Monday 31 August 2015

Relógio da Rotunda do Aeroporto

Primitivamente designada por Praça existente no local em que se encontram a Avenida Alferes Malheiro [actual do Brasil], a Avenida do Aeroporto, a Estrada de Sacavém e outros arruamentos, o presente nome foi-lhe atribuído por edital da Câmara de 17 de Fevereiro de 1947. Na reunião de 3 de Fevereiro desse ano tinham sido apreciadas duas informações da Secção de Escrivania da Câmara Municipal de Lisboa, que expunham a conveniência da atribuição de um nome ao prolongamento da Avenida Almirante Reis e que terminava no Aeroporto de Lisboa (actuais Avenida Almirante Gago Coutinho e Alameda das Comunidades Portuguesas) e da praça formada pelo cruzamento desta com a Avenida Alferes Malheiro. Os nomes escolhidos na altura foram Avenida do Aeroporto e Praça do Aeroporto.

Relógio da Rotunda do Aeroporto |1967|
Avenida Marechal Gomes da Costa
João Brito Geraldes, in Lisboa de Antigamente

No centro da praça encontrava-se uma pequena zona ajardinada, cujo tratamento paisagístico incluía um relógio mecânico integrado num mostrador horário feito de plantas. Daí o nome popular de Rotunda do Relógio. Desde a construção de um viaduto de ligação da Segunda Circular à Avenida Marechal Gomes da Costa (prolongamento desta até ao Tejo) quando da realização da Exposição Mundial de 1998, deixou de existir, encontrando-se hoje em dia apenas um elemento escultórico em forma de relógio de pulso voltado a Sul, centrado com o eixo da Avenida Alm. Gago Coutinho. De notar que a posição e orientação do viaduto faz com o mesmo possa ser interpretado como "ponteiros" do relógio.

Café Martinho da Arcada

O Café-Restaurante «Martinho da Arcada» é o mais antigo de Lisboa, pois data de 1782. Era então a «Casa da Neve», mas logo dois anos depois se intitulava «Casa de Café Italiana», e pertencia a Domingos Mignani; pertenceu, já no decorrer adoentado do século passado [XIX], a Martinho Bartolomeu Rodrigues (e dai o nome de Café-Martinho «da Arcada», por oposição ao Martinho, no antigo Largo de Camões, ao Rossio, e que foi fundado, mais tarde, pelo mesmo Rodrigues).

Café Martinho da Arcada |1942|
Praça do Comércio (Terreiro do Paço)
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

 
O estabelecimento, que até há pouco tempo mantinha uma aparência discreta de oitocentos, foi remodelado no ano passado [1937] por Alfredo de Araújo Mourão, seu proprietário desde 1925.
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XII, p. 29. 1939)
 
Café Martinho da Arcada |1922|
Praça do Comércio (Terreiro do Paço)
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
Legenda no arquivo: «Manifestações em honra dos heróicos aviadores, Sacadura [Cabral] e Gago Coutinho»

Este café tornou-se famoso por ter sido frequentado por Fernando Pessoa, mas também teve como clientela Lopes Mendonça, Afonso Costa, Manuel da Arriaga, Bernardino Machado, França Borges, Cesário Verde, António Botto, Augusto Ferreira Gomes e António Ferro. O chamado Grupo do Orpheu assentou arraiais no café e Almada Negreiros aí declamou o seu Manifesto Anti-Dantas.
Em 1782, quando abriu ao público vendia bebidas e sorvetes. Também se adquiriam neste estabelecimento os bilhetes para as seges que faziam o percurso entre o Terreiro do Paço e Belém.
Este café foi classificado imóvel de interesse público.

Café Martinho da Arcada |c. 1914|
Praça do Comércio
Charles Chusseau-Flaviens, 
in Lisboa de Antigamente
Nota(s): O local não se encontra identificado pelo fotógrafo.

Palácio dos Arcos

Apesar de o Palácio dos Arcos ser muitas vezes associado à constante presença de D. Manuel I, o Venturoso e sua filha, nesse local, há ainda um outro facto que o faz ficar ligado eternamente à história de Portugal. Reza a tradição que foi das varandas do Palácio dos Arcos que D. Manuel I viu partirem as naus e caravelas portuguesas a caminho da Índia. Mais tarde, também outros reis de Portugal (D. Fernando, D. Luís e a rainha D. Maria Pia) se deslocavam constantemente a este Palácio para, entre outras coisas, poderem assistir às célebres regatas de Paço de Arcos.

