Friday 15 January 2016

Palácio Távora-Galveias

À esquina da Rua do Arco do Cego — diz Norberto de Araújo — levanta-se um interessantíssimo espécime seiscentista de arquitectura civil portuguesa: o Palácio Galveias. Estão nele instalados o Arquivo, Biblioteca e Museu Municipais.
Delicia-te, Dilecto, na contemplação do portal nobre, até há oito anos armoriado dos Melo e Castros, cujo brasão foi substituído em 1930 pelo das armas da Cidade.

Palácio Távora-Galveias |c. 1915|
Campo Pequeno
José Artur Bárcia, in Lisboa de Antigamente
 
O Palácio Galveias, que possuía uma vasta quinta anexa, desaparecida na urbanização dos últimos trinta anos, pertencia no século XVII aos Távoras. O Palácio com seu logradoiro, foi confiscado em 1759, e passou a novo dono, e no princípio do século passado (1801) ia à praça por dívidas à Fazenda; adquiriu-o D. João de Almeida de Melo e Castro, mais tarde 5.° Conde das Galveias, do qual transitou em 1814 para seu irmão D. Francisco, 6.º Conde, continuando na posse dos Galveias, até que uma sobrinha que o herdou, já no final do século passado, o vendeu ao capitalista Braz Simões.

Palácio Távora-Galveias |1928|
Campo Pequeno
Fotógrafo não identificado,in Lisboa de Antigamente

O Palácio caiu então em abandono de nobreza, e tornou-se, como tantos palácios no coração de Lisboa, um albergue de desvalidos. Não passava de um pardieiro, quando em Março de 1927 se começou a pensar na sua expropriação, com vistas aos seus terrenos da formosa e, então, abandonada quinta, chãos indispensáveis pana o remate oriental das Avenidas Barbosa du Bocage e Elias Garcia, o edifício seria destinado a tribunais e conservatórias. 

Palácio Távora-Galveias, portal principal |c. 1940|
O portal, de feição heráldica, detém uma traça maneirista, sendo ladeado por duas colunas sobre plintos com anéis envolventes. No entablamento, evidencia-se um friso dórico, dispondo ao centro o escudo heráldico de Lisboa (1930), que substituiu o brasão da família Melo e Castro. O remate das colunas relevado, dispõe de cada lado uma pequena peça de artilharia de pedra, presumivelmente evocativas da participação dos Távoras nas guerras da Restauração
António Castelo Branco. iin Lisboa de Antigamente


Em Janeiro de 1928 a Câmara acordou negociações com os proprietários deste resíduo rústico-urbano seiscentista, e que eram os sócios da firma Simões & Simões (Braz Simões, o homem que fundou o Bairro do seu nome a nascente de Almirante Reis).  Em 1929 estava assente que o Palácio, que muitas e quási radicais obras teria de sofrer, seria sede de Arquivo, Biblioteca e Museu. Foi o vogal da Comissão Administrativa da Câmara Municipal, comandante Quirino da Fonseca, o animador e realizador da ideia. E restaurou-se o Palácio, beneficiando de pintura e decorações, mais ou menos felizes; o jardim, trecho do antigo, foi organizado em parque-museu.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XI,V, pp. 69-70, 1939)

Palácio Távora-Galveias, jardim |c. 1939|
Jardim virado à Rua do Arco do Cego e Avenida Barbosa Du Bocage

Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

N.B. Em 5 de Julho de 1931, pelas 18.00 horas, era inaugurada no Campo Pequeno (antigo Largo Dr. Afonso Pena) a nova Biblioteca Central, numa cerimónia solene, com a presença do Presidente da República, Óscar Carmona, ministros, e outros altos dignitários. Juntamente com a Biblioteca, era inaugurado no mesmo espaço o Museu Municipal, com secções numismática e oriental.

2 comments:

  1. a passagem do tempo as mudanças da História/do Mundo...

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  2. O presidente Afonso Pena era um luso descendente filho de gente de Ribeira de Pena. http://www.flc.org.br/revista/materias_viewc574.html?id=%7B78232E73-99B3-44F9-AC7B-ABCEE1E1FF83%7D

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