Sunday, 23 February 2025

Avenida António Augusto de Aguiar, 144: Casa Júlio de Andrade

No contexto do grande plano de desenvolvimento camarário da cidade de Lisboa em direcção a norte, entre 1897 e 1898 foi rasgada a Av. António Augusto de Aguiar que, contando com pouco mais de um quilómetro de extensão, finalmente concretizava (embora de forma enviesada) a ligação há muito pretendida entre a Avenida da Liberdade e a Estr. da Circunvalação (actual Rua Marquês da Fronteira). Apenas em 1903 foram disponibilizados os talhões do quarteirão triangular formado pela Av. António Augusto de Aguiar, Rua Marquês da Fronteira) e Estr. da Palhavã (actual Rua Nicolau Bettencourt), junto do local onde a primeira terminava.
Em Junho de 1903, Júlio de Andrade (1838-1906), acrescentaria ao seu pecúlio o lote nº 34 (também com frente para a estrada da Palhavã), no aludido quarteirão triangular no extremo norte da avenida. Para este último contratou Raul Lino para projectar o que terá sido outra casa de rendimento.
A 29 de Fevereiro de 1904, «foi celebrado o contrato para a construção da casa entre o proprietário e o construtor civil Manuel Joaquim de Oliveira, tendo o arq.º Raul Lino e Inocêncio Madeira como testemunhas. A empreitada foi dada por 18:100$000 a pagar em sete prestações, devendo a obra estar concluída num prazo máximo de 12 meses.

Avenida António Augusto de Aguiar, 144 |post. 1903|
Casa de Júlio de Andrade; atrás e a dir. notam-se as antigas torres do 
Parque José Maria Eugénio sobre a Rua Dr. Nicolau Bettencourt.
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

A fachada principal é definida pela configuração das coberturas, muito inclinadas e com beirado em madeira, à imagem dos chalets centro-europeus. Esta fachada era composta por volumes discretamente desencontrados, num jogo de vãos e varandas, cujas guardas de ferro apresentavam um intrincado desenho plenamente imbuído do estilo Arte Nova.
A casa de Júlio de Andrade não sobreviveu às alterações do tempo, tendo sido demolida em 2003, em vésperas de cumprir o primeiro centenário. [DGPC]

Avenida António Augusto de Aguiar, 144 |1966-04|
Casa de Júlio de Andrade; atrás e a dir. notam-se as antigas torres do Parque José Maria Eugénio sobre a Rua Dr. Nicolau Bettencourt.
Augusto de Jesus Fernandes, in Lisboa de Antigamente

N.B. Júlio de Andrade, (?-1906), apaixonado zoófilo, não foi só um ilustre membro da abastada burguesia lisboeta do final do séc. XIX. A sua acção destaca-se pelo seu papel enquanto membro fundador da Sociedade Protectora dos Animais em 1875.Em 1882 Júlio de Andrade teve a ideia de oferecer à cidade de Lisboa em nome da S.P.A. fontanários-bebedouro para animais. Foi director do Banco de Portugal (fundado a 19 Nov. 1846) e do Banco Lisboa & Açores (fundado a 22 Mar. 1875), tendo-se no entanto destacado pelos seus actos de benemerência.
Através de edital de 12/05/1910 a Câmara Municipal de Lisboa  homenageou-o com atribuição do seu nome à rua entre o Campo dos Mártires da Pátria e a Travessa da Cruz do Torel.  

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