Palácio dos Arcos |c. 1919|
Largo da Alcáçovas; Rua Costa Pinto
Garcia Nunes, in Lisboa de Antigamente

O Palácio dos Arcos foi construído nos finais do século XV, pertencendo inicialmente a Antão Martins Homem que era o segundo capitão da Vila da Praia. Mais tarde, o Palácio dos Arcos viria ser reedificado, durante o século XVIII. No ano de 1698, D. Teresa Eufrásiade Meneses criou o morgadio de Paço de Arcos, do qual o Palácio dos Arcos fazia parte.
Depois, D. Teresa Eufrásia de Meneses, passou a deixar o legado do morgadio a D. Jorge Henriques, o Senhor das Alcáçovas. Muitos anos depois, o Palácio dos Arcos foi adquirido pela família Lencastre, cujo brasão ainda se encontra exposto na varanda do edifício. Da estrutura inicialmente edificada, o Palácio dos Arcos conserva ainda os dois torreões unidos por uma larga varanda que é sustentada por três arcos. O Palácio dos Arcos mantém ainda uma capela com um altar barroco, que foi dedicado desde o início a Nossa Senhora do Rosário. Actualmente o monumento é  um hotel de charme.  
(in historiadeportugal)
 
Palácio dos Arcos |c. 1940|
Largo da Alcáçovas; Rua Costa Pinto
António Passaporte, in Lisboa de Antigamente

Sunday 30 August 2015

Abrigo e bilheteira do Ascensor da Glória

Fazendo a ligação entre a Av. da Liberdade/Restauradores e a Rua de São Pedro de Alcântara/Bairro Alto é, actualmente, o ascensor mais movimentado da cidade, transportando cerca de três milhões de passageiros por ano. Construído pela Companhia dos Ascensores Mecânicos de Lisboa, segundo projecto de Mesnier du Ponsard, e inaugurado em 1885, foi, entre os elevadores de Lisboa, o pioneiro da tracção eléctrica, instalada em 1914.

Ascensor da Glória |1927|
Calçada da Glória; Rua das Taipas, tornejando para o Largo da Oliveirinha; Travessa do Fala-Só
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente
 
Inicialmente, locomovido por contrapeso de água, recorreu, mais tarde, ao vapor, enquanto que as viagens nocturnas eram iluminadas por velas de estearina. Construído por dois carros, ligados por um cabo subterrâneo,que sobem e descem alternada e simultaneamente ao longo de duas vias de carris de ferro, foi o único que proporcionou aos utentes lugares no tejadilho - a chamada «Imperial» - onde se acedia por uma escada de caracol. Em 1926 tornou-se propriedade da Carris. O Ascensor da Glória e o meio urbano que o envolve está classificado como Monumento Nacional.

Ascensor da Glória |1931|
Calçada da Glória; Rua das Taipas, tornejando para o Largo da Oliveirinha; Travessa do Fala-Só
Eduardo Portugal,
in Lisboa de Antigamente

Saturday 29 August 2015

Praça da Alegria: a Feira da Ladra e o Palácio Azul


A razão porque se chama «da Alegria» não a sei — diz Norberto de Araújo — , nem creio que alguém a conheça. Matos Sequeira, que muito estudou (não se limitou a apontar) estes sítios, não nos diz algo; conjectura. Por o local ser ameno, lavado de ares, ridente por natureza?

 

Eu lembro que as designações de sítios partiam quasi sempre de lindas invocações religiosas, tal a «Glória», a «Estrela». Ora eu adquiri, há anos, uma imagem de N.ª Sr.ª da Alegria, e que bem pode corresponder a uma invocação pessoal, caprichosa, pois «Alegria» não consta dos oragos de qualquer região do país. Mas também pode suceder que a poética religiosa se comprazesse numa invocação, que não chegou até nós em documento vivo.

 
A Alegria, pois, é posterior ao Terramoto; a razão porque a Basílica de Santa Maria Maior era a detentora de grande parte dos domínios directos por aqui, não a sei. Lisboa está cheia de lapides foreiras à «Basílica», a «S. M. M.», à «Sé».
Os prédios por aqui datam, os mais antigos, do princípio do século passado, ou da agonia do século XVIII, e a maioria deles são de 1840-1850. [...]
Cabe aqui dizer-te, Dilecto, ou lembrar-te, que um tempo houve — ainda isto por aqui mal povoado andava (em 1778 havia apenas oito prédios formais de feição pombalina) — em que este largo ou praça se chamou «do Suplício». Uma certa Dona, Izabel Xavier Clesse, além de atraiçoar seu marido, o marchante Tomaz Goilão, lembrou-se de - o envenenar. Foi neste local enforcada em 31 de Março de 1771. O povo durante três anos designou a Praça pelo sucesso que a infamara; depois, esqueceu-se.

