Sunday 3 March 2019

Travessa de André Valente: Casa onde morreu o poeta Bocage

Deixemos à direita a Rua do Século, antiga e ressonante Rua Formosa — diz Norberto de Araújo — à qual voltaremos no cabo dêste capitulo de jornada, e paremos um minuto só na esquina da Travessa de André Valente


Foi êste André Valente, que o dístico em azulejo policromo da travessa, no vértice do seu cotovelo, dá como jurisconsulto do século XVI, um doutor em leis formado em Coimbra, vereador da Cámara de Lisboa, e Desembargador da Casa da Suplicaçâo, e, àlém do mais, muito rico, que viveu na metade de quinhentos e deixou o mundo por volta de 1627.
Este grande prédio, que em 1936 recebeu bemfeitorias interiores e exteriores, foi seu palácio e dêle deriva o nome da Travessa. [...]
 No recanto que faz a travessa [ao fundo na 1.ª foto] , há um pátio alindado à maneira joanina, com um prédio da mesma reconstrução, e que é desde 1923 propriedade do Dr. José da Arruela (marido da Sr* D. Ana Arnoso), por compra aos Condes da Figueira, o que nos leva a crer que nem tôda a Casa dêste sítio de D. Maria José de Melo se desmembrou da Casa Figueira. (Ainda hoje lhe chamam o «Pátio Figueira»).

Travessa de André Valente [c. 1940]
Perspectiva tomada da Rua de O Século
Casa onde morreu o poeta Bocage e, ao fundo, o «Pátio Figueira»
Eduardo Portugal, in AML

Repara nesta portazinha [canto inferior direito], ainda de feitio primitivo sob a traça do século passado, do prédio n.° 25: foi nêle que morreu o poeta Manuel Maria Barbosa du Bocage, em 1805, facto que a lápide sôbre a verga da porta comemora.
Quantas vezes a figura esguia e volteira de Manuel Maria por aqui teria passado? E quantas agruras, nos últimos anos da sua vida, ali consumiu o poeta, pobre, desiludido, estafado de amores, sem paz, naquele primeiro andar onde agora espreita o vulto de uma «vizinha»l
Pois morreu aqui; foi sepultado num cemitério pequenino, cujo sítio havemos de ver na «Peregrinaçãm seguinte, ali na esquina da Rua dos Caetanos e Travessa das Mercês.

Travessa de André Valente, 25 [1905]
Descerramento da lápide comemorativa (à esq.) do falecimento do poeta Bocage
Joshua Benoliel, in AML   

Bibliografia
ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. V, pp. 29-31, 1938.

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