto é assinalada quer como Calçada quer como Rua, mesmo que na 2ª metade do século seja mais usado Rua, sendo exemplo maior dessa dupla grafia um processo de expropriação de 1881- para a abertura da Avenida da Liberdade- em que a planta do local de Ressano Garcia refere Calçada e no texto do Presidente José Gregório Rosa Araújo se menciona Rua. [cml]

7 comments:

  1. Maravilhoso. Amo cada postagem pois só me trazem ótimas recordações.

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  2. Valdemar Silva17 June 2024 at 23:22

    Seria bom ir agora pela mesma rua e ver e quantificar quantos edifícios antigos foram deitados abaixo para serem construídos mamarrachos

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  3. Devia era ter- se preservado os prédios antigos,faziam parte da história da cidade!

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  4. A historia da cidade indo por água abaixo....

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  5. Always so many people in the older comparison shots. We see it again here.
    Pat Larkin

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  6. Excelente trabalho sobre Lisboa antiga. Parabéns.

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  7. Saudades destes tempos. Estamos a perder todo o nosso património a nossa cidade já não é a mesma. Vasco C

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