Palácio Azul Praça da Alegria, Feira da Ladra na (1809-1818) da autoria de Nicolas Delerive
Actualmente no Museu Nacional de Arte Antiga

Oferece uma certa curiosidade na sua fisionomia e desenho o prédio do lado nascente, caindo sobre o Sul, n.°' 9 a 11, no qual está instalada a esquadra da Polícia «da Alegria» que teve há anos a sua sede na Rua das Portas de Santo Antão. Foi este o famoso «Palácio Azul», de que muito se falava (apenas por estar pintado de azul) há cem anos. Construiu-o, pouco mais ou menos em 1796, D. Álvaro de Távora, Conde de S. Miguel, que casou com D. Luiza de Pilar de Noronha, filha dos Condes dos Arcos; em 1832 foi Quartel do Estado Maior General, e no ano seguinte sede dos Conselhos de Guerra. Em 1840 pertencia a propriedade ao Barão de Alrneirim, pai de Anselmo Braamcamp Freire, que nesta casa nasceu; em 1845 sofreu transformações que não lhe alteraram o curioso semblante. E ai está hoje quasi como há cem anos, no seu exterior.==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. XIV, p. 29, 1939)

[Inscrição na gravura] «Vista da antiga praça da Alegria, com a feira da ladra; aguarela comprada* por 1:000 reis ao saloio Aniceto da quinta das Córtes aos Olivaes em 22 de Fevereiro de 1882.»
*terá sido adquirida pelo Visconde Júlio de Castilho (nota consta no AML)

Ainda de acordo com o mesmo autor «a Feira da Ladra (ou da Lada?), é um mercado lisboeta que remonta ao século xII, e cuja avó foi aquela que se realizava, um dia por semana, no Chão da Feira, ao Castelo, com carácter muito diverso do que oferece hoje. Em 1430 estava no Rossio; onde perdurou até ao Terramoto, passando depois para as antigas hortas de Valverde (Praça da Alegria de Cima, imagem acima), mas irradiando depois, por abuso dos feirantes, até aos Restauradores de hoje. Em Fevereiro de 1823, transferiram-na para o Campo de Sant'Ana, de onde após cinco meses de mal contente pousio voltou para o Passeio Público (Alegria). Em Maio de 1835, tomou para Sant'Ana, onde esteve até Abril de 1882, que foi quando a Câmara a fez rodar para o Campo de Santa Clara, por poucos dias, é certo, pois os feirantes protestaram, talvez por ficar longe, tornando a Feira a Sant'Ana. Finalmente —  decorridas apenas algumas semanas — em l de Julho de 1882, velha Feira da Ladra teve em definitivo seu lugar marcado neste sítio, e em Santa Clara se conserva desde há cinquenta e sete anos [cento e quarenta] .==
(ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol. VIII, pp. 72-73, 1938)
 

Palácio Azul |1968|
Praça da Alegria, 9-11
«Hoje há-as de todas as cores, desde o amarelo-canário ao verde-salsa, e ninguém faz disso
maior reparo. Num anúncio de 1836, lê-se :
«Vende-se uma parelha de cavalos de sege e traquitana que se podem ver na praça da
Alegria, nas «cavalariças do Palácio Azul, e ajustar com o dono na «rua nova da
Alegria n.° 11, 2.° andar».
Armando Serôdio, in Lisboa de Antigamente

Friday 28 August 2015

Elevador de São Julião

O elevador do Município, também conhecido como elevador da Biblioteca ou elevador de S. Julião, foi o sétimo elevador a ser construído em Lisboa. A sua construção foi financiada pelo Dr. João Maria Ayres de Campos. O seu autor foi o famoso Eng. Raoul Mesnier de Ponsard, o mesmo do Elevador de Santa Justa. À semelhança deste último, também subia na vertical a uma altura de 29,6 metros até ao primeiro pavimento, do qual saía um viaduto à altura de 20 metros sobre a Calçada de São Francisco. Foi Inaugurado em 1897 e funcionou até 1915 e a estrutura foi desmantelada em 1920¹, sendo substituído pelo carro eléctrico da Rua da Conceição – Calçada de São Francisco - Camões.

Elevador de São Julião [post. 1920]
Calçada de São Francisco
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente

A entrada fazia-se pela porta de uma residência particular, o n.º 13 de Largo de S. Julião, e a saída fazia-se igualmente por outra residência particular, pelo terraço do Palácio do Visconde de Coruche, no então Largo da Biblioteca (hoje Lg. Academia de Belas-Artes, 13).
 
¹ O processo de desmontagem — à boa maneira portuguesa — foi sendo protelado, e como comprovam as imagens, em 1932 ainda estava em pé, se bem que inoperacional. O ferro foi vendido para sucata e aproveitado para fabrico de ferraduras para alimárias.

Torre Elevador de São Julião [1932]
Largo Academia de Belas-Artes
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Este elevador ficou ligado à intentona de 28 de Janeiro de 1908, conhecida como Golpe do Elevador da Biblioteca, em que conspiravam carbonários, republicanos e dissidentes progressistas. Foram presos António José de Almeida, Afonso Costa, Álvaro Poppe e mais suspeitos, num total de noventa e três conspiradores.

