Ora eis-nos no Jardim da Estrela [ou Guerra Junqueiro], um dos maiores e mais formosos de Lisboa central, e seguramente — desaparecido que foi o velho Passeio Público — o de mais tradições alfacinhas, e que se envolve, pela sua característica infantil, numa atmosfera de ternura.
Na segunda década do século passado [XIX] os chãos,
onde veio a construir-se este Jardim, eram de cultivo, com alguns
casebres, pertencentes a um António José Rodrigues. A ideia do Jardim neste lugar deve-se ao Marquês de Tomar e a sua realização a um donativo inicial de quatro. contos feito por um português do Brasil, Joaquim Manuel Monteiro. A obra começou em 1842, mas esteve interrompida, por
motivo de lutas políticas, de 1844 a 1850. Finalmente a plantação
começou naquele ano, sob a orientação dos jardineiros Bonard e João
Francisco; em Abril de 1852 foi aberto ao público.
Panorâmica da Estrela tirada do zimbório da Basílica da Estrela [194-] Jardim da Estrela; Liceu Pedro Nunes; Av. Álvares Cabral Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
Panorâmica da Estrela tirada do zimbório da Basílica da Estrela [1911] Jardim da Estrela; Igreja e Antigo Convento de Nossa Senhora da Estrela [Hospital Militar Principal Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
O Jardim da Estrela esteve na moda durante toda a metade do século passado: era então o «Passeio da Estrela» das nossas românticas avós, ainda meninas. Neste Jardim existiu, aí por 1876, o famoso «Leão da Estrêla», lindo animal que fora doado pelo colonial Paiva Raposo, e esteve exposto, em sua jaula própria, no alto do parque. Demos uma volta por este encantador recinto.
Como vês «está-se aqui bem». Devia haver nesta Lisboa, privada de parques centrais, meia dúzia de jardins como este.
Como vês «está-se aqui bem». Devia haver nesta Lisboa, privada de parques centrais, meia dúzia de jardins como este.
Jardim da Estrela, garden party [c. 1911] Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente |
A rainha Dona Amélia no Jardim da Estrela [ant. 1908] Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente |
Frondosa vegetação, bem disposta em paisagem — dragoeiros, plátanos, álamos, tílias, araucárias, abundância de rosas na primavera e verão — , canteiros, cascatas, lagos onde vogam cisnes, grutas artificiais, estufas com exemplares raros, alameda, ondulações de terreno habilmente aproveitadas — o Jardim da Estrela honra a Câmara Municipal.
Aqui temos a embelezar as placas de verdura,
algumas peças de arte, que merecem citação: «A Filha do Rei Guardando Patos», por Costa Mota, sobrinho, o «Despertar» por Simões de Almeida,
sobrinho, «O Cavador», por Costa Mota, tio, estes preciosos bichos, em faiança das Caldas, por Rafael Bordalo, «A Fonte» por Maria Glória Ribeiro da Cruz, ainda esse busto em bronze do Actor Taborda — ajudam a compor no ambiente paisagista um vinco de espírito puro,
que sempre da obra de arte irradia.
Jardim da Estrela [c. 1960] «A Filha do Rei Guardando Patos», Costa Mota, sobrinho Artur Inácio Bastos, in LdA |
Jardim da Estrela [post. 1911] «Despertar», Simões de Almeida Artur Benarus, in LdA |
Lisboa foi sempre, Dilecto, uma
cidade de eirados e miradouros. Não se poderá dizer que houvesse sido algum dia uma urbe
ajardinada, na qual se rasgassem parques centrais.
As quintas dos
velhos palácios foram desaparecendo com eles, retalhadas e aforadas pelo
improviso urbano.
Daí o carinho que de mim transparece ao falar- te de um «Passeio» tão gracioso como o da Estrela.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI, pp. 47-48, 1939)
Jardim da Estrela [post. 1914] «O Cavador», por Costa Mota, tio Artur Bárcia, in LdA |
Jardim da Estrela [post. 1912] «Busto do Actor Taborda», Mota, sobrinho Artur Bárcia, in LdA |
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