A igreja da Sé — orago de N. Senhora da Assunção — é o único monumento sacro, de fundamento românico, existente em Lisboa, e, com exclusão do Castelo, o mais antigo documento monumental da cidade.
Estamos diante da Sé, Dilecto companheiro, monumento nacional por excelência, e, certamente, o mais antigo de Lisboa.
Esta fachada, com o seu ar vetusto, o seu semblante romântico, a sua patine desigual, sinal dos restauros e das transformações — é só por si um interessante documento de arquitectura religiosa, medieval, e ajusta-se à índole portuguesa "forte, rude, crente e sem requinte", no dizer de Reinaldo dos Santos.
Até há meia dúzia de anos [c. 1932] esta fachada não era bem como hoje a vês. Deves talvez lembrar-te ainda do pórtico gradeado avançado ao nível do corpo do edifício; do adro mais elevado do que o de hoje, guarnecido por uma cortina [e gradeamento]; do corpo central entre torres, na frente do terraço onde hoje avulta uma bela rosácea recuada, e que constituía o fundo do coro alto da Igreja, com um grande óculo em caixilho de ferro envidraçado e duas desgraciosas janelas também envidraçadas; das janelas mesquinhas nos corpos laterais onde assentam as torres, janelas hoje substituídas por outras românicas geminadas, uma de cada lado. Aquela fachada anterior à actual foi obra dos restauros desassisados do fim do século XVII que tiraram ao monumento a sua importância e até o seu carácter. E deves recordar-te também de uma pirâmide de cimento armado que até há poucos anos existiu sobre o eirado da torre Norte [vd. 2ª foto], que é esta que faz esquina para a Rua do Arco do Limoeiro.
Este é, companheiro Dilecto, o templo fundado pelo Rei Afonso Henriques em 1147, logo depois da tomada de Lisboa.
Se ele assenta, como muitos supõem, sobre a antiga mesquita moura, não o sei eu, pois nem um vestígio único aparece que o indique. E muito menos se pode saber se essa mesquita, a existir, teria assentado sobre algum templo cristão visigodo, do período que antecedeu a dominação muçulmana. Fiquemos no seguro: em que a Sé é de Afonso Henriques, templo começado logo em 1147, e cujas obras se prolongaram por outros reinados. Embora o nosso primeiro rei tivesse vivido até
1185, não é muito de crer que dentro do seu tempo o templo se tivesse
concluído, “em definitivo", preocupados como andavam o monarca e os
homens bons com as guerras militares e políticas.
A mesquita moura, que seguramente existia, era a do Castelo. depois Igreja de Santa Cruz, logo entregue ao primeiro bispo de Lisboa, o inglês D. Gilberto de Hastings.
Deu-se o Terramoto de 1755. Apesar da ruína exterior não ter sido tão
grande como alguns escritores podem fazer crer, caiu a altiva tôrre sineira — magestosa indicação do espírito religioso dominante, com a sua
dupla ordem de pavimentos janelados — e na sua queda provocou irreparáveis estragos.
A planta da Sé, levantada em 1882, demonstrava bem que o «monumento nacional» — classificação de 10 de Janeiro de 1907 e 16 de Junho de 1910 — era um caos. O engenheiro Augusto Fuschini, mais artista que arqueólogo da arquitectura, foi o primeiro impulsionador do restauro da Sé (1899-1911), seguindo-se na direcção das obras, quási imediatamente à morte de A. Fuschini, o arquitecto António do Couto [Abreu] (Agosto de 1911 à actualidade), cuja cultura técnica firme e probidade, orientadas superiormente pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, lograram a conclusão das obras (1939-1940), na reintegração do monumento, no seu possível semblante romântico e gótico, ·reaparecendo a Sé, quer no exterior quer no interior, nas suas nobres linhas arquitectónicas da fábrica primitiva (apenas a Capela-mor, e a Capela do Santíssimo se conservam no gosto setecentista do restauro).
A Sé vista de avião [1938] Largo da Sé e Rua Pedras Negras (à esq. em baixo), Rua Augusto Rosa (antiga do Arco do Limoeiro); Cruzes da Sé (à dir.); no primeiro plano vê-se a Igreja de Santo António de Lisboa; no edifício da Sé distinguem-se ao fundo o Claustro, e ao centro a base da desaparecida torre sineira. «[...] Estas torres [Sé], primitivamente, não tiveram sinos, os quais se situavam na tôrre sineira, sôbre a cúpula do cruzeiro, e que o terramoto arrazou. [...]» Pinheiro Correia, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, 1944.idem, Peregrinações em Lisboa, vol. II, pp. 31-35, 1938.
A inscricao no portico de entrada da se' sempre existiu, ou e' fruto da renovacao?
ReplyDeleteInscrição no pórtico da Sé?
Delete"In omnem terram exivit sonus eorum, et in fines orbis terrae verba eorum."
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ReplyDeleteUma Sé que pesar de imponente, não é das mais bonitas de Portugal, para mim claro !
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Antes de Afonso Henriques terá sido cristã monofisita ou romana-bizantina. Nunca visigoda! Lembro que o bispo cristão de Lisboa foi decapitado pelos cruzados que conquistaram Lisboa para a doarem a Afonso Henriques, conforme directrizes de Bernardo de Claraval.
ReplyDeleteLooking for my friend Artur Botelho family and frieds such as two neighbors who were cousins (Paula/ Isabel an her brother Carlos....Miquinhas, Mercedes, Tina, Joca Ze,,, lived on the left side of the Se...50s, 60s 70s and 80s.
ReplyDeleteEver looked at it during a clear night and a full moon?
ReplyDeleteEver spent time to let a full moon be absorved whilst you hear the tram going by? The garden could be a start, or perhaps the steps to the cathedral themselves!
ReplyDeleteIt is just the light the soul needs to bring you back in time as to wrap your arms around memories of the heart, family and how many others lived through it in another time at that same place...Memories long gone but not forgotten
From New York
Fernando P Santos