Alçados do project do Elevador de São Julião [s.d.]
Dois alçados do projecto da instalação de um ascensor com uma passadeira metálica superior que liga o Largo da Biblioteca Pública com a Praça do Município. O primeiro alçado [esq.] é descrito como: "vista em elevação perpendicularmente a um plano contendo os eixos das duas torres". Ao nível do Largo do Município está escrito: "casa das máquinas de gás e das bombas", que aparece representada no respectivo alçado. Também estão indicados: nível do Largo da Biblioteca; o 4º andar da habitação da sra. Street (nível a que passa uma passadeira metálica que liga as duas torres); Calçada de S. Francisco; nível do Largo do Município; 29.50 m (altura a que está instalada a passadeira superior). O segundo alçado é descrito como: "vista em elevação segundo uma linha que passa pelo eixo das duas torres". Também estão indicados: nível do Largo
da Academia de Belas-Artes; Calçada de S. Francisco; nível do Largo do Município; o 4º andar da habitação da sra. Street.
 in Ascenseur Município-Bibliotheca á Lisbonne [Material cartográfico]

Calçada de São Francisco

Esta Calçada começa no Largo da Academia Nacional de Belas Artes e vem em declive bastante acentuado até à Rua Nova do Almada onde termina. É terceira calçada mais íngreme em Lisboa que «deixa até os motores dos eléctricos a rebentar pelas costuras» (Appio Sottomayor).

Calçada de São Francisco [c. 1953]
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

A Calçada de S. Francisco relembra o primeiro convento de franciscanos em Lisboa chamado de «S. Francisco da Cidade», que se situava no antigo Monte Fragoso, como era conhecida a colina sobranceira ao Tejo. Este convento, como o próprio nome indica, era bastante vasto, indo desde a Rua Capelo ao Largo da Academia Nacional de Belas Artes e da Rua Ivens à Rua Serpa Pinto. Dois incêndios destruíram parcialmente o convento e o terramoto de 1755 acabou por o arrasar completamente. [in cm-lisboa.pt]

Calçada de São Francisco [c. 1953]
Judah Benoliel, in Lisboa de Antigamente

Thursday 27 August 2015

Rua dos Fanqueiros

Esta rua denominava-se Rua da Princesa antes Rua Nova da Princesa (decreto de D. José, 5 de Novembro de 1760) e nela ficaram arruados os «Mercadores de Lançaria ou Fancaria, destinando-se os sobejos della se os houver, às lojas de quinquilharia.»

Rua dos Fanqueiros |1947|
Eduardo Portugal, 
in Lisboa de Antigamente
Rua dos Fanqueirosesquina com a Rua de Santa Justa |1947|
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Panorâmica da zona da Alameda D.Afonso Henriques

Encimada pelos edifícios do Instituto Superior Técnico a Alameda D. Afonso Henriques, com 120 metros de largura, desce num vale e subindo novamente fecha condignamente com a Fonte Monumental. Ao longo dela ergueram-se, entre os anos 1936 e 1946, um conjunto de blocos de habitação. A Fonte Monumental além de valorizar os edifícios do Técnico, vinha proporcionar um excelente miradouro da obra realizada.

Panorâmica da zona da Alameda D. Afonso Henriques [post. 1929]
Em último plano, o Instituto Superior Técnico e, mais abaixo, a Av. Almirante Reis.
Pardal Monteiro, in AML

 
O conjunto arquitectónico do IST, foi concebido como uma "Acrópole" sobre o vale da avenida Almirante Reis e num dos extremos da Alameda Dom Afonso Henriques. O arquitecto foi Porfírio Pardal Monteiro, tendo sido inaugurado em 1935. O conjunto dos sete edifícios é exemplo importante do Modernismo Português e representa uma segunda fase na obra de Porfírio Pardal Monteiro onde a simplificação das formas e quase ausência de ornamentação são características fundamentais.

N.B. Dom Afonso Henriques, monarca português (c.1108-1185), foi o primeiro rei de Portugal, governou entre 1128 e 1185. Era filho de D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa de Aragão. Em 1128, no campo de S. Mamede (Guimarães), venceu os partidários de sua mãe e assumiu o governo. Em defesa do trono conquistou Santarém (1147) e, com a ajuda dos cruzados, a cidade de Lisboa (1147). Alargou depois as suas conquistas a Évora e a Beja.

Wednesday 26 August 2015

Calçada do Carmo

«A Calçada do Carmo, que foi Calçadinha do Carmo, rasgou-se na encosta dos terrenos do Convento, para onde as habitações dos Carmelitas tinham face poente.É uma rampa, onde de pitoresco - vulgar pitoresco - existe apenas esse Beco da Ricarda que em cotovelo morre na Rua do Duque.»
in «Peregrinações em Lisboa», Norberto de Araújo, vol. VI, p. 79)

A «Ginginha», Calçada do Carmo, 37-A [1945]
Fernando Martinez Pozal, in AML

A «Ginginha» da Calçada do Carmo abre as suas portas em Lisboa em meados dos anos 30, propriedade de Abílio Teixeira. Funcionou desde os anos 30 até aos anos 60 do século passado. Este estabelecimento colocava à disposição dos seus clientes produtos ao gosto dos lisboetas, durante mais de três décadas. Entre eles contam-se o licor de ginja, vinhos, vinhos generosos, e refrescos.

