Sunday, 15 May 2022

O Sítio de Santo André

Foi neste Largo de Rodrigues de Freitas que nos despedimos no cabo da última jornada — recorda o ilustre Norberto de Araújo. Aqui nos voltamos a encontrar — no coração do velho Santo André, santo da toponímia popular, cujo nome encheu o sítio, e por muitos anos perdurará. Vão lá dizer as gentes que isto aqui não é «Santo André»!
A designação deriva da circunstância de neste local de que nos vamos aproximando — a Travessa do Açougue , que conduz em pequena rampa à Calçada da Graça — ter existido a Igreja Paroquial daquela invocação.

Sítio de Santo André [c. 1939]
Largo Rodrigues de Freitas antes das demolições. Perspectiva tirada do Largo do Menino Deus sobre a Travessa do Açougue, S. Vicente e Graça; na esq. alta nota-se a mansarda da Vila Sousa.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

O primitivo templo datava de 1286, ou mesmo de mais longe, e dele fez doação D. Diniz a Aires Martins e a sua mulher Maria Esteves, sendo pouco depois constituído em sede de freguesia eclesiástica. Com o decorrer do tempo quantos sacrifícios de obras não deveria ter recebido o desaparecido templozinho, que possuía apenas uma nave e cinco capelas! Mas durou de pé até ao Terramoto, e chegava para a freguesia.
Muito ofendido em 1755, aquando do sismo, e depois reedificado, ai por 1835, ameaçava ruína de tal sorte que sofreu a pena irremissível da demolição. Entre as cinco capelas que oferecia à devoção, uma era falada: a de Nossa Senhora da Vida. Que generoso nome! A imagem desta linda capela e a do orago foram transferidas para a Igreja da Graça. Uns preciosos azulejos policromos que a capela ostentava conservam-se na Biblioteca Nacional. A paróquia eclesiástica, à qual antes de 1835 se reunira a de Santa Marinha, passou para a da Graça.==

Sítio de Santo André [1953-06]
Largo Rodrigues de Freitas depois das demolições, encruzilhada de uma meia dúzia de pequenas ruas, oásis verdejante, com algumas casas bem antigas mas, infelizmente, bastante degradadas. Perspectiva tirada do Largo do Menino Deus sobre a Travessa do Açougue; Palácio Figueira.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

N-B. A CML através do seu edital de 14/10/1915 prestou homenagem a Rodrigues de Freitas (1840-1896), nome ligado ao jornalismo e à propaganda republicana. Economista, político e pedagogo, desempenhou um papel relevante no alastrar do movimento republicano, tendo sido um dos primeiros republicanos portugueses a ser eleito para a Câmara dos Deputados em 1870. Esteve implicado na revolução fracassada do 31 de Janeiro de 1891. Aderiu ao denominado socialismo catedrático publicando várias obras dentro desta ideologia. 
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Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. III, pp. 12-13, 1938.
cm-lisboa.pt.

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