A Basílica do Coração de Jesus, obra dos arquitectos da escola de Mafra, foi consagrada em 1789, já no Convento se haviam recolhido as freiras carmelitas de Santo Alberto. O Zimbório é o coroamento audacioso desta mole arquitectónica.
Na sua imponência alcandorada a Basílica é o frontal da mais alacre praça de Lisboa. [Araújo: 1943]
A Basílica da Estrela nasceu da devoção de D. Maria I, a Piedosa, ao culto do Sagrado Coração de Jesus. Em 1760, aquando do seu casamento com o Infante D. Pedro, a ainda princesa, fez um voto ao Santíssimo Coração, de lhe erguer uma igreja e convento para as religiosas da Regra de Santa Teresa, pedindo o nascimento de um filho varão. D. Pedro contribuiu para a causa, cedendo os terrenos do Casal da Estrela, na parte ocidental de Lisboa. No entanto, desde logo se depararam uma série de obstáculos à devota princesa, apenas ultrapassados aquando da sua subida ao trono: dificuldades técnicas e económicas (estava em curso a reconstrução da capital após o terramoto de 1755, para a qual o Marquês de Pombal havia disponibilizado todos os meios), bem como teológicas, já que o culto ao Sagrado Coração além de polémico não era aceite pela ortodoxia católica, porque "revalorizava a natureza humana de Cristo sobre a divina" o que implicava uma mudança quase radical na mentalidade e modo de encarar os dogmas da Igreja da época. De facto, só o Papa Pio VI, no final do século XVIII, o aprovará.
A obra é confiada a Mateus Vicente de Oliveira, arquitecto da Casa do Infantado que tinha participado em obras de vulto, nomeadamente no Palácio de Queluz. Entre 1778-79 realiza dois projectos de estilo Barroco, que atingira o desenvolvimento pleno em Portugal no reinado de D. João V, avô de D. Maria I. Tratava-se duma basílica de planta maneirista em cruz latina, onde no transepto existia uma cúpula que iluminava a parte central do espaço, deixando o restante na penumbra e que tinha uma nave única em vez das três habituais.
A fachada tinha dois pisos, com o corpo central de três tramos saliente, onde foi usado o jogo entre pilastras e colunas para a divisão dos mesmos (empregou-se a ordem jónica, feminina, própria para conventos de freiras), sendo ladeada por duas torres sineiras e encimada por um frontão ondulado denunciando a influência do arquitecto italiano Borromini. Elementos típicos do vocabulário barroco são também as estátuas da oficina de Machado de Castro, que adornam a fachada e a imponente escadaria que projectando-se sobre o seu exterior, "promove o diálogo entre o edifício e a cidade". Esta monumentalidade e efeito cénico próprios dos edifícios do Barroco, eram usadas para cativar os fiéis, prolongando todo o espectáculo para fora.
A partir de 1786, o arquitecto Reinaldo Manuel dos Santos é encarregado de terminar a basílica, elaborando um terceiro projecto, aquele que foi seguido, onde introduziu algumas alterações — segundo a tradição — a causa da morte de Mateus Vicente. Substituiu o frontão contracurvado por um triangular e adornou-o com uma profusão de estátuas e fogaréus ondulados, ao mesmo tempo que procedeu ao "alteamento da cúpula com zimbório e lanternim" e enfeitou as torres sineiras de ornatos e arrebiques, que apesar de tudo lhes conferiram uma certa elegância rococó, linguagem estilística que se estava a adoptar. Se há quem considere a Basílica da Estrela uma versão reduzida da de Mafra (obra anterior da época joanina), à intervenção de Reinaldo dos Santos se deve. A questão não é tanto qual o projecto de maior qualidade estética, mas antes o que melhor se adequava a uma igreja e convento de carmelitas, que na sua existência contemplativa prezam acima de tudo a pobreza material e a simplicidade.
Quanto ao interior, este prima pela harmonia da traça, pela nobreza dos materiais usados (pedra de lioz, mármores brancos de Pero Pinheiro, azuis de Sintra, rosas de Negrais, amarelos de Lousa e negros de Cascais) e pela qualidade da maior parte das pinturas, que o tornam num espaço duma sobriedade que prenuncia o Neoclássico.
A sagração da Basílica teve lugar em Novembro de 1789, numa cerimónia de pompa e circunstância, uma década após o lançamento da primeira pedra, resultado da firme vontade de D. Maria I, enquanto que o projecto de Pombal para a sua cidade iluminada se arrastaria até final do século XVIII.
Como diz Nuno Saldanha no Livro de Lisboa, é uma obra sintomática de um final, do Antigo Regime e do Barroco mas reflecte o início de uma espiritualidade moderna.
A Basílica foi a primeira igreja do Mundo a receber o título de lugar de culto ao Sagrado Coração sancionado por bula pontifícia, culto esse que se propagaria ao longo dos séculos seguintes.
N.B. O túmulo monumental de D. Maria I (falecida no Brasil em 1816), todo em mármores, com sarcófago alto e inscrição, obra de Faustino José Rodrigues, e colocado do lado esquerdo da Capela-Mor.
Basílica da Estrela [195-] Túmulo monumental de Dona Maria I Mário de Oliveira, in Lisboa de Antigamente |
Bibliografia
BORGES, Nelson Correia, " História da Arte em Portugal - Do Barroco ao Rococó ", Volume 9, Publicações Alfa, 1986, Lisboa.
SALDANHA, Nuno, " O livro de Lisboa - A Basílica da Estrela ", Capítulo VIII - Destaque I, Lisboa, 1994.
ARAÚJO, Norberto de, Inventário de Lisboa, 1944.
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