Calçada do Carmo [1945]
Calçada do Duque
Fernando Martinez Pozal, in AML

Sobre a origem do topónimo Calçada do Duque e da Rua do Duque afirma o olisipógrafo Luís Pastor de Macedo o seguinte: «A Rua da Condessa de Cantanhede, freguesia do Sacramento, (...) é a actual Rua do Duque, depois de ter sido também designada Rua de D. João Coutinho e Rua dos Galegos. Um fidalgo de primeira plana começa a aglomerar propriedades. É o Conde de Cantanhede, D. Pedro de Meneses, Alferes-mor de D. Manuel, senhor de Tancos e de Atalaia. Compra as casas que Rui de Sousa Cid adquirira a Leonardo Àlvares e, em breve o veremos adquirir outras propriedades próximas, na rua que ia do Postigo para o Carmo, e que veio a chamar-se mais tarde, pelo nome da sua terceira mulher, a Condessa de Cantanhede D. Guiomar. Foi assim que nasceu a rua, sucessivamente chamada de D. João Coutinho, dos Galegos, e do Duque».  in «Lisboa de lés-a-lés»

«Café Lisboa-Bar»,  Calçada do Carmo [1967]
Inicio da Calçada do Duque
Vasco Gouveia de Figueiredo, in AML

Tuesday 25 August 2015

Beco de São Miguel, antigo Beco dos Mortos

«Como as casa são apertadas e escuras, aquela gente vive na rua. D'ai a legião enorme de garotos, semelhante a formigueiros, que enxameia o bairro. Trabalha-se, cozinha-se, lava-se e cose-se á porta de casa. [...] No pateo do Penereiro, por exemplo, um sapateiro batia sola sobre o joelho, duas mulheres, sentadas no lageado, remendavam uma vela de lona, emquanto uma outra ainda estendia nas cordas alguns trapos encardidos. No beco do Almotacé, nas soleiras das portas, as mulheres cozinhavam e cosiam, cantando e conversando umas com as outras.»
(in Lisboa miserável. Como se vive em Alfama. Uma visita áquele centro domiciliario de operarios miseravelmente pagos, de vagabundos,famintos e gatunos. (in O Século, Lisboa, p. 1, 21 ago. 1912)

Beco de São Miguel |c. 1910|
Crianças em Alfama
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente

E Beco dos Mortos porquê?
S. Miguel Arcanjo que significa: "Quem como Deus?" é o defensor do Povo de Deus no tempo de angústia, o padroeiro da Igreja universal e aquele que acompanha as almas dos mortos até o céu.
[contributo do nosso leitor João Sales Pinot]

Beco de São Miguel |1899|
Escadinhas de São Miguel (dir.)
Machado & Souza,
in Lisboa de Antigamente

Inauguração do Monumento ao Duque de Saldanha

No ano de 1889, no reinado de D. Luís, foi decretado pelas Cortes Gerais o “levantamento” de um "monumento" em homenagem a João Carlos Gregório Domingos Vicente Francisco de Saldanha de Oliveira Daun (1790-1876), 1.º conde, marquês e duque de Saldanha.
Esta estátua colossal foi inaugurada apenas em 1909, pelo rei D. Manuel II, na presença de descendentes do duque de Saldanha, do vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Anselmo Braamcamp Freire, de vereadores, dos membros da comissão encarregue de erigir a obra e outras individualidades.
Esta peça, cuja parte escultural é de Tomás Costa e a arquitectónica de Ventura Terra, é composta por um pedestal quadrangular concebido em calcário de lioz, ladeado por colunas com capitéis canelados. Na parte superior desta estrutura assenta a estátua pedestre, em bronze, do marechal e duque de Saldanha, representado em uniforme militar completo, numa postura enérgica e vigorosa, própria de um chefe militar.

Praça Duque de Saldanha |1909|
Inauguração do monumento ao Duque de Saldanha
Paulo Guedes, 
in Lisboa de Antigamente

Na face frontal do pedestal está colocada uma estátua alegórica “vitória alada”, em bronze, empunhando uma espada. Nas outras faces existem outros elementos decorativos, entre eles, o Brasão Real, rodeado por uma coroa de ramos de louro e carvalho; três medalhões simbólicos, referentes à vitória na Guerra Peninsular (1808-1814), às Campanhas de Montevideu (1816-1823) e às Campanhas da Liberdade (1826-1834); assim com três festões de folhas.
As esculturas e todos os elementos ornamentais em bronze foram executados na fundição de canhões do Arsenal do Exército entre 1904 e 1907. [cm-lisboa.pt]

Praça Duque de Saldanha |1909|
Inauguração do monumento ao Duque de Saldanha
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente

Monday 24 August 2015

Companhias Reunidas de Gás e Electricidade e Fábrica de Gás da Boavista

Com armazéns arrendados na «Praia da Boavista» desde 1847, a «Companhia Lisbonense de Iluminação a Gaz» possuía, em 1852, cinco gasómetros e duas baterias de fornos. Entre 1875 e 1877 mandou construir a fachada neogótica que ocultava as instalações da fábrica do lado do Aterro da Boavista. 
 
