Wednesday 4 December 2019

Profissões de antanho: o vendedor d'ostras

O pregão do homem das ostras é curto, sacudido, rijo como a concha do molusco. Vê-se que o vendedor d'ostras não pode perder tempo, por causa do que lhe gasta o abril-as:

 

— Quem quer ostras?

— Ostras, ostras!


Todas as tardes os homens das ostras as vinham vender, apregoando e cirandando por aí, quase sempre indivíduos de meia-idade para quem aquele fraco negócio ia dando para as necessidades da vida, então sem reforma. Normalmente eram homens que tinham sido do mar e junto deste, pela Margem Sul do Tejo, por Aldeia Galega (hoje Montijo) e proximidades, esgravatariam nos bancos de ostras os preciosos moluscos que vinham vender pelas ruas e aos restaurantes onde se cozinhavam bons pitéus.

Vendedores d'ostras |191-|
Rua da Misericórdia, antiga de S. Roque, esquina com a Tv. do Poço da Cidade. 
Alberto C. Lima, in Lisboa de Antigamente

No estrangeiro, sobretudo em Inglaterra e França, as nossas ostras foram sempre muito apreciadas, e neste último pais até apresentadas nos restaurantes com o aliciante letreiro: huítres portugaises.
A avolumar a fama das ostras portuguesas dizia-se que um navio que as levava para França naufragara perto da foz do Loire, e os moluscos, libertados dos caixotes, ter-se-iam fixado nos bancos daquele rio, cerca de Nantes, onde agora as exploram em viveiros, mas sempre com o cartaz de huítres portugaises!
É de lamentar que a poluição das águas do Tejo tenha acabado com as nossas ostras, o que não só fez desaparecer os vendedores que, melodiosamente embora em baixo tom, as apregoavam, como acabou um excelente petisco popular.

— Quem quer ostras?

— Ostras, ostras!

 

Marchand d'huitres |c. 1914|
Rua da Madalena, 271
Charles Chusseau-Flaviens, in Lisboa de Antigamente
Nota(s): o local da foto não está identificado no arquivo.
 
Bibliografia
DINIS, Calderon, Tipos e factos da Lisboa do meu tempo: 1970-1974, p. 290, 1986.

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