Wednesday 6 September 2017

Comícios republicanos na Avenida D. Amélia

Do nosso tempo é a grande artéria de Almirante Reis, que sucedeu na designação, como tenho dito, à Avenida de D. Amélia: tem 40 anos incompletos. É uma linha urbana de primeira categoria, sem história, que começou a rasgar-se timidamente no final do século passado [séc. XIX]. [1]


Avenida D. Amélia, actual Almirante Reis [1908]
Comício republicano; quarteirão entre as ruas Marques da Silva e Pascoal de Melo (dir.);  em cima vê-se a Igreja de Nossa Senhora da Penha de França.
Fotógrafo não identificado, in Arquivo Municipal Lisboa

Nos últimos anos da monarquia, pela Avenida D. Amélia, agora de Almirante Reis, havia ainda muitos tapumes à espera de construções de prédios e nos terrenos à margem os dirigentes republicanos vinham, aos domingos, fazer os comícios de propaganda a que o povo, levado pelos artigos de Magalhães de Lima, no Século e de França Borges, no Mundo, acorria com entusiasmo e expectativa. No alto dos improvisados palanques, os caudilhos objurgavam a Monarquia, condenavam o rei, reclamavam a República!
Nem todos ouviriam o que eles diziam, pois, ao tempo, não havia altifalantes e as palavras perder-se-iam nos grandes espaços. Mas a solidariedade levava os da frente a transmitir de boca em boca, o que eles arengavam. E sempre havia muitas palmas e vivas! 

Avenida D. Amélia, actual Almirante Reis [1908]
Comício republicano; ao fundo, a futura Praça do Chile
Fotógrafo não identificado, in Arquivo Municipal Lisboa

Contava-se, como anedota, que em certa ocasião um ouvinte, dado à chacota, gritou: — Viva a Sardanica! E logo toda aquela gente premiou com aplausos a frase que poucos teriam entendido. 
A polícia nunca intervinha, uma vez que os comícios eram democraticamente autorizados pelo célebre juiz Veiga, zelador da coisa pública apesar de incansável perseguidor dos republicanos.
Vivia-se num ambiente verdadeiramente revolucionário. [2]

Avenida D. Amélia, actual Almirante Reis [1906]
Comício republicano; Igreja de Nossa Senhora da Penha de França.
Joshua Benoliel, in Arquivo Municipal Lisboa

Bibliografia
[1] ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. IV, p. 73, 1938.
[2] DINIS, Calderon, Tipos e Factos da Lisboa do Meu Tempo (1900-1974), p. 35, 1986.

1 comment:

  1. Incredible points. Sound arguments. Keep up the amazing
    work.

    ReplyDelete

Web Analytics