Wednesday 17 April 2019

Palácio Sabugosa

O Palácio Sabugosa [antes S. Lourenço] situa-se na Rua Primeiro de Maio (antiga Rua de S. Joaquim, ao Calvário), n.ºˢ 120-124. A sua aparência é vulgar, notando-se a fachada forrada de azulejos, do tipo do século XVII. Os S. Lourenços (César de Menezes, descendentes de Vasco Fernandes César) possuiram uma vasta área de chãos neste sítio terminal do Calvário; foi em 'terrenos seus que se rasgou a Rua Luiz de Camões, essa grande artéria do fim do século — avenida de Santo Amaro.

 
No interior do Palácio Sabugosa as reminiscências seiscentistas estão representadas por alguns panos de azulejo, em regra deslocados do sítio primitivo, por alguns tectos de masseira no andar superior, e por outros pequenos pormenores, que os restauros quase encobriram.


Palácio Sabugosa |c. 1950|
Rua Primeiro de Maio, 112-124
Antiga de São Joaquim, ao Calvário, antes Rua direita do Calvário
Frontaria (séc. XVIII) e fachada lateral do Palácio Sabugosa, em Santo Amaro,  vendo-se a porta que conduzia à «Quinta Cesárea»; anota-se: o Andar  nobre, com seis janelas, de sacada, com  grades de varões, e  coroada de cornija.
Horácio Novais,in Lisboa de Antigamente
Palácio Sabugosa |1965|
Rua Primeiro de Maio, 112-124
Antiga de São Joaquim, ao Calvário, antes Rua direita do Calvário
Frontaria (séc. XVIII) e fachada lateral do Palácio Sabugosa, em Santo Amaro; anota-se:  o Andar térreo, com quatro janelas de pei­toril,  centradas por dois portões triviais, de acesso.
Armando Serôdio ,in Lisboa de Antigamente

 

O Palácio Sabugosa ou dos Césares, em Santo Amaro [vale recordar que Eça leu parte de Os Maias ao Conde de Sabugosa, precisamente neste palácio — protótipo do Ramalhete], remonta ao século XVI, no seu núcleo primitivo. Foi fundado por Luís César, segundo deste nome e apelido, que, como seus avós, foi do Conselho de El-Rei, Guarda-mór das Naus da Índia, Provedor dos Armazéns nos Reinos e Senhorios de Portugal, Alcaide-mór de Alenquer. Foi o primeiro administrador do Morgado dos Césares, insti­tuído na primeira metade do século XVI, por seu pai Vasco Fernandes César.
Luís César de Menezes, cativo da batalha de Alcácer-Quibir, foi um dos oitenta fidalgos res­gatados na carta régia de 10 de Outubro de 1678. Nos anos de 1583 e 1584, Luís César adquiriu várias propriedades, de algumas das quais já era senhor directo. Mas na escritura celebrada pelo tabelião de Lisboa, João Rodrigues Jacome, em 5 de Outubro de 1588 diz-se «Luís César comprou huma casa junto das suas de sua vivenda de S. Amaro» que confrontava pelo Sul com caminho de Lisboa para Belém. No quadrante de um relógio de sol existente nos jardins do palácio lê-se a data de 1605. O palácio ou vivenda de campo — qualificação que mais lhe quadraria — era, porém, quer no sem­blante, quer no interior e disposição, diferente do que veio a ser no século XVIII depois de obras de ampliação e beneficiação levadas a efeito em 1728 por Vasco Fernandes César de Menezes, quinto neto do fundador do palácio, em meados do século XVI [...].

Rua Primeiro de Maio, extracto da Carta topográfica de Filipe Folque, 1857
Legenda:  a Azul a Rua Primeiro de Maio, antiga de São Joaquim, ao Calvário, antes Rua direita do Calvário; a Vermelho o actual Palácio Sabugosa e jardins; a Laranja terrenos da antiga «Quinta Cesárea»

(clicar para ampliar)

Eis por que a vasta propriedade que se estendia à ilharga da quinta dos Césares até ao Alto de S. Amaro, e que havia sido adquirida em 1580, se chamou «Casal do Conde de S. Lourenço» em homenagem à aliança dos Césares com os Condes de S. Lourenço, família muito antiga que precedia de Pedro Pires, rico homem do século Xll, onde entroncaram os Sabugosas.
E de crer que a «Quinta Cesária» — assim foi chamada — fosse anterior à construção da primitiva casa de campo, ou palácio, pois os Césares eram possuidores de largos tratos de terrenos rústicos; quanto à casa seiscentista era um pouco mais recuada, em relação ao alinhamento que o 1º Conde de Sabugosa lhe deu, e servida por um largo portão que não é, evidentemente, o que hoje se abre na fachada principal. [...]
A «Quinta Cesária», que se dilatava para Poente até quase à Ermida de Santo Amaro, e, para Norte, até à zona onde veio a ser construído em 1904 o Palacete Valflor, foi em grande parte retalhada e alienada, para urbanismo local, pelo 3.º Marquês de Sabugosa, alguns anos antes da sua morte (1897); a Rua Luís de Camões foi, no final do século passado [XIX], aberta em terrenos da quinta.
O filho do 3.º Marquês, António Maria Vasco de Melo Silva César e Meneses, 9.º Conde de Sabugosa e 11.º Conde de S. Lourenço — o escritor e académico ilustre, mordomo-mór da Casa Real — promoveu depois de 1898 grandes obras de restauro e transformação no palácio de seus maiores, podendo dizer-se que a actual casa de Santo Amaro, à parte o semblante exterior, é outra em relação ao que teria tido mesmo no século XVIII. Foi o Conde de Sabugosa, ele próprio, o orien­tador artístico dos restauros e transformações, nas quais avultou a construção da biblioteca-livraria, ocupando o espaço de um antigo pátio, contíguo ao jardim: nas decorações trabalharam um artista Anunciação (que não Tomás da Anunciação) e Leandro Braga, mestre entalhador.

