Saturday 31 December 2016

Confeitaria Nacional

1829 — Fundação da Confeitaria Nacional, por Baltasar Rodrigues Castanheiro, situada na Rua da Betesga, então apenas com duas portas. Cerca de 40 anos depois, o filho do fundador, Baltasar Rodrigues Castanheiro Junior, “fez nela importantes melhoramentos”, e inaugurou no primeiro andar “um elegante salão”. Foi também Balthazar Junior que trouxe de França, no séc. XIX, a receita do afamado Bolo-Rei, com base no francês “Gâteau des Rois”.


Em 1872, a Confeitaria Nacional merecia honras de primeira página no Jornal Diário Ilustrado, destacando este estabelecimento como um dos mais “vastos e elegantes  da capital”, fazendo uma resenha do seu historial:
Em 1829 um comerciante probo, o Sr. Balthazar Rodrigues Castanheiro, fundou esta confeitaria, e tinha então duas portas, e ocupava apenas uma parte das lojas; já n'essa época este estabelecimento era dos primeiros, dos mais bem sortidos, e dos mais acreditados do seu género. 

Confeitaria Nacional [1937]
Praça da Figueira esquina com a Rua dos Correeiros

Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Não estava n'esse tempo, entre nós, tão aperfeiçoado o fabrico de gulodices — escrevia o Diário Ilustrado, em 1872 — , ou antes os conventos das freiras quasi monopolizavam as receitas mais especiaes, o que dava em resultado uma concorrencia desvantajosa para a arte de confeiteiro. (...)
Em 1869 falleceu o fundador do estabelecimento de que nos estamos occupando, e succedeu-lhe seu filho, de egual nome, moço que, a uma educação aprimorada, reune as qualidades que podem tornar distincto um industrial da sua especialidade. Dotado d'aquella perspicacia, que sebe segregar ao commerciante intelligente as suas verdadeiras conveniencias, o sr. Castanheiro emprehendeu e realisou n'esse mesmo anno importantes melhoramentos no seu estabelecimento, que ocupa hoje, além das lojas desde nº 57 e 63, uma grande parte do 1º andar, aonde fundou um elegante salão, com gabinetes explendidos.
 N'este pavimento vende no verão, além de todos os refrescos, vinhos especiaes e pastelaria que ali se encontram durante todo o anno, sorvettes de variadas especies, carapinhadas, soda nevada, e a deliciosa bebida gelada a que os espanhoes chamam chufas.
 
Confeitaria Nacional, gravura
in Diário Ilustrado, 22 de Dezembro de 1872
 
A decoração d'este pavimento revella a quem n'elle entra, um bom gosto não vulgar. Uma cascata aonde aqui e ali se destacam conchas, buzios e stalactites de valor; muitos arbustos delicados, em vasinhos de feitios primorosos: bustos em bronze, de personagens historicos, uma elegante mobilia, tudo denuncia um certo bom tom, que, em definitivo, tem ali atrahido as primeiras familias da capital, a quem não foi diffícil comprehender a utilidade de um estabelecimento que em Lisboa é único no seu género.
   É n’este pavimento que o sr. Castanheiro faz hoje uma bonita exhibição de bollos de phantasia, gelados, lampreias, e quanto de mais delicado a sua industria póde produzir, tudo feito nas suas officinas, e destinado a brindes proprios da época; e, como se isto fosse pouco para revellar o quanto procura fazer realçar o seu estabelecimento, uma linda Árvore de Natal, ricamente enfeitada, se ostenta entre aquelles primores de uma arte, que tem por principal missão adoçar a bocca á humanidade.
Em conclusão, o estabelecimento do sr. Balthazar Castanheiro exporta em grande escala para o estrangeiro compotas de todas as qualidades, conservas e fructa christalisada, que fabrica com admirável perfeição, e bem assim vinhos e licores dos mais especiaes. [1]

Factura da Confeitaria Nacional datada de 1 de de Fevereiro de 1872

Em 1871 foi inaugurada na Confeitaria Nacional a iluminação a gás, do qual se gastaram em Setembro 373 m3 a 60 reis cada, fornecidos pela “Companhia Lisbonense d’Iluminação a Gaz”. Com o aluguer do contador (para 50 luzes), pagou-se nesse mês a “elevada” quantia de 22$980 réis.
O prestígio conquistado entre os lisboetas levou a Confeitaria Nacional, em 1873, a pedir o estatuto de fornecedor da Casa Real Portuguesa, declarando ter “bom crédito e reputação comercial”. O estatuto foi-lhe concedido por alvará do Rei D. Luis I. [2]
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Bibliografia
[1] (Diário Ilustrado, 22 de Dezembro de 1872)
[2] (confeitarianacional.com)

4 comments:

  1. Adorei saber a historia. 'E a minha favorita quando vou a Lisboa principalmente agora que ja nao ha a Suica.

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  2. Faço minhas as palavras do comentador anterior.
    Obrigada por esta bela entrada no único blog que ainda sigo com gosto.

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  3. Nasci Angola em 1967. O meu falecido Pai, Português de Vila Real, em 1894. Foi ele quem me deu a conhecer com brilhozinho nos olhos a Pastelaria Confeitaria Nacional que ficava na metrópole, na baixa pombalina, na Capital, Lisboa. Local onde se encontrará com um seu primo para embarcarem para o Brasil.
    Chegada a Lisboa em 1977, devido à guerra colonial, assim que pude dirigi-me à tal Confeitaria de Renome. Algum chegada, percebi o porquê do brilhozinho nos olhos de meu falecido Pai ♥️

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