Eis-nos no largo de São Miguel — o coração da alfama —, no dizer do olisipógrafo Norberto de Araújo.
Direi o seu Rossio? Não. Seria pender o respeito pelo valor das palavras. E de resto, como vês, o pequeno Largo defronte da Igreja, com a sua palmeira africana no centro, as suas ramificações de becos e vielas, a sua fisionomia de uma pobreza confessada e ingénua, não nos permitem o atrevimento: o Rossio, isto...
Estamos agora, nesta reentrância defronte da quina poente da fachada da Igreja [de S. Miguel], em presença de dois dos mais puros exemplares seiscentistas de toda a Alfama. São estes prédios contíguos, fazendo esquina, n.° 11-13 e n.° 15 [vd- 1ª imagem]; o que enfrenta o terreiro, de um largo ressalto, cor de rosa, janelas pequenas, beirais engrinaldados de ervas nascidas da humidade, é um verdadeiro apontamento para artistas de centelha. Não nos demoraremos perante eles, senão surge a pergunta sacramental: «vão-nos demolir a nossa casas?». Esta gente da Alfama não tem o pavor das revoluções, nem das trovoadas, nem dos incêndios — que se afogam em cobertores de papa —; tem o pavor das demolições.
Ora vê agora esse enfiamento por aí acima, até não sei onde, no complicado das escadarias, ao centro da ladeira empedrada à antiga, lisa e polida, que é um perigo pisá-la. É um dédalo a descoberto. Quintais,
frontarias de dois palmos, gatos, crianças rebolando, e ao fundo, estrídulo, um pregão de laranjas... (...)
Em todo o caso, aqui neste segundo largo [antigo da Cantina Escolar, vd 2ª e 3ª imagens], em ladeira, por trás da Igreja [de S. Miguel], desde há anos chamado da «Cantina Escolar», e que era o prolongamento do Beco do Alegrete [actuais Escadinhas de São Miguel] — lindo nome! — , começo do intrincado Beco das Curvinhas, olha-me este panorama de uma Lisboa que Lisboa não conhece! ¹
Em todo o caso, aqui neste segundo largo [antigo da Cantina Escolar, vd 2ª e 3ª imagens], em ladeira, por trás da Igreja [de S. Miguel], desde há anos chamado da «Cantina Escolar», e que era o prolongamento do Beco do Alegrete [actuais Escadinhas de São Miguel] — lindo nome! — , começo do intrincado Beco das Curvinhas, olha-me este panorama de uma Lisboa que Lisboa não conhece! ¹
Escadinhas de São Miguel, na direcção de Santa Luzia |1939| Antigo Largo da Cantina Escolar Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente |
São Miguel Arcanjo tem 6 topónimos a perpetuá-lo nesta zona de Alfama que foi da antiga freguesia de São Miguel: a Calçadinha, o Largo, a Rua, a que se juntaram no final do séc. XIX o Beco e a Travessa e, já no séc. XX, em 1963, as Escadinhas de São Miguel.
A Rua de São Miguel funcionou como uma típica rua Direita medieval deste local. O Beco e a Travessa que hoje encontramos foram obra do Edital Municipal de 09/07/1894, em vez das respectivas anteriores denominações de Beco dos Mortos e Beco de São Miguel. Estas Escadinhas foram as últimas a integrar a toponímia local, nascidas do Edital municipal de 25/01/1963, para substituir o Largo da Cantina Escolar que a autarquia lisboeta quis ali colocar pelo Edital de 27/10/1916 em homenagem à Cantina Escolar de São Miguel, ali fundada em 1909, e que antes era o Beco do Alegrete.
São Miguel tido como o defensor do Povo de Deus no tempo de angústia e aquele que acompanha as almas dos mortos até o céu, tem aqui lugar derivado à proximidade à Igreja de São Miguel que ali está desde o século XII. A primitiva ermida terá começado a ser construída cerca de 1150 e a sede da paróquia do mesmo nome criada em 1180, ocupando a zona norte de Alfama, mais rural que a da freguesia de São Pedro. ²
Bibliografia
¹ ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. X, pp. 55-57)
² cm.lisboa.pt
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ReplyDeletepode apenas ninguém que tipo de informações de tal um ideal forma
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