O apontamento mais decorativo de toda a Alfama — diz o autor das Peregrinações e das Legendas de Lisboa — que abre para o exterior são os seus arcos. Se entendêssemos Alfama como um grande templo aberto de pitoresco antigo, havíamos de chamar a estes arcos — pórticos. Guardam expressão, carácter, significado – certa beleza subjectiva.
A altas horas da noite, quando as ruas vão quietinhas no interior do bairro, e a própria Alfama dorme, os arcos retomam então a sua poesia, alguns o seu arcaísmo, outros a sua função de postigo aberto toda a noite, sem trancas. As sombras projectadas dos ângulos e dos contornos são ou medievais ou quinhentistas. Os Arcos de Alfama, todos portas do mar, merecem aos amantes história embrechada de pitoresco, uma ronda de ternura . Uns reproduzem crónicas velhas, outros, que são apenas serventias, sabem historietas.
Arco da Conceição (ou da Preguiça) |1906| À esq. onde se observa o rendeiro com o fardo de rendas às costas; Rua dos Bacalhoeiros e, ao fundo, a antiga Cozinha Económica n.º 5 (Ribeira Velha, 1897) na Rua do Cais de Santarém. Machado & Souza, in Lisboa de Antigamente |
Este Arco da Conceição é uma simples serventia pública, em lances de escadinhas que levam à Rua Afonso de Albuquerque. Tão gracioso na sua escadaria de grimpa, no vestígio do nicho de Nossa Senhora, e na evocação do Chafariz da Preguiça, que lhe ficava ao lado, não passa de uma simples serventia, como as Escadinhas do Marquês do Lavradio, que não têm passado. O dito nicho largo [vd. 2ª imagem] está hoje entaipado sob o arco no seu interior, do qual se vê ainda uma guarnição de azulejo. [Araújo: 1939-1943]
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