Sunday 7 July 2024

Arco do Marquês do Alegrete, ao Martim Moniz

Ora aí temos o Arco do Marquês do Alegrete — diz Norberto de Araújo — no aspecto de 1674, ano em que foi transformada a velha porta de S. Vicente da Mouraria, assim chamada ainda em 1554. Intitula-se do Marquês do Alegrete, porque a ele se encostou o palácio construído pelo Conde de Vilar Maior, antecessor da Casa dos Alegretes, depois Penalvas e Taroucas (Teles da Sylva).
 
 
O boletim trimestral — Olisipo do grupo de Amigos de Lisboa — , apurou em Abril de 1945: «Passam por hora sob o Arco do Marquês de Alegrete: mais de 100 eléctricos, 200 automóveis, 6000 pessoas a pé e muitos caminhões. Apesar de algumas dúvidas nas quantidades, sobretudo no exagero de tantos eléctricos por hora quando competiam num buraco de agulha, além da multidão, com «caminhetas e carretas», cito o rol feito pelo olisipógrafo Luís Pastor de Macedo — a quem vamos sempre seguindo.

Arco do Marquês do Alegrete, ao Martim Moniz |1946|
Arco do Marquês do Alegrete
 — durante as demolições na Mouraria; Salão Lisboa
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

A tradição conta-nos que Martim Moniz era um dos cavaleiros de D. Afonso Henriques que em 1147, na conquista de Lisboa, se atravessou numa porta da muralha do Castelo dos Mouros, impedindo o seu fecho e, sendo de imediato morto pelos sitiados enquanto garantia a abertura necessária para a entrada dos exércitos cristãos conquistarem a cidade.
Em 1908 o herói Martim Moniz ganhou uma placa evocativa na porta do seu sacrifício e, em 1915, ficou também imortalizado na toponímia da Mouraria já que a Rua de São Vicente à Guia – que se situava entre a Rua da Mouraria, Rua do Arco do Marquês de Alegrete e a Calçada do Jogo da Pela – se passou a denominar Rua Martim Moniz, pelo Edital de 14 de Outubro de 1915. Contudo, as alterações urbanísticas do local iniciadas a partir da década de 30, a pretexto de ligar a Avenida Almirante Reis ao Rossio, acabaram por fazer desaparecer o Mercado da Figueira, parte da Mouraria e este arruamento.

Arco do Marquês do Alegrete, ao Martim Moniz |1945|
Arco e Palácio do Marquês do Alegrete e Salão Lisboa
André Salgado, in Lisboa de Antigamente

N.B. Em 1961 foi finalmente empreendida a controversa destruição do Arco do Marquês de Alegrete, o último resquício das portas da Cerca Fernandina, a Porta da Mouraria, e recordado em versos:

Arco do Marquês de Alegrete
O quadro ilustra bem
Uma imagem que morreu
Será que existe alguém
Que este passado viveu?
Era palácio e cinema
Eléctricos, engraxadores
Eis a leitura do tema
Ao Arco dos meus Amores.
(Baguinho: 1999)

___________________________________________________________________
Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. III, pp. 78-79, 1938.
MENEZES, Marluci, Mouraria, Retalhos de Um Imaginário: Significados Urbanos de Um Bairro de Lisboa, 2023.
FERNANDES, José Ferreira, Martim Moniz - Como o Desentalar e Passar a Admirar, 2024.

11 comments:

  1. Do e no tempo em que Lisboa era realmente bonita e agradável para viver e passear.

    ReplyDelete
  2. A minha linda Lisboa está toda modificada.

    ReplyDelete
  3. E quando foi demolido o arco, já agora?

    ReplyDelete
    Replies
    1. Se quiser seguir o link "Rua do Arco...", tem lá a resposta. De qq modo, vou acrescentá-la ao texto para evitar a mesma pergunta constantemente.

      Delete
  4. Que saudades, por estas e por outras é que gosto mais da Lisboa antiga que esta nova que não se parece com nada.

    ReplyDelete
  5. Eram coisas antigas mas, era bom ver o fervilhar do povo por essas ruas e vielas.
    Carla

    ReplyDelete
  6. Os eléctricos faziam chegadas, partida para diversos destinos. Selma

    ReplyDelete
  7. Eu quando tinha 15 anos trabalhei num pequena fábrica de luvas numa rua da Mouraria que já não existe era a rua das Atafonas por baixo do hospital de S. Jose.

    ReplyDelete
  8. Ainda o cheguei a ver, fazia fronteira com o Poço Borratem!

    ReplyDelete
  9. Meu avô tinha nesta zona várias padarias.

    ReplyDelete
  10. Lembro me muito bem no Martin Moniz belos tempos saudades da minha antiga Lisboa.

    ReplyDelete

Web Analytics