A Companhia Lisbonense de Iluminação a Gaz (fábrica da Boavista) e a Companhia Gaz de Lisboa (fábrica em Belém) fundem-se, em 1891, passando a designar-se Companhias Reunidas de Gás e Electricidade - C.R.G.E., Inicia-se, assim, um ciclo de produção de gás de cidade, igualmente conhecido como gás iluminante, que vem beneficiar a população, melhorando as suas condições de vida em vários níveis.
 
Companhias Reunidas de Gás e Electricidade [193-]
Avenida 24 de Julho
Kurt Pinto, 
in Lisboa de Antigamente
Companhias Reunidas de Gás e Electricidade [Inicio séc. XX]
Avenida 24 de Julho
Fotógrafo não identificado, 
in Lisboa de Antigamente

A iluminação a gás inaugurou-se em Lisboa em Julho de 1848, com os primeiros 28 candeeiros, nas ruas da Baixa (Rua dos Capelistas [hoje do Comércio], Rua do Ouro e Rua da Prata), no Chiado, na Rua do Alecrim, no Cais do Sodré, em S. Paulo e na Boavista.  
[in Lisboa: histórias e memórias, Maria João Janeiro, 2006, p. 130]
 
Panorâmica sobre o rio Tejo, vê-se a fábrica de Gás da Boavista [1906]
Avenida 24 de Julho
Fotógrafo não identificado, 
in Lisboa de Antigamente

No dia 10 de Outubro  de 1914 uma violenta explosão na casa das caldeiras da Fábrica do Gás, localizada na Rua da Boavista, provocou 18 mortos, cerca de 60 feridos e elevados danos materiais. Este trágico acontecimento deu origem a severas críticas acerca da localização de tão perigoso equipamento numa zona tão densamente povoada da cidade.
A cobertura que a revista Ilustração Portuguesa deu a este acontecimento pode ser aqui revisitada.

Rua da Boavista [1914]
Incêndio no edifício da Companhia de Gás e Electricidade
Joshua Benoliel, 
in Lisboa de Antigamente

Sunday 23 August 2015

Observatório Astronómico do Paço da Bemposta

Também conhecido por posto astronómico e geodésico da escola de guerra, ou simplesmente como era conhecida a torre do relógio, situava-se em frente ao Paço da Bemposta,  ou o palácio da Rainha D. Catarina de Inglaterra, que no século XIX era a antiga escola do exército e da Guerra, hoje Academia Militar.
Esta escola tinha funcionado na Politécnica mas em meados do século XIX foi transferida para este novo espaço e houve a necessidade de se construir um observatório astronómico para se complementarem os estudos científicos dos futuros militares.
 
Paço da Rainha [c. 1910]
Antigo Largo da Escola do Exército, antes Largo General Pereira de Eça
O relógio, cujo grande disco, praticado no lado da torre comum com o alinhamento
da rua, é um belo espécime do nosso século XVIII, trabalhou e trabalha muito bem.
Joshua Benoliel, in Lisboa de Antigamente
 
De planta quadrada, no seu interior uma escada em caracol dá acesso ao primeiro andar, onde se encontra o relógio e o seu mecanismo, seguindo-se um segundo e terceiro andar e a cúpula onde se faziam as observações astronómicas.
Actualmente inactivo faz parte do património do Exército e mais concretamente da Academia Militar.(exercito.pt)

Igreja e Convento de Nossa Senhora da Penha de França

A primeira ermida (Alto da Penha de França) com esta invocação surgiu na sequência de um voto efectuado em Alcácer Quibir pelo imaginário António Simões. A sua construção iniciou-se em 1597-98. Em 1601 foi entregue aos eremitas calçados de Santo Agostinho. Entre 1625 e 1635 foi edificado um novo templo, em substituição do anterior. No século XVIII a igreja sofre nova campanha de obras, concluídas em 1754 que ficariam bastante danificadas pelo terramoto no ano seguinte, sendo de seguida reconstruída com o apoio do marquês de Marialva. Já no século XX passa a Igreja Paroquial. 