brasão de  armas dos Sabugosas tem sido alterado no  decorrer das idades; o do último Conde, e que prevalece, é  encimado pela coroa de duque com o símbolo dos Césares, esquartelado das armas dos Lencastres (armas de  Portugal com filete em  contrabanda), dos  Césares (seis  fustas), dos Melo (seis arruelas) e dos Vieiras (seis vieiras), centrado pelo escudo com leão rompante dos Silvas

Nota:  Como o artigo já vai longo, decidimos inserir aqui a chamada «quebra de página», caso queira continuar a ler a descrição de algumas das salas do Palácio Sabugosa clique em «ler mais [read more]».

As salas do Palácio Sabugosa — classificado como MIP-Monumento de Interesse Público — estão adornadas com inúmeros quadros, especial­mente retratos, de pessoas das famílias Sa­bugosa, S. Lourenço e Murça, de entre os quais merecem citação os do l.º Conde de Sabugosa e da Condessa D. Juliana de Len­castre, além de vários quadros de Josefa de Óbidos e um de Pellegrini.


Palácio Sabugosa, galeria e escadaria [post. 1933]
A  Galeria, ou Sala de Entrada, ao cimo da escadaria, construída em 1728, e restaurada no final do século passado, e nela: o revestimento de silhares de  azulejos, do século XVII, no tipo  geral de todos os do palácio, nos quais predominam, a cor de vinho,  cenas palacianas, em parte advindos dos jardins e, noutra parte, de fabrico imitativo; sete medalhões, representando D. Di­nis, D.  João I, D. João II, D. Manuel I, D. João III e D. João IV, em azulejos recortados com bordadura, fabrico cerâmico do século passado, no tipo de cor e vidradoda restante cerâmica do palácio.
Estúdio Mário Novais, in  F.C.G.

A Sala de Jantar, pequena e original, construída pelo 1.º Conde de Sabugosa (1728), ao tipo da do Palácio do Ramalhão, em Sintra, e nela: a cúpula circular, com duas frestas de aresta, iluminantes; a pintura gfl­ral da sala, envolvendo parede e cúpula, a óleo sobre estuque, representando a fáuna e a flora do Brasil, num tom quente e verde escuro; os armários setecentistas, cavados nas paredes, com delicadas armações envidraçadas; um fogão vulgar num dos topos.

Palácio Sabugosa [post. 1933]
Rua Primeiro de Maio, 120-124
A interessante Sala de Jantar, no tipo da do Palácio do Ramelhão em Sintra.
Estúdio Mário Novais, in  F.C.G.

A Sala de Biblioteca, ou Livraria, cons­truída no final do século passado [XIX] no local onde existiu um pátio interior, e nela: a ga­leria superior, com balaustrada de gradil dourado, que acompanha também a es­cada; o tecto de madeira com clarabóia, a decoração de silhares de azulejos setecentistas, que pertenceram aos jardins; as por­tas de rede das estantes curiosas, no estilo D.João V. António Maria César e Meneses (1851-1923) — 9.º Conde de Sabugosa e 11.º Conde de S. Lourenço — terá aqui encontrado o folheto inédito do Auto da Festa de Gil Vicente, cujo fac-simile fez publicar em 1906.

Palácio Sabugosa [post. 1933]
Rua Primeiro de Maio, 120-124
A Biblioteca, das mais ricas de Lisboa (particulares), con­tém mais de 12.000 obras de ciências, artes, belas letras, jurisprudência, história, teologia, filosofia, etc, etc. (Uma parte da livraria, colecção de manuscritos, da Casa foi vendida em 1875 ao Estado dando en­trada na Torre do Tombo, e constava de 897 espécies documentais, cartas, autógrafos e a colecção relativa às cortes de Torres Novas, de 1438)
Estúdio Mário Novais, in  F.C.G.

O Escritório, realização do último Conde de Sabugosa, com tecto de madeira em caixotõcs geométricos, tipo holandês; ar­mações e portas em talha, de Leandro Braga, uma chaminé de talha e fundo de azulejos de setecentos advindos do Palácio Murça, da Travessa André Valente; chão de parquet.

Palácio Sabugosa [post. 1933]
Rua Primeiro de Maio, 120-124
No Escritório destaca-se uma chaminé de talha e fundo de azulejos de setecentos advindos do Palácio Murça
Estúdio Mário Novais, in  F.C.G.

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IX, p. 43, 1939.
id., Inventário de Lisboa, 1950.

3 comments:

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  2. Lindo, estou procurando um morador de Lisboa Murilo moreno Gonçalves. Mais não acho nada dele. Ele era professor

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  3. Muito belo alguém que já faleceu foi jardineiro da condessa nos anos 40 + - eu amo saber o desconhecido para mim ... muito obrigada .

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