Panorâmica da Penha de França tirada da Rua Morais Soares [Início séc- XX]
Paulo Guedes, in Lisboa de Antigamente
 
A fachada principal da igreja, toda em cantaria de calcário, desenvolve-se em 3 planos e 3 corpos distintos, marcados por dois contrafortes com pequenos nichos. No corpo central, vazado situa-se a escadaria monumental de acesso ao templo. Sobre o vão rematado com arco abatido, e ao nível do 3º piso janela de sacada que abre para bacia com balaústres, suportada por mísulas. O conjunto e encimado por cartela com emblema da Ordem de Santo Agostinho. Ao nível dos corpos laterais, portas de verga recta no embasamento, sobrepujado por vão em arco de volta perfeita e grande janela no 3º piso. No enfiamento do plano central, pano de muro vazado por óculo sendo o conjunto rematado por frontão triangular, coroado com cruz de ferro e fogaréus de cantaria, sobre acrotérios. O acesso ao interior faz-se através de escadaria, que acede ao nartex.

Largo da Penha de França [1949]
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

O interior é de planta axial. A nave possui altares laterais (3 de cada lado) intercalados por portas e janelas de peito, no nível superior. Púlpitos em cantaria e cobertura efectuada por abóbadas com trabalho em estuque e pintura. Na fachada tardoz torre sineira e grande registo de azulejo. Por sua vez, a construção do Convento data do século XVII sendo Teodósio de Frias o arquitecto responsável pelo seu traçado. Em 1700 possuía 40 religiosos. O edifício conventual situa-se contiguamente ao alçado principal da igreja, organizando-se em 3 andares separados por frisos de cantaria. Ao nível do piso térreo, vãos de portas e janelas, que nos superiores passam a janelas rectangulares de verga destacada, que no último piso são de menores dimensões e sobrepujadas por óculos. Possui claustro rectangular, com arcos de volta perfeita ao nível do piso térreo, e janelas de sacada de verga recta no sobre claustro. O convento possui grande variedade de revestimentos azulejares, com exemplares desde o século XVII, policromados, século XVIII com painéis historiados e de figura avulsa. Destaca-se o revestimento da antiga cozinha conventual. Como a igreja, todo o conjunto sofreu danos em consequência do terramoto de 1755. 
A Igreja e edifício do antigo Convento de Nossa Senhora da Penha de França, incluindo o seu património integrado encontram-se Em Vias de Classificação. [cm-lisboa.pt]

Largo da Penha de França [1949]
Estúdio Mário Novais, in Lisboa de Antigamente

Saturday 22 August 2015

Pátio (Quinta) do Biaggi, às Amoreiras

Leite de Vasconcellos (1858-1941), na sua "Etnografia Portuguesa", fala-nos assim dos chamados bairros operários:
Desprovidos quase sempre de qualquer tipo de instalações sanitárias e de abastecimento de águas, os pátios não dispunham de condições de salubridade mínimas, ao que acrescia a sua localização térrea, exposta assim às humidades, e à ausência de radiação solar, por se encontrarem ensombrados, muitas vezes em caves atrás de prédios.

Pois sigamos — para trás. À esquerda sai-nos agora a Travessa do Barbosa, que conduz ao Pátio do Biagi, com saída ou entrada (conforme nos orientarmos) pela Rua das Amoreiras, pátio que é coevo de fundação da Fábrica das Sedas. [Araújo: 1038]

Pátio (bairro) do Biaggi, às Amoreiras [ant. 1930] 
Biaggi (ou Biagi), nome do primitivo dono ou fundador, e que parece italiano.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente


Este pátio do Biagi ou Biaggi, nome do primitivo dono ou fundador é um dos maiores de Lisboa: principia na Rua das Amoreiras, n.° 73, por uma escadaria, e termina na travessa, antigo beco do Barbosa, que em cima vai ter á Rua de S. João dos Bem-casados [actual Rua Silva Carvalho]. A numeração das casas, que são em grande parte baixas («lojas»), vai do cimo das escadas, em diante, de n.° 1 a 104 ou pouco mais, o que representa outras tantas famílias. As rendas são pagas aos descendentes do fundador do pátio. Existem lá dentro várias ruas, anónimas, dois largos, uma taberna (indispensável!), e um lugar de hortaliça. Quasi um bairro

Pátio (bairro) do Biaggi, às Amoreiras [ant. 1930] 
... mastros que servem agora para se estender a enxugar roupa  lavada (ou suja!).
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

A miséria é porém extrema, e pululam por toda a parte inúmeras crianças, que logo se acercam, movidas de curiosidade, dos forasteiros que vão ao pátio. Numa das visitas que lhe fiz depararam-se-me num dos largos uns restos de mastros que me disseram serem de antigos festejos do S. João, mastros que servem agora para se estender a enxugar roupa  lavada (ou suja!).
[Leite de Vasconcellos, Etnografia Portuguesa, vol. II, 1936]

Panorâmica tirada da Mãe de Água sobre as terras do Biaggi [1944]
 O Inquérito aos pateos de Lisboa aponta no pátio do Biaggi 88 «lojas» e 17 primeiros andares: ao todo 105.
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Na segunda metade do século XIX os «pátios» tornaram-se uma forma dominante de habitação popular em Lisboa. Em 1905 havia 233 «pátios» em Lisboa, com um total de 2278 habitações e alojando 10487 pessoas. 
[Caeiro da Matta-Estudos Económicos e Financeiros III, Habitações Populares, Imprensa da Universidade Coimbra, 1909]

Panorâmica tirada da Mãe de Água sobre a Quinta do Biaggi vendo-se a abertura da futura rua Dom João V [1943]
 O Edital de 22 de Junho de 1948 atribuía os topónimos aos novos arruamentos à Rua das Amoreiras, homenagem que incidiu nas seguintes personalidades: Dom João V (Rua A), Custódio Vieira (Rua B), Dom Tomás de Melo Breyner (Rua C) e Cláudio Gorgel do Amaral (Rua D). 
Eduardo Portugal, in Lisboa de Antigamente

Friday 21 August 2015

Livraria Bertrand

 «Viúva vestida de seda preta geriu livraria no século XVIII»

 
Uma mulher a conduzir o destino de uma livraria no final do século XVIII não será o mais habitual na história literária, mas aconteceu em Lisboa, naquela que ostenta hoje o título de mais antiga do mundo. Invariavelmente vestida de seda preta, Marie Claire Rey Bertrand passou a liderar, sob a designação «Viúva Bertrand e Filho», o negócio de família depois da morte do seu marido, Jean Joseph.

Livraria Bertrand [séc. XIX]
Rua Garrett
 Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Em 1753, o francês formara com o seu irmão, Pierre, a sociedade «Irmãos Bertrand», herdeira do estabelecimento fundado 21 anos antes por Pedro Faure na Rua Direita do Loreto [actual do Loreto], em Lisboa. Mais de 280 anos depois, a Bertrand mantém-se no Chiado – na Rua Garrett.

Por ali passaram e ficaram, em conversa de amigos ou em acesas tertúlias, Alexandre Herculano, Oliveira Martins, Eça de Queirós, Antero de Quental e Ramalho Ortigão.
Em 2011, o Guinness World Records reconheceu a Livraria Bertrand do Chiado como a mais antiga do mundo em funcionamento.(in Bertrand Editores; DN-Inês Banha)

Livraria Bertrand [c. 196-]
 Rua Garrett
Fotógrafo não identificado, in Lisboa de Antigamente

Quinta da Rabicha: o «passeio às hortas»

Nesta quinta, que pertenceu à família do conselheiro Hintze Ribeiro, Presidente do Conselho no reinado de Dom Carlos, existia um dos famosos "retiros das hortas", particularmente celebrado por Bulhão Pato, Fialho de Almeida, entre outros. O passeio às hortas, ao domingo, era um hábito dos lisboetas e aí confraternizavam nobres e fadistas.

Quinta da Rabicha [c. 1900] 
Aqueduto das Águas Livres e ponte da Rabicha
Ficava debaixo do arco grande do Aqueduto e foi cortada pelo caminho-de-ferro de Sintra que ali chegou em 1885, 
chegou a Campolide em 1895.
José Artur Bárcia, in AML
 
Para Norberto de Araújo, que também aqui nos acompanha, «o Aqueduto das Águas Livres é um monumento grandioso, só igual aos da antiga Roma. E é a Rabicha». Sem a Rabicha, diz Araújo, o Aqueduto «ficaria privado do seu fundo natural e ridente», do panorama «rústico e bucólico» onde «se escondem restos de retiros campestres, ainda vestidos de junquilhos».

View and plan of the great aqueduct of Lisbon
O Aqueduto de Lisboa sobre a Ribeira de Alcântara
Em baixo observa-se uma cena onde decorre um piquenique no qual, uma mulher que parece dançar e cantar, é acompanhada  à viola. Um passeio às hortas?
Gravura a buril e água-forte sobre papel da autoria do pintor de origem suíça Henry L’Évèque (1769-1832)

Eis o que nos relata, sobre esta quinta, Bulhão Pato nas suas «Memórias»:
«[...] Quinta da Rabicha era pequena e em forma de triângulo. Toda colmada de um odorífero e viçoso pomar, que dava primorosas laranjas. Água abundante e corrente. [..]
«Na Rabicha, o sumptuoso hotel, ao ar livre, debaixo de um parreiral, ao pé do tanque, sempre transbordando de água, fornecia as pescadinhas de rabo na boca, ovos duros, queijo saloio, pão de Belas, alface repolhuda, a verdadeira alface lisboeta, que nem a de Rom lhe dá de rosto. Era um banquete. Um cruzado novo — 480 réis — sobrava para quatro homens comerem e beberem à farta.» 

Nora da Quinta da Rabicha, lavadeiras [c. 1912] 
Ao fundo observa-se o Bairro de Campolide
Paulo Guedes, in AML

Bibliografia
PATO, Bulhão, «Memórias», pp. 67-68, 1894

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